Nunca nasceram tantos gêmeos no mundo

Desde os anos 1980, o número de gestações de dois ou três bebês cresceu em um terço, mostra estudo publicado na revista Human Reproduction. O aumento sem precedentes está relacionado à disseminação da reprodução assistida e à idade mais tardia das grávidas

Correio Braziliense
postado em 12/03/2021 22:21
 (crédito: Sergei Supinsky/AFP)
(crédito: Sergei Supinsky/AFP)


Um estudo publicado na revista especializada Human Reproduction aponta um boom sem precedentes de gêmeos no mundo. Os pesquisadores atribuem o fenômeno à disseminação da reprodução medicamente assistida e à idade mais tardia das gestações. De acordo com o trabalho, mais de 1,6 milhão de gêmeos nascem a cada ano, ou seja, um par em cada 40 bebês.
De acordo com Gilles Pison, professor do Museu Nacional de História Natural e pesquisador associado do Instituto Nacional de Estudos Demográficos (INED), com sede na França, desde os anos 1980 até 2015, a taxa global de nascimentos de gêmeos aumentou em um terço. O número passou de 9,1 para 12 por cada mil partos, em três décadas, especificou Pison, um dos três autores do trabalho.
Os especialistas destacam que esse boom de gêmeos é preocupante. Isso porque, com frequência, eles nascem abaixo do peso correto, são prematuros, apresentam mais complicações durante o parto e sofrem mais mortalidade do que os demais. Sem falar das dificuldades dos pais de cuidarem de dois bebês ao mesmo tempo.

Mudança

No trabalho, os cientistas verificaram que o aumento da frequência mundial de gêmeos se deve unicamente ao crescimento, sem precedentes, de gestações dos chamados falsos gêmeos (de dois óvulos diferentes), que varia entre os continentes e de um período para outro.
De acordo com Pison, o nascimento de gêmeos autênticos (monozigóticos) permanece nas mesmas proporções, com uma taxa constante de quatro partos por mil, que não varia com a idade da mulher, nem entre as regiões”.
A reprodução assistida, que começou nos países ricos na década de 1970, contribuiu para esse aumento de nascimentos múltiplos, assim como para as gestações tardias. O nível sanguíneo de um hormônio que intervém no amadurecimento do óvulo e na ovulação, o FSH, aumenta com a idade e faz subir a probabilidade de uma gravidez de gêmeos, até alcançar um pico, aos 37 anos.
A partir dessa faixa etária, a taxa de gêmeos falsos diminui rapidamente, devido às falhas da função ovariana e ao aumento da mortalidade embrionária, explica o pesquisador. Isso se a mulher não recorrer à ajuda profissional para engravidar. “O número relativo e absoluto de gêmeos no mundo é maior do que nunca desde meados do século 20, e é provável que seja um recorde histórico”, disse Christiaan Monden, da Universidade de Oxford, co-autor da pesquisa.
No trabalho, Pison, Monden e Jeroen Smits, da Radboud University (Holanda), comparam dados e estimativas de nascimentos nos períodos 1980-1985 e 2010-2015. Eles verificaram que dos 3,2 milhões de gêmeos que nascem a cada ano, 1,3 milhão nascem na África (650 mil pares), o mais alto. Esse número deve-se a uma taxa de natalidade muito maior do que em outras partes do mundo.
Os especialistas, porém, acreditam que, cada vez mais, deve haver uma redução no número mundial de gestações múltiplas. Isso porque, assinala o estudo, os avanços técnicos na reprodução assistida permitem, há anos, uma gravidez bem-sucedida, implantando-se um único embrião e congelando os restantes. “Talvez tenhamos alcançado um pico em termos de taxas de gêmeos, sobretudo nos países ricos”, assinala o artigo.

“O número relativo e absoluto de gêmeos no mundo é maior do que nunca desde meados do século 20, e é provável que seja
um recorde histórico”

Christiaan Monden, da Universidade de Oxford

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