EUA

Ex-policial culpado pela morte de Floyd

Júri popular condena Derek Chauvin por assassinato em segundo e terceiro graus e homicídio culposo, o que pode resultar em uma pena de até 40 anos. Réu, que estava em liberdade, é preso e deixa tribunal algemado. Casa Branca comemora o veredito

Correio Braziliense
postado em 20/04/2021 23:01
 (crédito: Scott Olson/AFP)
(crédito: Scott Olson/AFP)

Gritos ecoaram em meio a abraços de comemoração em frente ao Tribunal de Mineápolis, enquanto, no interior do prédio, o juiz Peter Cahill proferia o veredito: por decisão unânime dos 12 jurados, o ex-policial branco Derek Chauvin foi declarado culpado pelo assassinato do segurança afro-americano George Floyd, morto por asfixia em 25 de maio do ano passado. Duas horas depois, na Casa Branca, o presidente Joe Biden e sua vice, Kamala Harris, celebraram o veredito do caso, que incendiou os Estados Unidos e também causou protestos em várias partes do mundo.
Derek foi condenado nas três acusações apresentadas contra ele — assassinato em segundo e terceiro graus e homicídio culposo. Depois de ouvir o veredito, o ex-policial foi algemado e preso. Ele havia sido detido durante o processo, mas deixou a cadeia mediante o pagamento de uma fiança de US$ 1 milhão. Os outros agentes que participaram da abordagem a Floyd — Alexander Kueng, Thomas Lane e Tou Thao — serão julgados em agosto.
Banido da polícia após o crime, Derek poderá pegar uma pena de até 40 anos de prisão, segundo analistas, com base em agravantes. A expectativa é a de que a sentença seja anunciada em, no máximo, oito semanas. O ex-agente, que não quis prestar depoimento e se declarou inocente durante o julgamento, poderá recorrer.
“O veredito não trará George de volta, mas este pode ser o momento de uma mudança significativa, um passo gigante na marcha em direção à justiça nos EUA”, ressaltou Joe Biden. Em suas primeiras palavras, ele classificou o “racismo sistêmico” como “uma mancha na alma” do país. “Nós sentimos um sopro de alívio após o veredito de Derek Chauvin”, enfatizou Kamala Harris, primeira a falar. O presidente e a vice instaram os senadores a aprovar uma lei federal contra violência policial que leva o nome de Floyd.
Antes do pronunciamento, o presidente americano telefonou para os familiares de Floyd para felicitá-los — já havia conversado com eles na véspera. “Estamos todos tão aliviados. Vocês são uma família incrível. Teria adorado estar aí para abraçá-los”, disse-lhes Biden, prometendo levá-los à Casa Branca no Air Force One.
Horas antes da decisão judicial, o democrata ressaltou a relevância das evidências contra Derek. “Rezo para que o veredito seja correto. Em minha opinião, é esmagador. Eu não diria isso se o júri não tivesse se retirado para deliberar”, disse.
O júri multirracial, formado por sete mulheres e cinco homens, deliberou por menos de 11 horas, ao fim de três semanas de julgamento. De máscara, Chauvin, vestindo terno e gravata, não demonstrou qualquer emoção ao ser escoltado para fora da sala do tribunal, enquanto o irmão de George Floyd, Philonise Floyd, abraçava os promotores.
“Ponto de inflexão”

O advogado Ben Crump elogiou a condenação do ex-agente branco pelo assassinato de Floyd, que se transformou em símbolo do combate à violência policial contra os negros. “Esse veredito é um ponto de inflexão na História e envia uma mensagem clara sobre a necessidade de prestação de contas por parte das forças de ordem. Justiça para os Estados Unidos negro é justiça para todos os Estados Unidos!”, disse.
O julgamento ocorreu em meio a altas tensões e protestos diários, reforçados após o recente assassinato de outro jovem negro, Daunte Wright, de 20 anos, nos arredores de Mineápolis. Ele foi morto a tiros no último dia 11 por uma policial branca. Tropas da Guarda Nacional foram mobilizadas na cidade e em Washington, a capital do país, devido a temores de distúrbios.
Na segunda-feira, cerca de 400 manifestantes marcharam na cidade pedindo a condenação de Chauvin, repetindo em coro: “O mundo está olhando, nós estamos olhando, façam o certo”. Nas alegações finais, a acusação exibiu aos jurados trechos do vídeo chocante da morte de Floyd.
“Podem acreditar no que viram”, disse o promotor Steve Schleicher. “Não se tratou de vigilância policial, se tratou de assassinato. Nove minutos e 29 segundos de abuso de autoridade impactante”, insistiu, com o objetivo de desmontar a tese da defesa de Chauvin. “O acusado é culpado das três acusações. E não há desculpa”, disse, por fim.
O advogado de defesa Eric Nelson disse ao júri que Chauvin não usou força ilegal de propósito. “Não foi um estrangulamento”, destacou, justificando as ações de Chaufvin e dos outros policiais que mantiveram Floyd no chão. Segundo Nelson, a doença cardíaca de Floyd e seu consumo de drogas haviam sido os fatores decisivos para a sua morte.
Especialistas médicos da promotoria disseram que Floyd morreu devido à falta de oxigênio provocada pelo joelho de Chauvin em seu pescoço e que as drogas não influenciaram. Os policiais que depuseram para a acusação, inclusive o chefe de polícia de Minneapolis, disseram que foi excessivo e desnecessário.
No vídeo, era possível ouvir Floyd, 46 anos, algemado, implorar: “Por favor, não consigo respirar”. As imagens, registradas por pedestres que testemunharam a prisão de Floyd, acusado de comprar cigarros com uma nota falsa de US$ 20, foram assistidas por milhões de pessoas dentro e fora do país.

“Este pode ser o momento de uma mudança significativa, um passo gigante na marcha em direção à justiça nos EUA”

Joe Biden, presidente dos EUA

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