Um convite ao recomeço e à esperança. Foi a mensagem do papa Francisco a milhões de cristãos que comemoram a Páscoa, neste domingo (4/4), em meio a medidas de restrição social para conter o avanço da covid-19. “Nestes meses sombrios de pandemia, escutamos o Senhor ressuscitado, que nos convida a recomeçar, a jamais perder a esperança”, afirmou o pontífice, durante a tradicional Vigília Pascal, celebrada na noite deste sábado (3/4) em uma quase vazia Basílica de São Pedro, no Vaticano. Durante a missa, cardeais e bispos usaram máscaras, mas não respeitaram o distanciamento. “Mesmo dos escombros do nosso coração — cada um de nós os conhecemos —, Deus pode construir uma obra de arte. Mesmo dos fragmentos em ruínas da nossa humanidade, Deus prepara uma nova história. Ele sempre nos precede: na cruz do sofrimento, da desolação e da morte, assim como na glória de uma vida que renasce, de uma história que muda, de uma esperança que renasce”, acrescentou.
Dos lados de fora da Cidade do Vaticano, os moradores de Roma e de toda a Itália começaram, ontem, um rígido confinamento. Todo o território italiano passou a ser considerado “zona vermelha” — um indicativo de alto risco de contágio. O país enfrenta a terceira onda da pandemia da covid-19. “Em média, temos 20 mil infecções diárias, e as UTIs estão sob pressão. A taxa de mortes por 100 mil habitantes também é das mais altas do mundo”, lamentou ao Correio o farmacêutico italiano Davide Matichecchia, 39 anos, que mora em Novara, localidade situada a 600km de Roma e a 45km de Milão. “Não podemos sair da cidade, exceto para trabalhar, cuidar da saúde ou outros motivos essenciais. Os bares e restaurantes somente funcionam no esquema de delivery. Temos toque de recolher a partir das 22h”, relatou. Até o fechamento desta edição, a Itália contabilizava 3,6 milhões de casos da covid-19 e 110.328 mortes.
Católico, Davide disse resignar-se a permanecer em casa durante a Páscoa. “Por conta de minha profissão, vi tantas pessoas morrerem ou terem covid-19, e isso me deixa triste. Por isso, eu aceito a perda da liberdade de ir e vir. Gosto de viajar. Então, ficar em casa tem sido difícil. Mas isso não se compara ao sofrimento direto causado pela pandemia”, afirmou. Muitas famílias decidiram cancelar o almoço de Páscoa, hoje. Natural de Salvador, Antônio Fabio dos Santos Silva disse à reportagem que as restrições sociais mudaram muitas coisas na Itália. “Neste domingo, ficarei em casa. Entre as limitações impostas pelas autoridades, estão a proibição de ir de uma região a outra com mais de 5 mil habitantes e não poder visitar mais de duas pessoas por dia”, explicou o o instrutor de capoeira, que vive em Roma desde 2016.
Morador de Broni, uma pequena cidade da província de Pádua situada a 400km de Roma, o psicólogo paranaense Rafael Battalini disse que um novo decreto do governo impede que os cidadãos ultrapassem um raio de 30km dos municípios com menos de 3 mil moradores, chamados de comunes. “Não há muito a fazer, a não ser ficar em casa. Hoje, devo passar a Páscoa com dois vizinhos que moram literalmente do lado de casa. A gente resolveu se encontrar, beber um vinho e comer um peixe”, afirmou à reportagem.
Franceses e alemães
Com 63% de cristãos, a França também colocou em vigor, na noite de ontem, uma série de medidas para tentar conter a disseminação do Sars-CoV-2. Entre elas, estão o toque de recolher a partir das 19h; o fechamento do comércio não essencial; proibição de viagens interestaduais e de aglomerações e festas; além da obrigação de apresentar um atestado para percorrer distâncias superiores a 10km da residência.
Apesar do recuo na imposição de uma quarentena, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, pediu aos cidadãos que evitem ao máximo possível as reuniões durante a Páscoa. A chefe de governo exortou a população a “uma celebração tranquila, em círculos pequenos, com contatos reduzidos”. Em Stuttgart (oeste), milhares de pessoas — muitas delas sem máscaras — se concentraram nas ruas para protestar contra o lockdown.
Outros países
No Paquistão, onde os cristãos e católicos são minoria absoluta, o temor da covid-19 levou um caminhão-pipa a lançar jatos de desinfetante sobre a Catedral de São João, na cidade de Peshawar. No interior do templo, trabalhadores encapuzados também realizam o processo de desinfecção antes das missas. Em Jerusalém, um dos locais mais sagrados para o cristianismo foi palco, ontem, de celebrações. Dentro da Igreja do Santo Sepulcro, onde Jesus Cristo teria sido crucificado e sepultado, multidões de fiéis participaram das orações. Alguns não hesitaram em tocar a Pedra da Unção, placa de calcário avermelhado sobre a qual foi embalsamado o corpo de Cristo antes de ser sepultado, segundo a tradição.
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