"Libertem-nos, aqui nos asfixiamos!" No campo de Lesbos, Grécia, os migrantes avançam sobre o grupo de jornalistas autorizados excepcionalmente a percorrer algumas fileiras de barracas, para relatar que estão fartos de serem tratados há sete meses "como porcos".
Ele é chamado de Mavrovouni, nome grego da montanha onde foi erguido o "Moria 2.0", montado às pressas após o incêndio no gigantesco campo de Moria, em setembro passado. Embora todos concordem que "a segurança é melhor" do que no campo anterior, não se pode dizer o mesmo das condições de vida. "As pessoas se queixam de tudo, principalmente no inverno, com as chuvas fortes, sem calefação. Faz muito frio", conta à AFP Raed Alobeed, 45, refugiado sírio que criou uma organização de ajuda aos solicitantes de asilo.
Nas barracas desse campo provisório, que deve ser substituído no próximo inverno por um novo centro para solicitantes de asilo, "as noites são extremamente frias, o que é muito difícil com um bebê de 5 meses", relata a síria Abdelkhader Ali, 25.
Em um antigo terreno do Exército, exposto ao tempo inclemente, "a chuva molha as barracas, mas é melhor do que nada", diz o somali Shafi Dibiere, 27. Para o jovem Bakari, do Mali, "é um pouco melhor do que no Moria, mas há três dias não podemos tomar banho".
Não há água quente e são poucos os chuveiros e banheiros. "As condições sanitárias e higiênicas não são boas", lamenta Jacques, procedente da República Democrática do Congo (RDC). "Pelo menos, aqui a polícia trabalha, estamos mais seguros do que no Moria."
- Violência frequente -
A violência era frequente no "antigo campo de Moria", lembra Raed Alobeed. Estupravam as mulheres, "esfaqueavam pessoas, roubos, máfia, venda de drogas, etc..Aqui isso quase não existe, com cerca de 300 policiais", assinala o refugiado sírio.
Mas para o congolês Jogo, que, como muitos, não revela o nome verdadeiro, "a polícia só vem quando há brigas. Aqui não vivemos, somos como porcos". "Temos que nos arrumar com o que nos dão, duas refeições diárias", conta Jacques. "Não há nenhum lugar para procurar comida."
Devido ao confinamento, os migrantes só podem sair uma ou duas vezes por semana. No antigo Moria, eles podiam ir até a cidade para fazer compras. A falta de liberdade é a principal queixa dos migrantes do Mavrovouni. E também o cansaço, após meses ou anos aguardando o asilo.
Durante a visita do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur), surgem jornalistas sob escolta policial, autorizados a falar com os migrantes por alguns minutos nesta segunda-feira (30/3), por ocasião da visita a Lesbos da comissária europeia Ylva Johansson.
"Isto é uma prisão, não podemos fazer nada", queixa-se o afegão Jawed, 34, que esperava poder falar com a comissária. Mas no fim, Ylva não compareceu ao encontro. Ao chegar a Mavrovouni, uma multidão de migrantes cercou o avião da comissária e, depois, seu carro.
O sírio Ahad, pai de sete filhos, teme que o devolvam à Turquia, após ter seu pedido de asilo rejeitado três vezes."Gostamos da Grécia, por que a Grécia não gosta de nós?", pergunta Cédric, procedente da RDC.
"Libertem-nos, vocês têm que nos libertar!", gritam mulheres do Mali e da RDC, enquanto se dirigem à saída do campo. Uma delas, que vive em Lesbos desde 2019, diz à AFP: "Já passei pela grande entrevista, e nada acontece. Quero sair daqui, libertem-nos, por favor. Queremos ir para a escola, queremos construir nossa família." Quando os portões se fecham atrás dos jornalistas, ela grita: "Aqui nos asfixiamos!"
Por Chantal VALERY
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