Após três semanas em greve de fome, o opositor russo Alexei Navalny foi transferido, ontem, do presídio para um centro hospitalar de detentos, distante cerca de 100km de Moscou. A decisão foi anunciada pelo governo de Vladimir Putin um dia depois dos alertas internacionais sobre as eventuais consequências caso o adversário do Kremlin viesse a morrer por falta de atendimento médico. Enquanto isso, em Bruxelas, os chefes da diplomacia da União Europeia (UE) iniciaram uma reunião por videoconferência para discutir o aumento da tensão com a Rússia.
“O estado de saúde de Navalny é considerado satisfatório atualmente”, informou o serviço penitenciário russo, acrescentando que o líder opositor aceitou uma “terapia com vitaminas”. Durante o fim de semana, amigos de Navalny afirmaram que ele estava praticamente à beira da morte.
Navalny iniciou a greve de fome em 31 de março em protesto contra as condições de sua detenção. Ele acusou a administração penitenciária de impedir o acesso de um médico e de remédios, apesar de sofrer uma dupla hérnia de disco, explicam os seus advogados. No domingo, médicos ressaltaram ter sido impedidos de visitá-lo na prisão.
Em meio a essa situação, aliados do opositor convocaram uma mobilização para as 19h de amanhã (13h de Brasília), que desejam transformar na “maior manifestação da história moderna” do país. O protesto está marcado para o mesmo dia do discurso que Putin fará no Parlamento, quando ele pretende falar sobre os objetivos de desenvolvimento da Rússia e as eleições legislativas do segundo semestre deste ano.
“Putin proíbe explicitamente qualquer atividade da oposição na Rússia. Isso significa que esta concentração pode ser a última do país nos próximos anos. Mas nosso poder é mudar”, escreveu no Facebook um dos principais colaboradores de Navalny, Leonid Volkov.
Um site criado pela oposição há algumas semanas para que os russos que desejam protestar façam uma inscrição registrava a adesão de 460 mil pessoas no domingo. O Ministério do Interior da Rússia, no entanto, advertiu que não permitirá o que chamou de “desestabilização” e que adotará “todas as medidas necessárias”.
Pressão
A situação de Navalny acabou se tornando um dos principais tópicos da pauta da reunião dos chanceleres da UE, que, inicialmente, estava destinada a discutir o agravamento das tensões com a Rússia na Ucrânia. Pouco antes do início do encontro virtual, o chefe da diplomacia do bloco europeu, Josep Borrell, responsabilizou diretamente “as autoridades da Rússia pela situação de saúde” do líder opositor.
O porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov, rejeitou de forma enfática os comentários de autoridades ocidentais. “Não podemos aceitar essas declarações por parte de representantes de outros governos”, declarou, assinalando que o assunto “não deve ter maior interesse para eles”.
Navalny retornou em janeiro à Rússia, depois de cinco meses de convalescença na Alemanha devido a um envenenamento que ele atribui ao Kremlin. Ao desembacar no país, ele foi detido imediatamente e condenado a dois anos e meio de prisão por uma antiga acusação de fraude, um processo que o opositor denuncia como politicamente motivado.
A decisão russa de aumentar suas tropas e organizar exercícios militares na fronteira com a Ucrânia também preocupa Bruxelas. “A situação é muito perigosa, e pedimos à Rússia que retire suas tropas”, disse Borrell.
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