Seul, Coreia do Sul - A Coreia do Norte testou um "novo projétil tático guiado" de motor com combustível sólido, anunciou nesta sexta-feira (26/3) a imprensa estatal, depois que o país, que possui armamento nuclear, fez a primeira provocação de peso desde a posse do presidente americano Joe Biden.
Pyongyang utiliza os testes de armas com frequência para provocar tensões, em um processo planejado para avançar rumo a seus objetivos.
Na quinta-feira, o país lançou dois projéteis de sua costa leste, que segundo o primeiro-ministro do Japão, Yoshihide Suga, eram mísseis balísticos.
Pyongyang é objeto de múltiplas sanções internacionais por seu programa de armamentos. Várias resoluções do Conselho de Segurança da ONU proíbem que o regime norte-coreano desenvolva mísseis balísticos.
O presidente americano, Joe Biden, afirmou que a resolução 1.718 da ONU foi violada com os testes de quinta-feira. O regime norte-coreano só reconheceu a existência da nova administração dos Estados Unidos na semana passada. Biden afirmou que está "consultando os aliados" e advertiu a Coreia do Norte para uma "resposta caso optem por uma escalada".
Ele também disse que está "preparado para alguma forma de diplomacia" com as autoridades norte-coreanas, mas que precisa "estar condicionada a que o resultado seja a desnuclearização.
"Capacidade nuclear"
Os lançamentos foram supervisionados pelo alto funcionário Ri Pyong Chol, informou a agência oficial KCNA, e não pelo dirigente Kim Jong Un.
O teste foi um sucesso porque os dois projéteis atingiram um alvo a 600 km de distância no Mar do Japão, conhecido como Mar Oriental na Coreia, afirmou a imprensa estatal, o que supera os 450 quilômetros que foram anunciados na véspera pelas autoridades militares sul-coreanas.
A KCNA afirmou que a arma poderia transportar uma carga útil de 2,5 toneladas, mas evitou utilizar a palavras "míssil" e "balístico".
O teste confirmou a confiabilidade de um motor aperfeiçoado de combustível sólido, completa a agência. Fotos no jornal estatal Rodong Sinmun mostram oficiais sorridentes aplaudindo o lançamento, a maioria sem máscara.
Vipin Narang, do MIT, disse que as armas parecem as que foram exibidas em um desfile militar em janeiro em Pyongyang. "Uma ogiva de 2,5 toneladas provavelmente estabelece a questão de se esta variante KN23 tem capacidade nuclear. Tem", escreveu no Twitter.
O teste teve um "grande significado para reforçar a capacidade militar do país", disse Ri, citado pela KCNA, e para "dissuadir qualquer tipo de ameaças militares existentes na península da Coreia".
O governo dos Estados Unidos mantém 28.500 soldados na Coreia do Sul para defender o país do vizinho que o invadiu em 1950, enquanto o Norte alega que precisa de armas nucleares para dissuadir uma possível invasão americana.
Além de Biden, Alemanha, França e Reino Unido também condenaram os testes como violações às resoluções do Conselho de Segurança da ONU.
A pedido de Washington, o comitê de sanções da Coreia do Norte da ONU se reunirá nesta sexta-feira. Durante a liderança de Kim Jong Un, Pyongyang fez avanços rápidos em sua capacidade militar e chegou a testar mísseis que poderiam atingir o território dos Estados Unidos.
O primeiro ano da presidência de Donald Trump foi marcado por uma série de lançamentos e testes, acompanhados de uma linguagem bélica entre ambos os líderes. Pouco depois, Trump e Kim embarcaram em uma lua de mel diplomática inesperada, marcada por cúpulas históricas em Cingapura e Hanói entre os dois líderes.
Os Estados Unidos retiraram-se de alguns exercícios militares conjuntos com a Coreia do Sul e o Norte paralisou os testes com mísseis balísticos intercontinentais. Mas a cúpula de Hanói, em fevereiro de 2019, não conseguiu remover as sanções em troca de eventuais medidas de desarmamento.
A comunicação foi suspensa, apesar de um terceiro encontro na Zona Desmilitarizada que divide a península coreana. Desde então, não houve nenhum progresso substancial para a desnuclearização do Norte.
Pyongyang executou uma série de testes no ano passado de armas que chamou de "artilharia de longo alcance", embora outros os descrevam como mísseis balísticos de curto alcance.
O lançamento de quinta-feira e os testes de mísseis não balísticos de curto alcance do fim de semana aconteceram pouco depois dos exercícios militares conjuntos entre Coreia do Sul e Estados Unidos e da visita a Seul do secretário de Estado americano, Anthony Blinken, e do secretário de Defesa, Lloyd Austin.
Durante a viagem a Seul e Tóquio, Blinken destacou a importância de desnuclearizar a Coreia do Norte. Funcionários do governo americano afirmaram que a administração Biden tentou, desde a posse em janeiro, entrar em contato com as autoridades norte-coreanas por diversos canais, mas não teve resposta.
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