Beirute, Líbano - As forças curdas que controlam parte do norte da Síria organizaram neste domingo (28/3) uma operação de segurança no campo de deslocados de Al Hol, que recentemente foi cenário de assassinatos em série, informou uma ONG, que citou dezenas de detenções de residentes suspeitos de pertencer ao grupo extremista Estado Islâmico (EI).
Dois líderes das Forças Democráticas Sírias (SDF, integradas por milícias curdas e vários grupos rebeldes) confirmaram à imprensa a operação, e um deles afirmou que as SDF receberam a cooperação da coalizão internacional que luta contra o EI.
O grande acampamento, localizado no nordeste do país em guerra, se transformou em uma verdadeira cidade de barracas e abriga quase 62 mil pessoas, 93% delas mulheres e crianças, de acordo com a ONU, que faz advertência frequentes sobre a deterioração da segurança no local.
Desde o início do ano pelo menos 40 pessoas morreram em atos de violência no campo, informa o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). Al Hol abriga famílias sírias e iraquianas, assim como estrangeiros procedentes da Europa ou Ásia, com seus filhos.
Na madrugada deste domingo, as forças curdas iniciaram uma "importante operação de segurança (...) contra o grupo Estado Islâmico" no acampamento e no vilarejo adjacente, onde acontecem operações de busca, segundo o OSDH.
A coalizão internacional anti-EI, liderada por Washington na luta contra os extremistas, dá "apoio em termos de inteligência e vigilância aérea", afirmou uma das fontes das SDF entrevistados pela AFP.
A operação foi executada em particular pela milícia curda Unidades de Proteção Popular (YPG) e a polícia local, informou à AFP o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman, que citou ainda a instauração de um toque de recolher.
"Mais de 30 mulheres e homens foram detidos. As detenções continuam", afirmou. Os detidos de famílias sírias ou estrangeiras são "suspeitos de apoiar o EI", afirmou Abdel Rahman.
O campo já registrou vários incidentes, alguns deles com a intervenção de partidários do EI, incluindo tentativas de fugas e ataques contra guardas ou trabalhadores humanitários.
Os funcionários curdos responsabilizam células do EI pelos assassinatos cometidos, mas uma fonte dos serviços humanitários também apontou fortes tensões tribais.
À frente da luta contra o EI na Síria, as SDF, apoiadas por Washington, anunciaram em 23 de março de 2019 a queda do "califado" do EI, com a tomada do último reduto extremista de Baghuz após batalhas mortais e devastadoras.
Porém, dois anos depois, o grupo extremista voltou a executar ataques violentos no vasto deserto sírio, tanto contra as forças curas como contra o as tropas do exército do regime de Bashar al Assad.
E isto sem contar os 11.000 extremistas que estão detidos em prisões curdas, de acordo com a ONU, e suas esposas e filhos retidos nos campos, que alguns especialistas chamam de "bombas relógio".
"Alguns detidos consideram Al Hol o último vestígio do 'califado'", afirmou em fevereiro a ONU em um relatório, que indica ainda que quase 10.000 mulheres e crianças estrangeiras estão em uma área anexa reservada para elas.
"Já foram reportados casos de radicalização, de formação, de arrecadação de fundos e incitação a operações externas", indicou o relatório. "Alguns menores são doutrinados e preparados para virar futuros combatentes do EI".
As autoridades curdas pedem aos países envolvidos que repatriem mulheres e crianças. Mas a maioria dos países, sobretudo os europeus, relutam e assumir a responsabilidade por seus cidadãos. Alguns, como a França, repatriaram um número restrito de crianças órfãs.
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