ESTADOS UNIDOS

Plano para criar milhões de empregos

Joe Biden anuncia pacote de US$ 2 trilhões para revitalizar a infraestrutura do país, impulsionar a economia e enfrentar a ameaça representada pela China. Casa Branca pretende revolucionar a indústria de carros elétricos

Correio Braziliense
postado em 31/03/2021 22:14
 (crédito: Jim Watson/AFP)
(crédito: Jim Watson/AFP)

O local escolhido para o discurso mais importante de Joe Biden em 70 dias de governo foi simbólico: um centro de treinamento de carpinteiros na cidade de Pittsburgh (Pensilvânia), a cerca de 400km da Casa Branca. O presidente dos Estados Unidos anunciou um plano de US$ 2 trilhões (cerca de R$ 11,2 trilhões) para revitalizar a infraestrutura do país, criar “milhões de empregos”, alavancar a energia limpa e vencer a competição econômica com a China. “Estou propondo um investimento único em uma geração, no futuro da América, de algo em torno de US$ 2 trilhões. Ao longo de oito anos, ele gerará crescimento histórico de empregos e da economia, ajudará as empresa a competirem internacionalmente e criará mais receita”, declarou Biden. Na prática, o Estado passará a ter mais presença na economia.
“A criação de milhões de empregos bem pagos fará com que a economia cresça, nos tornará mais competitivos ao redor do mundo, promoverá nossos interesses de segurança nacional e nos colocará em uma posição de ganhar a competição com China”, acrescentou. O chamado Plano de Empregos Americanos (veja quadro) busca reconstruir a economia norte-americana, castigada pelos efeitos da pandemia da covid-19, e se focará nos setores de transportes, indústria e internet. De acordo com a Casa Branca, o investimento público doméstico, enquanto parcela da economia, caiu mais de 40 pontos percentuais desde a década de 1960.
“O plano do presidente unificará e mobilizará o país para atender aos grandes desafios de nosso tempo: a crise climática e as ambições de uma China autocrática”, afirmou a Presidência dos EUA, por meio de um comunicado. “É grande, é ousado, mas nós podemos fazê-lo”, assegurou Biden. O fortalecimento da economia exigiria sacrifícios. O democrata pretende aumentar a alíquota do imposto corporativo de 21% para 28%, considerado entre os níveis mais baixos desde a Segunda Guerra Mundial.O pacote também visa pôr fim a desigualdades raciais, com o repasse de US$ 10 bilhões para pesquisa e desenvolvimento em universidades e faculdades historicamente frequentadas por negros e outras minorias. Outros US$ 15 bilhões ajudarão a estabelecer centros de excelência, nas mesmas instituições, para a concessão de bolsas de graduação.

Críticas

A proposta de Biden encontra resistência dentro do próprio Partido Democrata. A ala progressista da legenda governista aponta que as medidas não são ambiciosas o bastante, particularmente no combate às mudanças climáticas. A previsão é de investir US$ 174 milhões (R$ 979 milhões) para impulsionar o mercado de veículos elétricos e construir uma rede nacional de carros movidos a eletricidade durante a próxima década, segundo o site The Hill. O acesso à internet receberá reforço de US$ 100 bilhões (R$ 563 bilhões) na ampliação da banda larga para todos os americanos, especialmente em áreas rurais e em comunidades carentes.
No entanto, alguns democratas e historiadores comparam a iniciativa de Biden ao “Novo Pacto” do ex-presidente Frankkin Delano Roosevelt, o qual retirou os EUA da Grande Depressão (1929-1939). Grupos empresariais expressaram seu desacordo com a ideia. A Câmara de Comércio dos Estados Unidos estimou que as propostas para financiar o plano de infraestrutura são “perigosamente equivocadas” e observou que um aumento de impostos diminuirá o ritmo de retomada “e tornará os EUA menos competitivos”.
A organização Business Roundtable, que concentra as maiores empresas norte-americanas, se opôs “fortemente” a qualquer reajuste dos impostos e defendeu um modelo em que as despesas sejam financiadas pelos usuários da infraestrutura, alternativa que não satisfaz o governo. O Executivo espera desestimular a realocação da produção e empregos, e a evasão tributária, ao impor também uma alíquota mínima de 21% sobre o faturamento das empresas no exterior. Também planeja eliminar subsídios às indústrias de petróleo e gás.
Para Dean Baker, economista do Centro de Pesquisa Econômica e Política (CEPR), o aumento do imposto de renda empresarial “não é um salto para o desconhecido”. “Os cortes de impostos por Trump não existem há décadas”, acrescentou. O aumento de impostos pode afetar os investimentos de empresas estrangeiras, que podem se voltar para outros países, reconhece Thornton Matheson, do Urban-Brookings Tax Policy Center. Mas os Estados Unidos “continuam sendo uma economia grande e dinâmica que pode suportar uma taxa média de impostos um pouco mais alta do que os países menores”, resumiu.

» A cruzada do governo democrata

Os principais pontos do plano de joe biden para estimular a economia norte-americana

Valor
O plano anunciado, ontem, por Joe Biden prevê liberação de US$ 2 trilhões (R$ 11,2 trilhões) a serem aplicados durante oito anos.

Infraestrutura
A proposta do democrata inclui amplo investimento em infraestrutura física, como rodovias, sistemas de trânsito e de carregamento de veículos elétricos, além da reforma de tubulações da rede de água e do fornecimento de energia elétrica. Serão destinados US$ 620 bilhões para o setor de transportes, a fim de modernizar mais de 32 mil quilômetros de estradas e rodovias, além do conserto de quase 10 mil pontes no país.

Impostos
Biden quer aumentar a alíquota do imposto corporativo de 21% para
28% e envidar esforços para que multinacionais paguem mais impostos sobre os lucros que obtêm e contabilizam no exterior. A intenção é arrecadar US$ 1 trilhão em 15 anos.

Empregos
A Casa Branca pretende criar milhões de empregos, mas não ofereceu um cronograma. Biden estima o surgimento de 18 milhões de postos de trabalho.

Mudanças climáticas
Biden quer inanciar a instalação de 500 mil estações de carregamento para carros elétricos até 2030, além de estimular a compra desses veículos. Ao menos
US$ 100 bilhões serão usados para atualizar a rede elétrica do país, ficando mais resiliente a desastres climáticos.

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