O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, condenaram neste domingo a repressão violenta às manifestações em Mianmar, que deixou 107 mortos apenas ontem.
"É terrível", disse Biden em Delaware. "É absolutamente intolerável. Segundo informações que recebi, uma grande quantidade de pessoas foi morta de forma totalmente desnecessária."
A União Europeia (UE) também condenou hoje o que considerou uma "escalada inaceitável da violência, um caminho sem sentido" escolhido pela junta militar birmanesa.
Enquanto as forças de ordem reprimiam ontem as manifestações, que coincidiram com o Dia das Forças Armadas, o chefe do Exército e da junta militar, Min Hlaing, e a mulher recebiam com pompa várias personalidades, entre elas o vice-ministro da Defesa russo, Alexandre Fomine, na capital, Naypyidaw.
Comandantes militares de vários países condenaram hoje a violenta repressão de ontem, quando morreram pelo menos 107 pessoas, incluindo vários menores de idade, em ações das forças de segurança, que abriram fogo contra os manifestantes.
Mianmar é cenário de caos desde o golpe militar que derrubou o governo civil de Aung San Suu Kyi, o que gerou grandes protestos no país a favor da democracia. O balanço de vítimas fatais desde o golpe militar de 1º de fevereiro, subiu para 423, segundo uma ONG local.
Os comandantes militares de várias nações, incluindo Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Coreia do Sul e Alemanha, condenaram o uso de força letal contra manifestantes desarmados em Mianmar.
"Um militar profissional segue padrões internacionais de conduta e é responsável por proteger - não agredir - as pessoas às quais serve", afirmaram em um comunicado conjunto, no qual fazem um "apelo" às Forças Armadas birmanesas para que "cessem a violência e trabalhem para restaurar seu respeito e credibilidade ante a população de Mianmar".
Neste domingo aconteceram os funerais de algumas vítimas do dia mais violento desde o golpe de Estado. Em Mandalay, a família de Aye Ko, pai de quatro filhos assassinado durante a noite, organizou uma cerimônia religiosa. "Estou muito triste de perder meu marido, assim como meus filhos. Estou com o coração partido", declarou à AFP sua esposa Ma Khaing.
Os parentes de um adolescente de 13 anos, Sai Waiyan, atingido por tiros no sábado quando brincava diante de sua casa em Yangon, não conseguiram conter as lágrimas durante o sepultamento.
Apesar do risco, os manifestantes voltaram às ruas neste domingo em algumas áreas de Yangon, incluindo Hlaing, e nas cidades de Dawei, Bago, Myingyan e Monywa.
"Uma jovem recebeu um tiro na cabeça e morreu no hospital. Dois jovens foram mortos a tiros no protesto", afirmou à AFP um funcionário das equipes de emergência de Monywa.
Em Myingyan, uma mulher morreu e duas ficaram feridas, segundo uma fonte médica.
Em Hlaing, um jovem de 16 anos perdeu uma das mãos ao tentar devolver uma granada lançada pelas forças de segurança contra os manifestantes.
'Ações vergonhosas e covardes'
Os militares reprimiram de maneira brutal ontem manifestantes em mais de 40 pontos do país. As regiões de Mandalay e Yangon registraram a maioria das mortes, segundo a ONG Associação de Ajuda aos Presos Políticos (AAPP).
A ONU afirmou que 107 pessoas morreram ontem - incluindo sete crianças -, mas indicou que o balanço pode ser maior. "As ações vergonhosas, covardes e brutais dos militares e da polícia - que foram filmados atirando nos manifestantes enquanto fugiam, e que nem sequer perdoaram as crianças pequenas - devem ser interrompidas imediatamente", afirmaram duas altas conselheiras das Nações Unidas, Alice Wairimu Nderitu e Michelle Bachelet, em comunicado conjunto.
A rede de TV do Exército deu conta de um balanço de 45 mortos e 552 detidos ontem. A emissora justificou a repressão alegando que os manifestantes usaram armas de fogo e bombas contra as forças de segurança.
Os rebeldes do estado de Karen, leste de Mianmar, afirmaram que foram alvos de ataques aéreos no sábado à noite, pouco depois deste grupo étnico armado assumir o controle de uma base militar.
Hsa Moo, da etnia karen e ativista dos direitos humanos, disse que três pessoas morreram e oito ficaram feridas.
Este é o primeiro ataque do tipo desde que o exército assumiu o poder. O alvo foi a V Brigada da União Nacional de Karen (KNU), um dos maiores grupos armados do país, que afirma representar a etnia.
Neste domingo, novos ataques aéreos provocaram a fuga de 2.000 pessoas de dois vilarejos do estado de Karen através da selva. Elas atravessaram a fronteira com a Tailândia, de acordo com Hsa Moo.
A junta organizou ontem um grande desfile de tropas e veículos militares na capital, Naypyidaw, onde o líder do governo, general Min Aung Hlaing, defendeu o golpe e prometeu ceder o poder após novas eleições. Ao mesmo tempo, no entanto, fez uma ameaça ao movimento de protesto contra o golpe ao declarar que eram inaceitáveis os atos de "terrorismo que possam ser prejudiciais para a tranquilidade e a segurança do Estado".
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