Biden quer proibir as armas de assalto

Após dois atentados a tiros em menos de uma semana, líder democrata defende banimento de fuzis e pede ao Congresso a regulamentação de posse. Apontado como autor do ataque a mercado no Colorado é acusado por 10 assassinatos em primeiro grau

Correio Braziliense
postado em 23/03/2021 21:54
 (crédito: Chet Strange/AFP)
(crédito: Chet Strange/AFP)

Diante da escalada da violência armada no país, com dois atentados de grande potencial num intervalo de apenas seis dias, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu, ontem, a proibição de fuzis e instou o Congresso a regular a posse de armas. Biden fez um discurso solene horas depois do massacre no condado de Boulder, no Colorado, que deixou 10 mortos em um supermercado, na noite de segunda-feira. Na semana passada, um homem protagonizou tiroteios em três spas na Geórgia e matou oito pessoas, a maioria de origem asiática.
“Essa não deve ser uma questão partidária. É uma questão americana. Isso salvaria vidas”, disse Biden. Nas pesquisas, a maioria dos americanos é a favor de mais regulamentação, uma posição que a Casa Branca também apoia, mas os republicanos se opõem obstinadamente, pois argumentam que legislar a esse respeito vai contra a Segunda Emenda da Constituição.
Identificado como Ahmad Alissa, o autor do tiroteio no supermercado está hospitalizado. Segundo a chefe de polícia de Boulder, Maris Herold, sua condição clínica é “estável”, e a transferência para a prisão deve ocorrer em em pouco tempo. “Ele vai responder a 10 acusações de homicídio em primeiro grau”, informou. Segundo a imprensa, Alissa portava um fuzil AR-15.
A motivação do crime ainda é desconhecida, segundo autoridades. Todas as vítimas, com idades entre 20 e 65 anos, foram identificadas. Entre elas, o agente de polícia Eric Talley, de 51 anos, o primeiro a responder ao chamado de emergência. Ele deixou sete filhos, disse Maris Herold.
O governador do Colorado, Jared Polis, chamou o ataque de “tragédia sem sentido”. “O condado de Boulder é uma comunidade pequena. Estávamos todos olhando a lista”, disse o governador aos repórteres. “Nenhum deles esperava que fosse seu último dia na terra”, acrescentou.
Ahmad Alissa tem 21 anos, a mesma idade de Robert Aaron Long, que confessou a autoria dos disparos nas casas de massagem da Geórgia. Os dois massacres tão próximos, após um período de relativa calma durante a pandemia, mais uma vez trouxeram à tona o debate sobre o endurecimento das leis sobre posse de armas.
Trata-se de uma batalha difícil. Em audiência no Comitê Judiciário do Senado — que já estava marcada —, a divisão partidária mais uma vez azedou o debate. É improvável que a legislação regulatória seja aprovada na Casa, onde são necessários os votos de, pelo menos, nove republicanos.
Veto revogado

Com cerca de 110 mil habitantes, a cidade de Boulder — localizada 50km a noroeste de Denver, capital do Colorado — impôs uma proibição aos fuzis após o massacre de Parkland na Flórida, em 2018. Mas, na semana passada, um juiz bloqueou a proibição, relatou o The Denver Post, numa decisão que foi celebrada pela National Rifle Association (NRA), um poderoso grupo de lobby pró-armas. Após o tiroteio, a NRA tuitou uma cópia da Segunda Emenda à Constituição, que garante o direito à posse de armas.
Testemunhas disseram ter ouvido vários ruídos do lado de fora do supermercado, onde ocorreu o tiroteio. A polícia chegou ao local em poucos minutos, depois de ser alertada sobre a presença de um homem armado no estacionamento do supermercado.
Dezenas de veículos blindados, ambulâncias e profissionais, incluindo agentes do FBI e da SWAT, foram enviados para o local. Imagens transmitidas ao vivo durante a operação mostraram Alissa, vestido apenas com short esportivo e manchado de sangue, sendo escoltado para fora da loja por policiais. “Agora, sinto que não há lugar seguro”, disse Ryan Borowski, que fazia compras no local, à CNN.
“Nossos corações estão partidos por este ato de violência sem sentido”, afirmou a porta-voz do King Soopers, Kelli McGannon, que elogiou os “trabalhadores de emergência que responderam de forma tão corajosa aos atos de violência”.

Antecedentes

Colorado já foi cenário de dois grandes ataques armados que entraram para a história do país. Em 1999, dois adolescentes mataram 12 colegas e um professor na escola do Ensino Médio de Columbine. Em seguida, eles cometeram suicídio.
Treze anos depois, um homem invadiu um cinema que exibia um filme do Batman em Aurora, no mesmo estado, abriu fogo e matou 12 pessoas. O atirador cumpre pena de prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional.
Ambos os casos chocaram os Estados Unidos, sem que houvesse uma mudança na legislação. No mês passado, Biden já havia externado desejo de que leis fossem aprovadas para exigir verificações de antecedentes para todas as vendas de armas e que proíbam o comércio nas lojas de fuzis e armas de alta capacidade. “Essa administração não vai aguardar o próximo tiroteio em massa para atender o pedido”, disse, na ocasião.

» Júri é formado
Está tudo pronto para o início do julgamento do ex-policial de Minneapolis Derek Chavin, acusado pela morte por asfixia do afro-americano George Floyd. Ontem, o júri que participará da sessão foi formado, após 11 dias de seleção. “Temos 15 jurados, 14 terão assento”, anunciou o juiz Peter Cahill, sobre a escolha dos 12 titulares e três substitutos. Refletindo a diversidade da maior cidade do estado de Minnesota, o juiz, promotores e advogados de defesa selecionaram seis mulheres brancas, três homens negros, três homens brancos, duas mulheres mestiças e uma mulher negra. Chauvin, 44 anos, pode pegar até 40 anos de prisão se for declarado culpado pelo crime, ocorrido em maio do ano passado.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação