A semana começou tensa entre Washington e Ancara, após a execução de 13 reféns turcos numa área do norte do Iraque controlada pela milícia separatista curda Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, acusou os Estados Unidos de apoio a terroristas, depois que o governo de Joe Biden se recusou a condenar imediatamente a ação dos militantes curdos, e convocou o embaixador americano a prestar esclarecimentos. Após uma conversa entre chanceleres, a situação, aparentemente, foi contornada.
Os corpos dos 13 civis e militares turcos, há anos mantidos cativos, foram localizados em uma caverna na região de Gara. A milícia curda confirmou as mortes, atribuídas a bombardeios promovidos por Ancara. Em reação, a polícia turca prendeu 718 pessoas, em 40 cidades, por supostos vínculos com a militância curda.
O Ministério do Interior não especificou onde as prisões aconteceram, mas afirmou que entre os detidos estão responsáveis locais do Partido Democrático do Povo (HDP), a segunda maior legenda de oposição do país. “Um grande número de armas, documentos e material digital pertencentes à organização foram confiscados nessas buscas”, informou, em nota.
Paralelamente às ações internas, desenrolou-se um embate diplomático entre os governos de Erdogan e de Biden. No domingo, ao tomar conhecimento das mortes, o Departamento de Estado americano lamentou a situação. “Se a informação sobre as mortes de civis turcos nas mãos do PKK, organização classificada como terrorista, for confirmada, condenamos essas ações nos mais veementes termos”, assinalou.
A manifestação de Washington foi recebida como uma afronta. “As declarações dos Estados Unidos são deploráveis. Dizem que não apoiam terroristas, mas na verdade estão do lado deles”, disse Erdogan. O ministério turco das Relações Exteriores pediu ao embaixador norte-americano, David Satterfield, para transmitir a grande indignação de Ancara.
Parceria
Diante da situação, o chanceler de Biden, Antony Blinken, telefonou para o homólogo turco, Mevlut Cavusoglu. Na conversa, enfatizou “a importância duradoura da relação bilateral” e lembrou seu interesse compartilhado em combater o terror. “O secretário deu condolências pelas mortes dos reféns turcos no nordeste do Iraque e afirmou nossa visão de que terroristas do PKK são responsáveis”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, em nota. Foi o primeiro contato entre os dois chanceleres em 26 dias do governo democrata.
O governo de Erdogan realiza, regularmente, ataques nas áreas montanhosas do norte do Iraque contra bases do PKK, que, desde 1984, trava um conflito sangrento contra o regime de Ancara. Na quinta-feira passada, três soldados turcos morreram em confrontos com combatentes do PKK na província iraquiana de Dohuk. Eles foram enterrados com honras militares.
Apesar de tais operações provocarem tensões com o governo iraquiano, Erdogan insiste continuamente que seu país pretende lidar com o PKK na região se Bagdá “não estiver em posição de fazê-lo”.
Em dezembro, o presidente da Turquia pediu ao Iraque que intensificasse a luta em seu território contra o PKK ao receber o primeiro-ministro iraquiano, Moustafa al-Kazimi, em Ancara. “Nenhum país, pessoa ou instituição pode questionar as operações militares da Turquia (no Iraque) após o massacre de Gara”, repetiu, ontem, Erdogan.