EUA

Democracia sob ataque

No primeiro discurso internacional sobre a política externa, na Conferência de Segurança de Munique, Joe Biden adverte sobre os perigos representados por "autocracias", ao citar China e Rússia, e afirma compromisso com a Otan. Washington volta ao Acordo de Paris

Foram sinais distintos de que os Estados Unidos voltaram ao caminho do multilateralismo. No primeiro discurso de política externa internacional, na Conferência de Segurança de Munique (Alemanha), o presidente Joe Biden proclamou o retorno à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), acenou com a aproximação a aliados históricos e advertiu sobre um ataque à democracia. Mais cedo, o Departamento de Estado norte-americano tinha anunciado a readesão dos EUA ao Acordo de Paris sobre o Clima. Segundo Antony Blinken, chefe da diplomacia de Washington, o pacto “é uma estrutura para ação global sem precedentes”. “Seu propósito é simples e expansivo: ajudar todos a evitar o aquecimento global catastrófico e construir resiliência ao redor do mundo aos impactos das mudanças climáticas, que já vemos”, declarou o secretário de Estado.
“Envio uma mensagem clara ao mundo: a América está de volta. A aliança transatlântica está de volta”, afirmou Biden aos países-membros da aliança transatlântica, por meio de videoconferência. “Os Estados Unidos estão totalmente comprometidos com a nossa aliança da Otan”, acrescentou, ao prometer trabalhar em “estreita colaboração” com os “parceiros da União Europeia”. “Os EUA estão determinados a se engajar novamente com a Europa, a consultá-los, a recuperar nossa posição de liderança confiável”, disse ele.
O líder democrata lembrou que “a democracia não acontece por acidente”. “Temos de defendê-la, lutar por ela, fortalecê-la, renová-la”, sublinhou. Biden citou “um ponto de inflexão entre aqueles que argumentam que (…) a autocracia é o melhor caminho a seguir, e aqueles que entendem que a democracia é essencial”. “Eu acredito que, em cada grama de meu ser, a democracia irá e deve prevalecer”, disse.
Os responsáveis pelos ataques à democracia foram citados nominalmente por Biden: China e Rússia. “Devemos nos preparar, juntos, para uma competição estratégica de longo prazo com a China. (…) A competição com a China será acirrada”, assegurou. O presidente norte-americano afirmou que é preciso reagir contra “abusos econômicos do governo chinês e a coerção, que minam as bases do sistema econômico internacional”. Para Biden, todos os atores internacionais têm a obrigação de jogarem pelas mesmas regras.
Em alusão ao governo do presidente russo, Vladimir Putin, Biden acusou o Kremlin de atacar as democracias de transformar a corrupção em arma, com a intenção de minar o sistema de governança. “Os líderes da Rússia querem que as pessoas pensem que o nosso sistema é mais ou tão corrupto quanto o deles. Mas, o mundo sabe que isso não é verdade”, ponderou. De acordo com Biden, Putin busca enfraquecer o projeto europeu e a aliança da Otan. “Ele quer minar a unidade transatlântica e a nossa determinação, pois é muito fácil para o Kremlin intimidas e ameaçar países do que negociar com uma comunidade transatlântica forte e intimamente unida.”
Ao citar a crise nuclear iraniana, Biden disse que o mundo precisa estar preparado para o reengajamento nas negociações com Teerã. “Devemos abordar as atividades desestabilizadoras do Irã no Oriente Médio e trabalharemos em cooperação próxima com nossos parceiros europeus e outros aliados, à medida que avançarmos.”
Biden encerrou o seu discurso repetindo que a “América está de volta”. Foi um esforço para separar a doutrina de seu governo do lema “América em primeiro lugar”, implementado pelo governo do republicano Donald Trump e calcado no unilateralismo. “Vamos, juntos, demonstrar aos nossos bisnetos, quando lerem sobre nós, que a democracia funciona, e que, juntos, não há nada que não possamos fazer.”

Mudanças climáticas

Biden declarou que a comunidade internacional “não pode mais atrasar ou fazer o mínimo” para lidar com as mudanças climáticas. “Esta é uma crise existencial global, e todos sofreremos — todos sofreremos as consequências se falharmos”, alertou. “Precisamos acelerar rapidamente nossos compromissos de reduzir, agressivamente, nossas emissões e nos responsabilizarmos mutuamente pelo cumprimento de nossas metas e pelo aumento de nossas ambições. É por isso que, como presidente, imediatamente aderi ao Acordo de Paris. A partir de hoje, os Estados Unidos são oficialmente, mais uma vez, parte do Acordo de Paris, o qual ajudamos a construir.”