Visita

Papa Francisco chega ao Iraque em meio à pandemia da covid-19

Francisco, de 84 anos, que anunciou que viaja ao Iraque como um "peregrino da paz", desembarcou às 11H00 GMT (8H00 de Brasília) em Bagdá para uma visita de três dias

Agência France-Presse
postado em 05/03/2021 10:36
 (crédito: Vincenzo PINTO / AFP)
(crédito: Vincenzo PINTO / AFP)

O papa Francisco desembarcou nesta sexta-feira (5) no Iraque, "feliz" com a perspectiva de uma visita histórica, marcada pela violência que afeta o país e a pandemia, durante a qual pretende levar palavras de conforto para uma das mais antigas comunidades cristãs do mundo, destruída por conflitos e perseguições.

Francisco, de 84 anos, que anunciou que viaja ao Iraque como um "peregrino da paz", desembarcou às 11H00 GMT (8H00 de Brasília) em Bagdá para uma visita de três dias, em que também levará uma mensagem aos muçulmanos xiitas em um encontro com o grande aiatolá Ali Sistani, a principal autoridade religiosa deste ramo do islã.

Esta é a primeira visita de um pontífice a este país do Oriente Médio e a primeira viagem ao exterior do pontífice desde o início da pandemia de covid-19.

"Estou feliz de retomar as viagens", afirmou Francisco à imprensa no avião, após 15 meses sem deslocamentos. O papa argentino confessou que nos últimos meses sentiu que estava "enjaulado" no Vaticano.

"E esta viagem emblemática é também um dever com uma terra que foi martirizada por anos", completou o papa.

Durante a visita de três dias por várias cidades, o papa se encontrará com poucas pessoas nas estradas devido ao confinamento total decretado no país, onde o número de casos bateu esta semana um recorde desde o início da pandemia de covid-19, com mais de 5.000 infectados por dia.

"Vou tentar respeitar as recomendações e não dar a mão a ninguém, mas tampouco quero ficar longe", disse o papa no avião.

As autoridades iraquianas afirmaram que adotaram todas as medidas de segurança possíveis.

"O Iraque recebe o papa Francisco reafirmando até que ponto nossos vínculos humanos são profundos", afirmou o primeiro-ministro iraquiano. Mustafah Al Kadhemi. no Twitter, antes de receber o pontífice no aeroporto.

O líder de 1,3 bilhão de católicos do mundo percorrerá mais de 1.400 quilômetros em um veículo blindado, de helicóptero ou avião, sobrevoando em alguns momentos áreas que ainda abrigam extremistas do grupo Estado Islâmico (EI).

Durante a visita, Francisco não terá encontros com multidões e se reunirá apenas com algumas centenas de pessoas em vários momentos, com exceção da missa de domingo no estádio de Erbil, no Curdistão, na qual participarão milhares de fiéis que reservaram suas vagas com antecedência.

Na quarta-feira o Iraque foi cenário de um ataque com foguetes contra uma base que abriga soldados americanos, no mais recente episódio das tensões entre Irã e Estados Unidos no país.

Desde então, no entanto, um dos pequenos grupos que reivindica os ataques anunciou uma trégua durante a visita do papa.

Francisco começará a visita com um discurso e um encontro com os líderes iraquianos. Além das dificuldades de segurança ou econômicas dos 40 milhões de iraquianos, ele mencionará também o trauma dos cristãos.

Quando, em 2014, o EI conquistou a planície de Nínive, dezenas de milhares de cristãos fugiram do norte do país, incluindo Mossul.

"Alguns tiveram poucos minutos para decidir se partiam ou seriam decapitados", recorda o padre Karam Qacha.

"Tiveram que deixar tudo, menos a fé", resume o religioso caldeu em Nínive, que denuncia a reduzida ajuda que o governo oferece aos cristãos para recuperar suas casas ou terras.

- Mão estendida ao xiismo -


O cardeal Leonardo Sandri, que dirige a Congregação das Igrejas Orientais no Vaticano e acompanha o papa, afirmou que um Oriente Médio sem cristãos é um "Oriente Médio que tem farinha, mas falta levedura e sal".

Por este motivo, ele assegura que o papa Francisco não hesitará em pedir aos cristãos que permaneçam ou retornem ao Iraque, onde restam apenas 400.000 fiéis, contra 1,5 milhão em 2003.

Um apelo ao retorno "obrigatório, mas "difícil", disse o cardeal Sandri, em um país que vive conflitos há quatro décadas ou enfrenta crises políticas e econômicas.

De acordo com a fundação "Ajuda à Igreja em Perigo", apenas 36.000 dos 102.000 cristãos que deixaram Nínive retornaram. E entre eles, um terço afirma que planeja deixar o país por medo das milícias e devido ao desemprego, corrupção e discriminação.

No sábado, pela primeira vez na história, o papa será recebido na cidade sagrada de Najaf (sul) pelo grande aiatolá Ali Sistani, um homem de saúde frágil de 90 anos que nunca foi visto em público.

O papa também participará em Ur, terra natal de Abraão, pilar das três religiões monoteístas, em uma oração com representantes xiitas, sunitas, yazidis e sabeus.


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