A seis dias do segundo turno das eleições presidenciais no Equador, analistas evitam cravar o resultado das urnas. As pesquisas mais recentes apontam empate técnico entre o esquerdista Andrés Arauz e o direitista Guillermo Lasso, que batalham lado a lado os mais de 1,7 milhão de votos dados no primeiro turno a Yaku Pérez, do partido indígena Pachakutik, sem envolvimento com os candidatos remanescentes na corrida ao Palácio de Carondelet. São eles a chave para a definição das eleições.
Arauz, afilhado político do ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017), e Lasso, ex-banqueiro conservador e adversário ferrenho do ex-chefe de governo, enfrentam-se para substituir Lenín Moreno. Após quatro anos na Presidência, Moreno passará o poder ao eleito em 24 de maio com a credibilidade no chão.
Após um primeiro turno agitado, em 7 de fevereiro, no qual Pérez denunciou fraude por ter sido marginalizado das urnas com apenas 0,35 ponto percentual de diferença frente a Lasso, os dois candidatos finalistas estão envolvidos em uma campanha feroz. O líder indígena esquerdista obteve 1.797.455 votos.
No segundo turno, ao se tornar a segunda força no Legislativo, o Pachakutik, braço político do maior movimento indígena, distanciou-se dos dois candidatos nas urnas, o que deixa no ar para onde irão os 19,39% de eleitores que os apoiaram no primeiro turno. No sábado, já na reta final para a votação, o presidente do movimento indígena equatoriano, Jaime Vargas, externou apoio a Arauz, o que pode favorecê-lo.
Incerteza
Por força da lei, as pesquisas eleitorais no Equador só podem ser divulgadas até 10 dias antes da votação. No decorrer da campanha, várias sondagens colocaram Arauz na frente com quase uma dezena de pontos. Entretanto, nas últimas consultas, os dois candidatos apareceram basicamente com a mesma intenção de votos.
A derradeira pesquisa realizada pela Market mostrou um empate técnico entre Arauz, 36 anos, candidato pelo partido de esquerda União pela Esperança (Unes), e Lasso, 65, fundador do movimento Criando Oportunidades (Creo). O resultado aferiu que 50% votarão em Arauz e 49% em Lasso, com uma diferença de cerca de 70 mil votos.
Com essa projeção, as perspectivas para a votação de 11 de abril são totalmente incertas, ressaltou Blasco Peñaherrera, diretor da Market, à agência de notícias France-Presse (AFP). Ele acrescentou que “esse capítulo não está encerrado”.
Peñaherrera destacou, porém, que o crescimento eleitoral de Lasso era “muito maior” do que o de Arauz. O cientista político Santiago Basabe, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), de Quito, concordou. O número de indecisos, que ao fim do primeiro turno girava em torno de 35%, caiu para 8%.
Outra pesquisa, da Cedatos, encerrada em 30 de março, mostrou Lasso com 52% e Arauz com 48%. “Embora qualquer um dos dois possa vencer, parece-me que as chances de Arauz são maiores”, ressaltou Basabe.
Se isso acontecer, a consequência imediata será, segundo o cientista política, a volta de Rafael Correa ao cenário político e mesmo ao Equador. Depois de deixar o cargo em 2017, o ex-presidente mudou-se para a Bélgica, onde sua esposa nasceu, e começaram a surgir processos contra ele e uma disputa com seu ex-aliado Moreno.
Um dos primeiros focos do novo coronavírus na América Latina, o Equador soma mais de 330 mil casos da covid-19 e quase 17 mil mortes decorrentes da doença. “Vivemos uma situação de desgoverno nos últimos meses”, opinou Basabe.
Com a economia dolarizada, atingida pela pandemia, o país teve retração de 7,8% em 2020. As autoridades estimam que este ano haja crescimento de 3,5%. Nesse contexto, observou Pablo Romero, da Universidade Salesiana, “há um sentimento de que já não importa quem vencer, mas precisamos de uma mudança imediatamente”.
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