As mudanças climáticas têm gerado uma série de eventos naturais severos, como as chuvas extremas em diferentes países, incluindo o Brasil. Além de todos os prejuízos físicos, esse fenômeno provoca danos severos à saúde dos bebês, segundo um estudo publicado, ontem, na revista especializada Nature Sustainability. No trabalho, pesquisadores brasileiros, em parceria com britânicos, mostram que crianças nascidas de mulheres que vivem em áreas mais afetadas pelas chuvas intensas apresentam redução significativa de peso.
A equipe analisou dados de todos os nascidos vivos ao longo de um período de 11 anos em 43 municípios altamente dependentes de rios no território do Amazonas. Ao todo, foram 291.479 crianças. Os especialistas compararam essas informações com dados climáticos, coletados por meio de satélites, sobre variações da precipitação local. O período de gravidez foi, dessa forma, relacionado à quantidade de chuvas.
Como resultado, constatou-se que as chuvas extremamente intensas no estado da Amazônia estão associadas à redução significativa do peso médio ao nascer — nascimento prematuro e crescimento fetal restrito são as complicações contatadas. De acordo com os cientistas, a redução média do peso ao nascer é de quase 200g.
“Devido às profundas desigualdades sociais dessa região brasileira, os filhos de mães indígenas adolescentes, sem educação formal ou com pouca escolaridade eram, em alguns casos, até 600g menores do que os nascidos em famílias mais privilegiadas. O clima extremo impôs uma penalidade adicional a esses recém-nascidos”, enfatiza, em comunicado, Erick Chacon-Montalvan, pesquisador da Universidade Lancaster, no Reino Unido, e um dos autores do artigo.
Perda nutritiva
Os pesquisadores destacam, no texto, que extremos climáticos podem afetar a saúde das mães e dos bebês em gestação de maneiras diversas. Por exemplo, o colapso de safras pode reduzir o acesso a alimentos nutritivos, que ficam mais caros, e aumentar a prevalência de doenças infecciosas. “Ainda que o estudo tenha sido realizado fora da pandemia e com dados apenas do estado do Amazonas, as conclusões são extrapoláveis e extensíveis para contextos semelhantes e, certamente, o Acre se encaixa no exemplo, já que está vivenciando uma grande inundação atualmente”, afirma ao Correio Jesem Orellana, epidemiologista da Fiocruz Amazônia e um dos autores do artigo.
Segundo Orellana, os dados obtidos servem como alerta para a possibilidade de ocorrência de prejuízos ainda mais severos. “Essa é uma questão muito atual e deve ser levada em consideração, pois a tendência é que as condições climáticas se agravem ainda mais nos próximos anos e décadas”, frisa. “Essas populações marginalizadas e vitimizadas são injustamente afetadas por esses eventos porque contribuem pouco para as mudanças climáticas — não são grandes poluidoras ambientais, como as indústrias — e ainda são as responsáveis por proteger a maior parte da Floresta Amazônica que ainda existe”, complementa. (VS)
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.