Desde 2018, os peruanos viram quatro presidentes passarem pela Casa de Pizarro, num período turbulento, marcado por denúncias de corrupção contra a elite política do pais. Hoje, os eleitores escolherão o novo governante em meio a um número recorde de casos e mortes por coronavírus, ao fim de uma campanha totalmente atípica. Dezoito candidatos disputam o cargo, sem favoritos.
De acordo com as pesquisas, nenhum candidato ultrapassa 10% das intenções de voto. Num cenário totalmente incerto, as projeções sugerem que sete têm a possibilidade de chegar ao segundo turno, previsto para 6 de junho. A ampla disputa não deixa de surpreender. Afinal, nas últimas décadas, ser presidente do Peru se revelou um desafio que já terminou mal na maior parte das ocasiões.
Dos 10 líderes desde o fim do regime militar, em 1980, apenas Fernando Belaunde Terry (1980-1985) e Valentín Paniagua (oito meses entre 2000 e 2001) ficaram ilesos. Na lista, há condenados, investigados e até mortos. Em abril de 2019, o então líder do partido social-democrata Apra, Alan García, deu um tiro na própria cabeça quando estava prestes a ser detido pela polícia em sua casa, em Lima. Acusado de envolvimento em corrupção, ele tinha 69 anos.
Estão na corrida 10 candidatos de direita ou centro-direita, quatro de esquerda, três nacionalistas e um de centro. Segundo as pesquisas, os presidenciáveis com maiores chances de bom desempenho nas urnas são o ex-legislador Yonhy Lescano (centro, direita), a antropóloga Verónika Mendoza (esquerda), o economista Hernando de Soto (direita), Keiko Fujimori (populista, direita), o ex-jogador de futebol George Forsyth (centro, direita), o professor e sindicalista Pedro Castillo (esquerda radical) e o empresário Rafael López Aliaga (extrema-direita).
“Temos o pior cenário possível para este domingo: fragmentação e polarização”, opinou o cientista político Carlos Meléndez. “São as eleições mais fragmentadas da história, nunca vimos tantos candidatos como opção”, disse, por sua vez, o diretor da empresa de pesquisa Ipsos, Alfredo Torres.
A incerteza eleitoral abalou os mercados, aumentando a cotação do dólar até o recorde de 3,8 soles. Depois de crescer durante anos acima da média latino-americana, a economia peruana retraiu no último ano em 11,12%, o pior número em três décadas, aumentando o desemprego e a pobreza.
A votação de hoje também vai renovar o Congresso unicameral de 130 membros. O Legislativo passa por crises políticas recorrentes desde 2016, que atingiram seu auge em novembro, com três presidentes em cinco dias.
“O importante é ir às urnas e poder escolher. Que seja uma festa democrática”, declarou Keiko, filha do ex-presidente preso Alberto Fujimori (1990-2000), ao encerrar sua campanha no populoso bairro de Lima, Villa El Salvador, na quinta-feira. Enquanto isso, Yonhy Lescano se declarou “feliz por ter viajado por todo o Peru”, em seu último comício.
No Peru, o voto é obrigatório, e o Gabinete Nacional Eleitoral (ONPE) prevê a participação de “nove entre 10 peruanos”, apesar da pandemia do novo coronavírus, que não dá trégua. A segunda onda registra um recorde de quase 13 mil infecções e 314 mortes por dia.
A imunização contra a covid-19 começou há dois meses, mas está progredindo lentamente. Por enquanto, chegou apenas ao pessoal da linha de frente e aos idosos, levando todos os candidatos a prometer uma vacinação acelerada. O Peru acumula 54 mil mortes em 1,6 milhão de casos. Entre os infectados, estão cinco presidenciáveis. Os últimos foram Forsyth, que teve de encerrar sua campanha virtualmente, e José Vega, de um partido nacionalista minoritário.
Para evitar multidões, os locais de votação ficarão abertos por 12 horas, quatro a mais do que o normal. Cada eleitor deve comparecer em horário pré-determinado, de acordo com o último dígito do documento de identidade. Estão convocados às urnas 25 milhões dos 33 milhões de peruanos.
O ONPE prometeu divulgar os primeiros resultados oficiais por volta das 23h30 locais (1h30 da segunda-feira em Brasília), mas a apuração dos votos para o Legislativo pode levar alguns dias.
Cerca de 160 mil policiais e militares foram destacados para garantir a segurança do processo. Desses, 8 mil soldados protegerão os 1.298 centros de votação do maior vale ‘cocaleiro’ do país, onde operam os remanescentes da guerrilha Sendero Luminoso associados a gangues do narcotráfico. O futuro presidente e os novos integrantes do Congresso tomarão posse em 28 de julho, dia em que o Peru comemora o bicentenário de sua independência.
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Resultado nimprevisível
Eleitores equatorianos escolhem, hoje, seu próximo presidente, em votação de segundo turno, num cenário de incerteza. A disputa pela sucessão do impopular Lenín Moreno está entre o economista de esquerda Andrés Arauz, afilhado político de Rafael Correa, e Guillermo Lasso, ex-banqueiro pró-mercado, em um duelo de gerações e estilos.
As mais recentes pesquisas de intenção de votos mostram um empate técnico entre os dois candidatos. O embate, preveem analistas, será decidido pela grande massa social do partido indígena, que preferiu não se envolver com nenhuma das duas campanhas.
No agitado primeiro turno, em 7 de fevereiro, o líder indígena esquerdista Yaku Pérez denunciou fraude por ter sido marginalizado das urnas com apenas 0,35 ponto percentual de diferença ante Lasso. Várias pesquisas colocaram Arauz na frente com quase uma dezena de pontos, mas, nos últimos dias, houve uma reviravolta.
A última consulta da Market mostrou uma divisão do eleitorado, com 50% dos votos para Arauz, de 36 anos, e 49% para Lasso, 65. Uma diferença de cerca de 70 mil votos. O número de indecisos, que ao fim do primeiro turno girava em torno de 35%, caiu para 8%.