ORIENTE MÉDIO

Sírios reavivam lemas da revolta

No 10º aniversário da guerra que destroçou o país, manifestantes pedem a queda do regime de Bashar al-Assad em Idlib, o último reduto de rebeldes e tamb[em de extremistas islâmicos. Reino Unido anuncia sanções contra autoridades de Damasco

Correio Braziliense
postado em 15/03/2021 21:02
 (crédito: Omar Haj Kadour/AFP)
(crédito: Omar Haj Kadour/AFP)

Na última região do país ainda dominada por rebeldes, houve celebração pelos 10 anos da guerra na Síria. Milhares de pessoas foram às ruas de Idlib para lembrar o levante contra o governo de Bashar al-Assad, que culminou em um dos conflitos mais terríveis deste início de século, com centenas de milhares de mortes. Aos gritos de “liberdade” e pedindo “a queda do regime”, manifestantes reviveram o clima das primeiras mobilizações. Também houve protestos na cidade fronteiriça de Atme e em várias localidades controladas pelas forças turcas no norte de Aleppo.
A milhares de quilômetros dali, o governo do Reino Unido adotou sanções contra seis membros do governo sírio, entre eles o ministro das Relações Exteriores, Faisal Moqdad, por “reprimir o povo”. “O regime de Al-Assad submeteu o povo sírio a uma década de brutalidade por ter tido a coragem de exigir uma reforma pacífica”, afirmou chanceler britânico, Dominic Raab, sobre as primeiras medidas tomadas por Londres contra Damasco após o Brexit.
“Viemos reiterar nosso compromisso, como fizemos em 2011 (...), de derrubar o regime (do presidente) de Bashar al-Assad”, afirmou Hana Dahneen, que se juntou aos primeiros manifestantes, no início da revolta. Na época, a ativista estava convencida de que a mudança era iminente, pois os regimes a Tunísia, Egito e outros da região caíram um após o outro na Primavera Árabe.
Na Síria, porém, os rumos foram diferentes. Violentamente reprimida pelas forças de Al-Assad, a “revolução”, aos poucos, transformou-se em um conflito devastador, com uma multidão de diferentes atores e uma única grande vítima: o povo. Em uma década, a guerra mais de 388 mil mortes e expulsou 12 milhões de pessoas de suas casas, segundo a Organização das Nações Unidas.
“Continuaremos nossa abençoada revolução, ainda que dure mais 50 anos”, afirmou Hana Dahneen, em meio a milhares de compatriotas de Idlib, que também é o último reduto no país de extremistas islâmicos. “O povo quer a queda de o regime”, repetia a multidão. Alguns mostravam imagens de vítimas do conflito. Em outro telhado próximo, dezenas de pessoas agitavam bandeiras da “revolução”, adotadas no início do levante, enquanto observavam a praça lotada.

Cessar-fogo

Embora os combates tenham terminado quase completamente após um cessar-fogo que entrou em vigor há um ano em Idlib, a paz ainda está longe de ser uma realidade na Síria. “Dez anos de crise síria infligiram sofrimento e dor humanos indescritíveis”, observou o alto comissário da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), Filippo Grandi, em um comunicado, lamentando que “o mundo não cumpriu suas obrigações” com habitantes.
Em 2015, toda a região onde está Idlib caiu nas mãos de uma coalizão de grupos rebeldes e islâmicos, incluindo Hayat Tahrir al sham, o ex-braço sírio da Al Qaeda, então conhecido como Frente Al Nusra. O regime, com o apoio da força aérea russa, realizou várias ofensivas na área. Na mais recente, no fim de 2019, retomou metade do território da província.
Apesar da tragédia, Al-Assad continua no poder, controla mais de 60% do país e se prepara para nova eleição. Durante sessão do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), os Estados Unidos pediram, ontem, “a comunidade internacional não se deixe enganar” pela nova votação no país árabe.
“Essas eleições não serão livres ou justas”, insistiu a embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, assinalando que não cumprem os critérios de supervisão. Presidente interina do Conselho de Segurança, a diplomata fez com que a reunião mensal do xonselho coincidisse com o décimo aniversário do início da guerra.
“Os distúrbios que eclodiram em março de 2011 na Síria foram usados por forças externas para agravar a situação no país. Seu objetivo era derrubar as autoridades sírias legítimas e remodelar o país”, rebateu o embaixador russo, Vassily Nebenzia, alinhado com Damasco.
Sem rejeitar de antemão as eleições presidenciais marcadas para junho, a França, que dominou a Síria entre 1920 e 1946, pediu que o processo seja transparente.

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Na Líbia, começa o governo de transição

O primeiro-ministro da Líbia, Abdelhamid Dbeibah, que deve liderar a transição até as eleições previstas para dezembro, prestou juramento ontem, na sede provisória do Parlamento, instalada em 2014 em Tobruk, 1.300km a leste de Trípoli. O bilionário de 61 anos, foi nomeado premiê interino em 5 de fevereiro por 75 autoridades líbias reunidas em Genebra, sob a mediação da ONU.
O país vive mergulhado em um caos desde a Primavera Árabe, que derrubou o regime de Muammar Kadhafi, literamente linchado pelos rebeldes. Dbeibah prometeu “preservar a unidade, a segurança e a integridade” da Líbia, numa mensagem elogiada pelo embaixador da União Europeia na Líbia, Jose Sabadell.
O novo Executivo substitui o Governo de União Nacional (GNA) de Fayez Al Sarraj — instalado em 2016 no oeste do país e admitido pela ONU — e o gabinete paralelo de Abdallah Al-Theni — não reconhecido pela comunidade internacional. Nenhum dos dois foi à cerimônia. A missão de Dbeibah está prevista para terminar em 24 de dezembro, data em que estão marcadas eleições no país.
Cinco ministérios, entre eles o das Relações Exteriores e o da Justiça, foram atribuídos às mulheres, um fato inédito no país de 7 milhões de habitantes.

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