"A minha intenção é salvar os peruanos da morte e da fome" da pandemia, disse à AFP a candidata Keiko Fujimori, que concorre pela terceira vez à presidência do Peru para seguir os passos de seu pai, o ex-presidente Alberto Fujimori.
Depois de 16 meses em prisão preventiva até maio de 2020, a outrora belicosa líder opositora voltou à arena política com um tom moderado e conciliador.
Keiko Fujimori lidera o fujimorismo, uma bem-sucedida mistura populista de conservadorismo moral e economia neoliberal, que seu pai deixou como herança no ano 2000 após chegar ao poder em 1990 derrotando o favorito Mario Vargas Llosa.
Entre os 18 candidatos às eleições presidenciais de 11 de abril, a candidatura de Keiko oscila entre o terceiro e quarto lugar nas pesquisas, com 8% das intenções de voto no que será uma eleição acirrada: os indecisos beiram os 30% e nenhum candidato supera 15% das intenções.
Aos seus 45 anos, casada e mãe de duas meninas, Keiko corre com uma pesada pedra no sapato: uma acusação por supostamente receber dinheiro ilegal da construtora brasileira Odebrecht para financiar suas campanhas de 2011 e 2016, segundo o Ministério Público, que ela nega.
Keiko recebe a AFP na sala de seu apartamento no bairro residencial de Surco, leste de Lima.
Salvar o Peru
Pergunta (P): Você carrega duas derrotas, por que insiste em ser presidente? Por que os peruanos deveriam elegê-la?
Resposta (R): A minha intenção é salvar os peruanos da morte e da fome que estão passando no nosso país. Estabeleci esse propósito para mim mesma. Vamos trabalhar para recuperar a vida e a economia.
A tragédia sanitária e econômica me lembra dos anos do terrorismo e da crise econômica, é uma situação muito dramática e (nos anos noventa) o fujimorismo demonstrou ter capacidade para levar nosso país adiante em momentos tão difíceis.
P: As pesquisas projetam um Congresso fragmentado, o que a obrigará a buscar alianças para governar. O que acha disso?
R: A busca de consensos será fundamental para todos os grupos que chegarem ao Parlamento, e na Força Popular é fundamental construir pontes, para além de quem chegar à presidência.
Vacinar o Peru em 2021
P: A pandemia levou o sistema de saúde ao colapso, com mais de 50.000 mortes e 1,4 milhão de casos e uma economia em recessão. Como enfrentará essa situação?
R: Primeiro, o controle da pandemia: vamos aplicar 70 mil testes PCR por dia e construir fábricas de oxigênio. Hoje as pessoas morrem por não terem oxigênio, isso é indignante.
Depois, a vacinação: o Estado deve focar na linha de frente, municípios e governos regionais e as empresas privadas também devem somar esforços para aplicar as vacinas gratuitamente em seus trabalhadores e famílias. Nesta soma de esforços, os peruanos serão vacinados em um governo da Força Popular este ano.
Aborto e casamento homoafetivo
P: Você descriminalizaria o aborto no Peru, que tem uma das legislações mais restritivas da região neste assunto?
R: Nós defendemos a vida e a família e, no caso do aborto, o único aborto permitido é o terapêutico, aquele que defende a vida da mãe (em risco de morte).
P: E em caso de estupro?
R: "Rejeitamos essa possibilidade".
P: Você proporia o casamento entre casais do mesmo sexo?
R: Somos (apenas) a favor da união patrimonial, aquela que defende patrimônios e o direito de herança. O casamento se define entre um homem e uma mulher.
Indulto ao pai
P: Nas eleições de 2011 e 2016 disse que se ganhasse, não usaria o poder para indultar seu pai, hoje com 82 anos. O que fará desta vez?
R: Sim, darei o indulto a ele, mudei minha posição. Depois de mais de 13 anos preso (Alberto Fujimori está preso desde 2007) e por eu mesma ter estado na prisão, e depois de ter tentado buscar a liberdade do meu pai por vias legais e ainda assim não encontrar justiça, sim, farei isso.
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