DIPLOMACIA

Washington impõe sanções a russos

Medidas são anunciadas após a conclusão de investigações da inteligência americana, que responsabiliza Moscou pelo envenenamento do dissidente Alexei Navalny, principal adversário de Vladimir Putin, no ano passado. Governo Biden pede a libertação de opositor

Correio Braziliense
postado em 02/03/2021 19:31 / atualizado em 02/03/2021 19:32
 (crédito: Kirill Kudryavtsev/AFP)
(crédito: Kirill Kudryavtsev/AFP)

O governo do presidente Joe Biden anunciou, ontem, sanções contra sete altos funcionários russos, após o serviço de inteligência dos Estados Unidos que Moscou envenenou do dissidente Alexei Navalny, principal voz contra Vladimir Putin. As medidas são adotadas um dia depois de os Estados-membros da União Europeia aprovaram ações contra quatro autoridades da Justiça e Defesa russas, envolvidas na prisão e condenação do opositor ao Kremlin.
Em um esforço coordenado com o bloco europeu, Washington insistiu no pedido para que a Rússia liberte Navalny. O líder opositor foi detido, em janeiro, ao retornar para Moscou, após meses na Alemanha, onde se tratou do suposto envenenamento sofrido na Sibéria. A prisão despertou uma onda de manifestações contra o governo Putin. O Kremlin nega qualquer conexão com o ataque ao opositor.
“A comunidade da inteligência estima, com um alto nível de confiança, que funcionários do Serviço Federal de Segurança (FSB) da Rússia usaram um agente nervoso conhecido como Novichok para envenenar o líder opositor russo Alexei Navalny em 20 de agosto de 2020”, disse um alto funcionário, que preferiu o anonimato. “Estamos enviando um claro sinal para a Rússia de que há consequências claras pelo uso de armas químicas”, disse outra fonte, que também pediu para não ser identificada.

Proibições

Horas antes do anúncio de Washington, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que as sanções contra os russos não está funcionando. “Os que continuam contando com essas restrições provavelmente teriam que pensar: estão atingindo seus objetivos com essa política? Nossa resposta será evidente: essa política não está atingindo seus objetivos”, frisou Peskov.
Os alvos dos europeus e dos americanos estão proibidos de viajar para os países integrantes do bloco ou para os Estados Unidos e seus bens nesses lugares serão congelados.
Falando sob condição de anonimato, duas fontes diplomáticas disseram à agência de notícias France-Presse (AFP) que os alvos do bloco europeu seriam o procurador-geral russo, Igor Krasnov, o administrador do sistema penitenciário federal, Alexander Kalashnikov, o diretor da Guarda Nacional, Victor Zolotov, e o chefe do Comitê de Investigações, Alexander Bastrykin.
Os quatro são as primeiras pessoas a serem afetadas por um novo regime de sanções relacionado com as violações dos direitos humanos, que a UE adotou em dezembro passado.
Nos EUA, o governo Biden também destacou que restringirá algumas exportações para a Rússia, prometendo uma postura mais firme que a de seu antecessor, o republicano Donald Trump, que expressava admiração pelo presidente russo. “Tomaremos as ações pertinentes que consideramos adequadas para deixar muito claro que esse tipo de conduta é inaceitável para nós, e faremos isso junto aos nossos aliados e parceiros”, afirmou o secretário americano de Estado, Antony Blinken.
Apesar das tensões, o presidente dos EUA também estendeu o pacto de desarmamento nuclear com a Rússia. “Não estamos tentando escalar, não estamos tentando reiniciar, estamos buscando estabilidade e previsibilidade e áreas de trabalho construtivo com a Rússia quando for de nosso interesse”, disse uma fonte de Washington ouvida pela AFP.
A expectativa é a de que os Estados Unidos divulguem, nas próximas semanas, novas conclusões das agências de inteligência sobre outros pontos críticos com Moscou.

Processos

Alexei Navalny, de 44 anos, tornou-se alvo de vários processos judiciais desde que retornou à Rússia, em janeiro, após cinco meses de convalescença na Alemanha por um envenenamento que, segundo ele, foi ordenado por Putin e pelos serviços secretos.
No domingo, Navalny foi transferido para uma colônia penal em uma região a 200km ao leste de Moscou para cumprir uma pena de dois anos e meio de prisão. Ele foi condenado por violar uma liberdade condicional. Em 2014, o ativista foi condenado a três anos e meio de prisão, e chegou a cumprir um ano da pena em casa, segundo a agência russa RT. A Justiça entendeu que ele apresentou regularmente ao Serviço Penitenciário Federal. Para Navalny, uma sentença política.


“ Os que continuam contando com essas restrições provavelmente teriam que pensar: estão atingindo seus objetivos com essa política? Nossa resposta será evidente: essa política não está atingindo seus objetivos”

Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin

 

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Embaixadora da UE deixa a Venezuela

 (crédito: Yuri Cortez/AFP)
crédito: Yuri Cortez/AFP

Expulsa da Venezuela pelo governo de Nicolás Maduro, a embaixadora da União Europeia Isabel Brilhante Pedrosa deixou, ontem, o país. Na semana passada, ela foi declarada persona non grata, em resposta a novas sanções do bloco contra funcionários chavistas. Foi a segunda vez que a diplomata portuguesa recebeu do Palácio de Miraflores ordem para partir.
Inicialmente, Caracas deu a Brilhante Pedrosa 72 horas para se retirar do território venezuelano. Esse prazo expirou no sábado, mas houve uma dilatação por questões logísticas relacionadas à disponibilidade de voos.
“Hoje #2Mar #Caracas me deu o mais lindo amanhecer com #Avila em todo o seu esplendor”, escreveu a diplomata no Twitter. O texto foi acompanhado por uma foto panorâmica da capital venezuelana com a montanha ao fundo. “Obrigada infinito a todos os venezuelanos por seu amor, reconhecimento e carinho. Eu carrego todos vocês em tantas lindas lembranças. Meu coração fica aqui. Eu te amo #Venezuela”, acrescentou.
A expulsão de Brilhante Pedrosa após sanções da UE contra 19 altos funcionários venezuelanos, incluindo Remigio Ceballos, um dos principais líderes militares da Venezuela; Indira Alfonzo, presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE); e dois congressistas.
Essas sanções foram aplicadas em razão das eleições parlamentares venezuelanas de 6 de dezembro, boicotadas e classificadas como fraude pelos principais partidos políticos da oposição e não reconhecidas pelos Estados Unidos, União Europeia e vários países da América Latina. A votação deu ao partido no poder e seus aliados 256 dos 277 assentos no Parlamento.
Um dia depois da expulsão de sua embaixadora, em reciprocidade, a União Europeia declarou a representante da Venezuela no bloco, Claudia Salerno, persona non grata. Ao contrário de Brilhante Pedrosa, porém, ela não pode ser expulsa do território europeu.

Araújo: otimismo com os EUA

 (crédito: Evaristo Sá/AFP)
crédito: Evaristo Sá/AFP

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse ontem estar confiante na relação entre Brasil e Estados Unidos. Em entrevista coletiva, o chefe do Itamaraty afirmou haver uma atmosfera de entendimento e de confiança entre os dois países, construída entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Donald Trump, e que“continua vingando, crescendo”.
Bolsonaro demorou a reconhecer a vitória do atual presidente dos EUA, o democrata Joe Biden, e apoiava abertamente a reeleição do republicano. Araújo lembrou que,desde o começo de 2019, as duas nações envidam esforços em favor de um amplo acordo comercial, mas essa iniciativa não mostrou resultados na gestão de Trump. Isso ainda não se materializou,mas no ano passado nós conseguimos atingir três importantes acordos no final do ano que começa a mudar o panorama da interconexão dos nossos setores privados com os EUA”, afirmou.
De acordo com oministro, a perspectiva desse grande acordo não foi interrompida com a mudança de governo. “Em um país democrático, isso não se transpõe automaticamente quando muda de governo, porque depende de encaixe. Mas esse encaixe continua sendo totalmente possível. Nós já estamos trabalhando nisso com a nova administração. Essa perspectiva, conversas que tivemos, foi no sentido de manter esse engajamento na direção comercial”, pontuou.
O chanceler disse haver correntes políticas empenhadas em prejudicar a imagem do Brasil no exterior.“Fala-se que a nossa gestão prejudica a imagem do Brasil no exterior. Hoje, o que nós vemos é um esforço de algumas correntes políticas no Brasil de criar uma má imagem do país no exterior”, afirmou o embaixador.Com a formação de uma base governista no Congresso formada por partidos do Centrão, o chefe do Itamaraty passou a sofrer diversas críticas internas em relação à forma como conduz as relações do Brasil com outros países, como a China.
Como exemplo das iniciativas que seriam prejudiciais ao país, Araújo citou como exemplo uma carta de ex-ministros do Meio Ambiente enviada a países europeus, no mês passado. No documento, as autoridades pedem ajuda para proteger a Amazônia. Conforme o ministro, a ação atrapalha a conclusão do acordo do Mercosul com a União Europeia, por exemplo. “São setores que não querem esse processo de abertura no qual estamosengajados”, disse. O ministro afirmou, ainda, que o Brasil e outros países do Mercosul estão dispostos a incluir uma declaração sobre compromisso com o meio ambiente para ratificar o acordo de livre comércio com a União Europeia.

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