Depois de mais de US$ 50 bilhões (ou R$ 287,5 bilhões) em prejuízos e de transtornos para centenas de embarcações, o cargueiro MV Ever Given foi finalmente desencalhado e pôde seguir viagem, liberando o tráfego no Canal de Suez. “O almirante Osama Rabie, presidente da Autoridade do Canal de Suez (SCA), proclamou a retomada do tráfego de navegação no canal”, anunciou a entidade, por meio de um comunicado.
Na madrugada de ontem, o gigante de 400m de comprimento, 60m de altura e mais de 200 mil toneladas começou a se movimentar com a liberação de sua popa, até então imobilizada na margem ocidental do Canal de Suez.
Vários rebocadores prosseguiram com as manobras, até que o MV Ever Given voltou a encalhar brevemente, de acordo com sites de observação do tráfego de embarcações e de testemunhas no local. Por volta das 15h15 (10h15 em Brasília), o navio — de bandeira panamenha e operado por uma companhia de Taiwan — foi devolvido ao meio do canal, com popa e proa liberadas.
Assim que o navio foi desencalhado, barcos ao redor comemoraram a façanha com buzinaços, à medida que o MV Ever Given avançava lentamente na direção norte do canal, constataram jornalistas da agência France-Presse. “Conseguimos liberar!”, comemorou, por meio de um comunicado, a empresa proprietária da companhia encarregada do resgate do barco.
“Tenho o prazer de informar que nossa equipe de especialistas, em estreita colaboração com a Autoridade do Canal, desencalhou o Ever Given às 15h05”, disse o CEO da Royal BoskalisWestminster, Peter Berdowski, citado no comunicado à imprensa, parabenizando as equipes que enfrentaram esta “pressão óbvia e sem precedentes”.
De acordo com Berdowski, o desencalhe do cargueiro envolveu a remoção de 30 mil metros cúbicos de areia e a mobilização de 13 rebocadores. Ontem, o navio dirigiu-se a uma área do canal, a fim de ser inspecionado.
O resgate mal tinha chegado ao fim, e o presidente do Egito, Abdel Fattah Al-Sissi, tratou de parabenizar os envolvidos por uma “operação bem-sucedida”. O Canal de Suez, rota de 10% da navegação comercial do planeta, é fonte importante de renda para o país. “Hoje, os egípcios conseguiram pôr fim à crise do navio encalhado no Canal de Suez, apesar da grande complexidade técnica do processo”, tuitou o presidente. As autoridades do canal calculam que o Egito perde entre US$ 12 milhões (R$ 69 milhões) e US$ 14 milhões (R$ 80,5 milhões) por dia com o fechamento. Quase 19 mil navios usaram o canal em 2020, segundo a SCA
De acordo com a revista especializada britânica Lloyd’s List, o bloqueio criou um engarrafamento de 425 navios, que aguardavam para poderem atravessar essa rota essencial para o comércio marítimo que liga o Mar Vermelho ao Mediterrâneo. Levará “cerca de três dias e meio” para resolver tudo, advertiu o presidente da Autoridade do Canal, Ossama Rabie, em entrevista à emissora local Sadaa Al-Balad.
Apesar de o incidente ter sido atribuído em um primeiro momento aos fortes ventos combinados com uma tempestade de areia, Rabie não descartou no sábado que uma “falha humana” possa ter provocado o bloqueio. Ao longo da estrada que corta a modesta aldeia de Manchyet Al-Rougoula, os habitantes observaram impressionados como o imenso navio se movia. ”Estamos contentes de ver o navio se mover graças a Deus”, disse um morador, que pediu o anonimato.
Mais de 150 anos de história
Com um comprimento de 193,3km e 24m de profundidade, o Canal de Suez foi inaugurado em 1869 e nacionalizado pelo presidente egípcio, Gamal Abdel Nasser, 87 anos depois. A via marítima, que une o Golfo de Suez e o Mar Mediterrâneo, é utilizada por navios de até 240 mil toneladas e 66 pés (20,1m). Todos os dias, uma média de 50 embarcações atravessam o canal — 47 a mais do que em 1869. Uma nova ampliação deverá dobrar o tráfego diário para 100 barcos em dois anos.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.