Os colaboradores de Alexei Navalny expressaram nesta quinta-feira (25) sua preocupação pela saúde do opositor russo por não poderem se encontrar com ele em seu local de detenção, apesar de os serviços penitenciários terem assegurado que seu estado é "satisfatório".
"Eu traduzo a língua dos policiais para o russo: como esperado, Navalny está no hospital e é por isso que os advogados não puderam vê-lo ontem", comentou no Twitter Léonid Volkov, um dos colaboradores mais próximos do opositor.
"Algo muito sério está acontecendo", acrescentou Volkov, que não acredita nas declarações das autoridades. Olga Mijailova, uma das advogadas de Navalny, alertou na quarta-feira que não teve acesso ao opositor de 44 anos, que segundo ela se queixava de "fortes dores nas costas" e começou a não sentir uma das pernas.
Navalny, que cumpre pena de dois anos e meio de prisão, sobreviveu a um envenenamento no ano passado que atribui ao Kremlin. A advogada considerou que poderia haver uma relação entre seus problemas de saúde atuais e seu envenenamento.
Os serviços penitenciários (FSIN) da região próxima a Moscou onde ele está preso reagiram nesta quinta afirmando que exames médicos foram realizados a pedido do detido e que o estado de saúde de Navalny é "considerado estável e satisfatório".
Até as 13h00 locais (07h00 no horário de Brasília), os advogados conseguiram finalmente entrar no centro penitenciário, segundo imagens da emissora independente Dojd. "Isso não quer dizer que vão se encontrar com Alexei, vamos esperar notícias deles", disse Volkov.
Apenas ibuprofeno
O porta-voz do Kremlin, por sua vez, afirmou que a Presidência "não acompanha" a situação e "não pediu nenhuma informação" sobre a saúde de Navalny.
Ao retornar à Rússia em janeiro passado, após cinco meses de convalescença na Alemanha por causa do envenenamento, Nalvalny foi imediatamente preso e condenado por um caso de fraude datado de 2014, que ele, ONGs e vários países ocidentais consideram político.
O principal adversário do presidente Vladimir Putin está detido desde o início de março em uma colônia penal em Pokrov, 100 km a leste de Moscou, conhecida como uma das mais severas da Rússia.
Mikhailova disse na quarta-feira à AFP que um neurologista examinou o opositor em razão de suas dores nas costas e problema nas pernas, mas só deu a ele comprimidos de ibuprofeno, um analgésico e anti-inflamatório.
Volkov considerou que a administração penitenciária poderia tentar ocultar uma possível transferência do opositor para a enfermaria. Desde sua chegada a Pokrov, Navalny postou duas mensagens no Instragram em tom irônico e otimista.
Na primeira, afirmou que a administração penitenciária havia conseguido surpreendê-lo: "Não acreditava que um campo de concentração pudesse ser construído a 100 km de Moscou".
Na segunda, comparou sua rotina de detento com a de um Stormtrooper, os soldados imperiais da saga Star Wars, devido à rígida disciplina de exercícios físicos no pátio e caminhada rápida.
Navalny entrou em coma em agosto passado na Sibéria. Após sua transferêncua para a Alemanha, vários laboratórios europeus estimaram que ele havia sido envenenado com Novichok, um agente nervoso desenvolvido na era soviética para fins militares.
Mas Moscou sempre rejeitou essas conclusões que provam a tese de uma tentativa de assassinato orquestrada pelo poder russo. Nenhuma investigação foi aberta na Rússia.
Navalny acusa Putin de ordenar a tentativa de assassinato, que o Kremlin insiste em rejeitar. A União Europeia, os Estados Unidos e o Canadá adotaram sanções contra altos funcionários russos após o envenenamento.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.