Quase nove anos após deixar o Palácio do Eliseu, o ex-presidente da França Nicolas Sarkozy foi condenado, ontem, a três anos de reclulsão — dois dos quais suspensos — por corrupção ativa e tráfico de influência. O político conservador, de 66 anos, não deverá ir, porém, para a prisão, uma vez que a pena restante de um ano em regime fechado pode ser comutada e o tribunal não ordenou sua detenção após pronunciar o veredito. É provável que ele seja submetido à vigilância eletrônica, com o uso de tornozeleira ou bracelete.
Trata-se de um julgamento sem precedentes no país. Afastado da política desde 2016, Sarkozy tornou-se o primeiro ex-presidente da França desde a instauração da V República (1958) a se sentar fisicamente no banco dos réus. Antes dele, apenas Jacques Chirac — seu antecessor e mentor político — foi julgado e condenado por desvio de dinheiro público quando era prefeito de Paris. No entanto, devido a problemas de saúde, Chirac nunca compareceu ao tribunal.
No comando do país entre 2007 e 2012, Sarkozy, que sempre afirmou nunca ter cometido “o menor ato de corrupção”, ouviu o pronunciamento de sua sentença no tribunal, parecendo impassível. O ex-presidente não fez declarações ao sair da sala de audiências, mas seus apoiadores rapidamente denunciaram uma “pena desproporcional” e “um assédio judicial”.
Defensora do ex-presidente, a advogada Jacqueline Laffont anunciou que vai recorrer da decisão. “Ele está tranquilo, mas decidido a continuar provando sua inocência”, afirmou Lafont, em uma entrevista transmitida ao vivo pela televisão. A advogada classificou a condenação de “extremamente severa”, além de “totalmente infundada e injustificada”
Em uma rede social, a ex-modelo e cantora Carla Bruni, esposa de Sarkozy, externou o apoio ao marido. “Que assédio insano, meu amor.... o combate continua, a verdade virá”, enfatizou.
Pacto
Para a Justiça francesa, houve um “pacto de corrupção” entre o ex-presidente, seu advogado Thierry Herzog e o ex-magistrado Gilbert Azibert, que ocupava um assento no Tribunal Supremo. Todos foram condenados à mesma sentença. A Promotoria havia solicitado uma pena de quatro anos de prisão, dois deles em regime fechado, alegando que a imagem presidencial havia sido “afetada” pelo episódio.
O escândalo veio à tona após os investigadores terem grampeado os telefones de Sarkozy e de Herzog, nas apurações sobre suspeitas de que o ex-líder líbio Muammar Kadafi, morto em 2011, teria financiado a campanha do conservador em 2007.
Sarkozy foi acusado de ter tentado subornar o então juiz, oferecendo-lhe um cargo muito disputado em troca de informação privilegiada e influir nas diligências abertas na alta corte, relacionada com o caso Liliane Bettencourt, em que teria recebido irregularmente dinheiro da multimilionária de 90 anos, herdeira da empresa de cosméticos L’Oréal. O processo foi encerrado no fim de 2013.
Essa foi a primeira condenação de Nicolas Sarkozy, que está sob forte pressão judicial. Ele está envolvido em vários processos, incluindo o de suspeita de financiamento líbio da campanha de 14 anos atrás.
A partir de 17 de março, ele estará mais uma vez no banco dos réus, no julgamento do caso Bygmalion, relativo aos gastos de sua fracassada campanha à reeleição, em 2012. Ainda muito popular e muito ouvido entre a direita francesa, a condenação, um ano antes da próxima eleição presidencial, pode comprometer a candidatura de um partidário.
“Que assédio insano, meu amor.... o combate continua, a verdade virá”
Carla Bruni, esposa de Nicolás Sarkozy
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