DEFESA EM EXPANSÃO

Gastos militares batem recorde

Instituto britânico constata, pelo terceiro ano consecutivo, aumento de despesas global no setor, apesar dos impactos financeiros generalizados da pandemia do novo coronavírus. Investimentos chegaram a US$ 1,3 bilhão

Correio Braziliense
postado em 25/02/2021 21:53 / atualizado em 25/02/2021 21:53
 (crédito: Delil Souleiman/AFP)
(crédito: Delil Souleiman/AFP)

A pandemia do novo coronavírus e a consequente crise econômica global não inibiram os gastos militares mundiais, que bateram um novo recorde em 2020, embora com percentual inferior ao registrado no ano anterior. Segundo relatório divulgado ontem pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), especializado no assunto, os investimentos alcançaram US$ 1,8 trilhão (em torno de R$ 9,95 trilhões) no período, ou seja, uma alta de 3,9%.
“Vários países ajustaram seu orçamento militar para redirecionar seus fundos a ajudas contra a crise ou a medidas de apoio à economia”, assinalou o instituto britânico no documento. “No entanto, vários outros simplesmente reduziram ou adiaram o aumento dos gastos previstos, em vez de cortá-los”, acrescentou.
Foi o terceiro ano consecutivo de alta de gastos, ainda que de forma mais tímida. Em 2019, foi registrado um aumento de 4% das despesas, o maior percentual em 10 anos, em meio a crescentes rivalidades entre as grandes potências.
De acordo com o IISS, os Estados Unidos permanecem na liderança dos gastos, sendo responsáveis por 40,3% do total — cerca de US$ 738 bilhões (R$ 4,19 trilhões). Em seguida, aparece a China, impulsionada, em parte, pela aposta na expansão naval como estratégia de prevalência no mar do Sul da China.
Ainda assim, os investimentos foram bem menores do que os dos americanos. Pequim acumulou despesas no montante de US$ 193,3 bilhões (aproximadamente R$ 1 trilhão), o equivalente a 10,6% do valor global.
Os gastos militares de Pequim, observa o estudo, fomentaram o crescimento das despesas gerais de defesa da Ásia, representando 25% do valor investido no continente. Em relação ao ano anterior, apesar da tendência de alta ter se mantido, o ritmo foi um pouco menor (+4,3%, contra +4,6% de 2019).
Ameaça

A despesa total da defesa europeia, por sua vez, cresceu 2% em termos reais em 2020, a despeito da forte recessão que atingiu as principais economias do continente por causa da crise sanitária. Para o IISS, uma forma de tentar fazer face à Rússia, encarada como ameaça crescente desde a anexação da Crimeia, em 2014. Moscou, a despeito da crise, não retrocedeu em seu programa de modernização de armamento.
O documento mostra, porém, que muitos países integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ainda estão distantes da meta de destinar 2% do PIB (Produto Interno Bruto) para o setor, em desacordo ao estabelecido pela aliança em seu regulamento.
“O compromisso de países (como a França, Reino Unido, Alemanha e Itália) em aumentar os seus orçamentos de defesa em 2021 e nos anos seguintes assinala a sua intenção de evitar os cortes que se seguiram à crise financeira de 2007-2008”, assinala o relatório.
O levantamento mostra que a América do Norte foi o continente com maior investimentos — 41,4% da soma mundial (quase a totalidade arcada por Washington). Em seguida, estão Ásia (25%) e Europa (17,1%). Com 2,9%, aparecem América Latina e Caribe.
Na avaliação do instituto britânico, a chegada do democrata Joe Biden à Casa Branca não deve alterar os gastos norte-americanos no setor. “É improvável que os objetivos de Washington mudem com um novo governo, mesmo que haja uma mudança de tom e um desejo dos EUA e das capitais europeias para restaurar relações. Afinal de contas, essa visão começou muito antes de (Donald) Trump chegar ao poder.”
Globalmente, porém, o IISS admite a possibilidade de um recuo nos investimentos, futuramente, em razão dos impactos da pandemia do novo coronavírus.

“É improvável que os objetivos de Washington mudem com um novo governo, mesmo que haja uma mudança de tom e um desejo dos EUA e das capitais europeias para restaurar relações. Afinal de contas, essa visão começou muito antes de (Donald) Trump chegar ao poder”

trecho do relatório do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS)

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