Mianmar

Junta afirma que líder de Mianmar violou lei sobre segredos de Estado

Aung Suu Kyi era alvo de outras acusações, entre elas "incitação à desordem pública" e recebimento de subornos, mas ainda não foi indiciada por corrupção

Agência France-Presse
postado em 01/04/2021 18:08 / atualizado em 01/04/2021 18:08
 (crédito:  KOEN VAN WEEL)
(crédito: KOEN VAN WEEL)

A líder birmanesa, Aung San Suu Kyi, destituída pelos militares, foi acusada de ter violado uma lei sobre segredos de Estado que data da época colonial, informou seu advogado nesta quinta-feira (1°/4), depois que a enviada da ONU alertou para o risco de guerra civil.

Mais de 535 pessoas, entre elas vários estudantes, adolescentes e crianças, morreram vítimas da repressão do regime às manifestações contra o golpe de Estado de 1º de fevereiro, segundo a Associação para a Assistência a Presos Políticos (AAPP). Centenas de pessoas foram detidas, e muitas estão desaparecidas, disse a AAPP.

Além disso, a junta ordenou aos provedores de internet birmaneses que cortem todas as conexões wi-fi, a fim de limitar as comunicações, informou nesta quinta-feira a empresa de telecomunicações Ooredoo.

Antes disso, Aung Suu Kyi, 75, prestou depoimento por videoconferência ante um tribunal em Naipyidó, capital do país, em um audiência para designar seus oito advogados de defesa.

Ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, ela "parece estar bem de saúde", disse um de seus advogados, Min Min Soe, na última quarta-feira (31/3), após falar com ela também por videoconferência. "Estava brilhante e encantadora como sempre", comentou o advogado Khin Maung Zaw.

Mais tarde, Zaw explicou à AFP que Aung Suu Kyi foi acusada de violar uma lei sobre segredos de Estado em um processo aberto no último dia 25. Ela já era alvo de outras acusações, entre elas "incitação à desordem pública". Também é acusada de receber subornos, mas ainda não foi indiciada por corrupção".

A líder birmanesa poderia ser condenada a vários anos de prisão e ser banida para sempre da vida política.

- Constituições incendiadas -


Deputados de seu partido, a Liga Nacional para a Democracia (LND), anunciaram na quarta-feira a formação na primeira semana de abril de "um novo governo civil" de resistência.

Na clandestinidade desde o golpe de Estado, também anunciaram que a Constituição de 2008 elaborada pelo regime militar anterior estava "anulada".

Manifestantes queimaram na quinta-feira (1°/4) uma pilha de cópias do documento em uma rua de Yangon, a capital econômica, onde incendiaram durante a madrugada os supermercados do Exército.

Um manifestante de 31 anos morreu em Monywa (centro) e outros dez ficaram feridos, disse um socorrista à AFP.

Nesta quinta-feira, os manifestantes realizaram vigílias à luz de velas e orações em silêncio em memória dos "mártires" que morreram nos últimos dois meses.

A Federação Internacional de Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho acusou as forças de segurança de "deter injustificadamente, intimidar e ferir" os socorristas.

No dia anterior, em uma reunião a portas fechadas do Conselho de Segurança da ONU, sua enviada para Mianmar Christine Schraner Burgener alertou sobre a possibilidade de uma "guerra civil em um nível sem precedentes".

"Exorto este Conselho a considerar todos os meios à sua disposição para tomar medidas coletivas e fazer o que for necessário, o que o povo birmanês merece, para evitar uma catástrofe multidimensional no coração da Ásia", frisou.

- Sanções do Reino Unido -


No entanto, os 15 membros do Conselho de Segurança não conseguiram superar as divisões. Estados Unidos e Reino Unido defenderam a proposta de que a ONU aplique sanções à junta militar. A China, um aliado tradicional das Forças Armadas birmanesas, rejeitou a ideia, embora tenha pedido "a volta da transição democrática".

Nesta quinta, o Reino Unido anunciou novas sanções a interesses financeiros da junta militar, impondo medidas contra um segundo conglomerado ligado ao Exército. Depois de aplicar sanções, na semana passada ao Myanmar Economic Holdings Ltd (MEHL), o governo britânico mira agora na Myanmar Economic Corporation (MEC).

Ambas as empresas já haviam sido afetadas por medidas punitivas de Washington na semana passada.

"As últimas ações do Reino Unido se dirigem a uma das principais fontes de financiamento do Exército e fazem-no pagar por suas violações dos direitos humanos", afirmou o chanceler britânica, Dominic Raab, em um comunicado.

Estas sanções contra a MEC "serão aplicadas imediatamente" diante das "graves violações dos direitos humanos", nas quais está envolvido este conglomerado, acrescenta o ministro.

Dirigido por antigos e atuais oficiais militares birmaneses, o conglomerado usa sua receita para financiar o Exército.

"Dois meses depois do golpe de Estado, os militares birmaneses foram ainda mais baixo, ao matar pessoas inocentes, incluindo crianças", denunciou Raab.

"Estas novas sanções são outro passo positivo do governo britânico", celebrou a diretora da Burma Campaign UK, Anna Roberts, pedindo, no entanto, que Londres "faça mais".

O Reino Unido já havia aplicado punições a vários integrantes do alto escalão da junta birmanesa, o comandante em chefe do Exército, Min Aung Hlaing, por seu papel no golpe militar.

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