Groenlândia define seu novo Parlamento nesta terça-feira (6/4) em eleições antecipadas provocadas por um polêmico projeto de mineração que divide o território autônomo dinamarquês no Ártico, alvo de um crescente apetite estrangeiro em um contexto de mudanças climáticas.
Nesta imensa ilha de apenas 56.000 habitantes e quase 40.000 eleitores, os dois principais partidos travam uma batalha sobre a autorização do projeto de mineração de terras raras e de urânio em Kuannersuit (sul).
Os defensores do projeto, incluindo o partido socialdemocrata Siumut, que está no poder mas aparece em desvantagem nas pesquisas, consideram a mineração um recurso importante para uma pequena economia que ainda depende em grande medida dos subsídios da Dinamarca.
O Partido Inuit (IA), de esquerda e ecologista, apontado como favorito nas pesquisas, considera que o projeto é uma ameaça para o extraordinário e frágil meio ambiente local, que já enfrenta o fantasma da mudança climática acelerada.
Sete partidos disputam as 31 cadeiras do Parlamento local, o Intsisartut. Os resultados devem ser divulgados à noite, ou durante a madrugada de quarta-feira (7/4).
Se a vida política local não provoca grandes paixões desde a autonomia de 1979, a situação geográfica da ilha representa um verdadeiro desafio para as grandes potências, como ficou evidente em 2019 quando o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu comprar o território, ante as crescentes ambições de Rússia e China no Ártico.
A Groenlândia não está à venda, mas o governo local tenta atrair investidores estrangeiros, elemento-chave de uma possível independência.
A ilha tem competência sobre seus recursos de mineração desde 2009. Um ano depois, o grupo australiano de capital chinês Greenland Minerals obteve uma licença de exploração das jazidas de Kuannarsuit, mas ainda falta uma autorização das autoridades locais e nacionais.
Em fevereiro, a exploração das jazidas provocou uma crise política que resultou na convocação antecipada de eleições, após a saída do governo de um pequeno partido aliado ao Simiut.
Além da mineração, a campanha eleitoral também se concentrou na pesca, o setor econômico mais importante da maior ilha do mundo (sem considerar a ilha continente da Austrália), nas questões sociais e na identidade cultural, no momento em que os jovens recuperam os costumes inuits e questionam a herança colonial dinamarquesa.
Liderado por Mute Egede, deputado de 34 anos, o IA lidera as pesquisas com 36% das intenções voto, 10 pontos a mais que o registrado nas eleições de 2018.
O Siumut, no poder de maneira quase ininterrupta há quatro décadas, tem 23% nas pesquisas, um retrocesso de quatro pontos.
Mas o resultado das eleições é incerto, segundo o cientista político Rasmus Leander Nielsen, da Universidade da Groenlândia, pois é pouco provável que um partido conquiste a maioria absoluta.
O Partido Inuit defende uma moratória sobre o urânio que suspenderia de fato a autorização de exploração da jazida, considerada uma das mais importantes do mundo em terras raras.
Para Erik Jensen, presidente do Siumut, a mineração "significaria muito para o desenvolvimento da economia da Groenlândia", ao permitir a diversificação das receitas.
Copenhague afirma que não é contra a independência, mas uma emancipação total privaria a Groenlândia dos generosos subsídios dinamarqueses, mais de 520 milhões de euros por ano (610 milhões de dólares), ou seja, um terço de seu orçamento.
A Groenlândia foi um dos poucos territórios a não assinar o Acordo de Paris sobre a mudança climática, com o objetivo de preservar possíveis projetos de mineração.
Desde os anos 1990, no entanto, a mudança climática é duas vezes mais rápida no Polo Norte do que em outras partes do globo e afeta o modo de vida tradicional dos inuits, ao tornar a caça mais difícil. Este grupo constitui mais de 90% da população da Groenlândia.
Em caso de vitória nas urnas, o Partido Inuit prometeu assinar o acordo.
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