OBITUÁRIO

Idriss Déby Itno, 68, presidente do Chade

Correio Braziliense
postado em 20/04/2021 23:02
 (crédito: AFP)
(crédito: AFP)

Recentemente eleito para o sexto mandato, o ditador do Chade, Idriss Déby Itno, morreu, ontem, em consequência de ferimentos sofridos em combate contra os rebeldes no norte do país. Militar de carreira, 68 anos, ele assumiu o poder em 1990, após um golpe de Estado. Foi reconduzido ao cargo no último dia 11, com quase 80% dos votos, segundo os resultados parciais publicados na noite de segunda-feira, poucas horas antes do anúncio de sua morte.
O Exército assegurou que, após um período de transição de 18 meses, serão realizadas eleições “livres e democráticas” no país. Até lá, um de seus filhos, Mahamat Idriss Déby Itno, vai comandar o conselho militar responsável por substituir o presidente. Aos 37 anos, ele é o atual comandante da guarda presidencial.
“O presidente da República, chefe de Estado e comandante das Forças Armadas, Idriss Déby Itno, acaba de dar o último suspiro, defendendo a integridade territorial no campo de batalha. Com grande amargura. anunciamos ao povo chadiano, sua morte, em 20 de abril de 2021”, destacou um comunicado lido pelo general Azem Bermandoa Agouna na televisão pública.
A nota do Exército destaca que o Conselho Militar de Transição vai garantir “a independência nacional, a integridade territorial, a unidade nacional, o respeito dos tratados e acordos internacionais e garante a transição durante um período de 18 meses”. “Uma vez finalizado o período de transição, novas instituições republicanas serão instauradas para organizar eleições livres, democráticas e transparentes”, completou o informe.
Ontem, após o anúncio da morte de Déby Itno, a Assembleia Nacional e o governo foram dissolvidos, as fronteiras fechadas e um toque de recolher foi instaurado. Enquanto isso, os insurgentes reafirmaram a disposição de atacar a capital, N’Djamena.

Confrontos

Ministros e oficiais de alta patente haviam informado que o chefe de Estado compareceu, no último fim de semana, à frente de batalha contra os rebeldes, no norte do país. Militares enfrentam os insurgentes, que iniciaram uma ofensiva a partir de sua retaguarda na Líbia no dia das eleições, 11 de abril.
Ainda na segunda-feira à noite, quando a reeleição de Déby Itno foi consagrada, os rebeldes anunciaram, em um comunicado, que ele havia sido ferido, mas a informação não tinha sido confirmada oficialmente. O Exército do Chade havia informado somente que matou mais de 300 rebeldes e que cinco militares faleceram em combate.
O governo do Chade, na ocasião, assegurou que a situação estava sob controle. Entretanto havia sinais de que algo estava anormal. Ainda na manhã de segunda-feira foram mobilizados tanques nas principais avenidas da capital, o que provocou cenas de pânico em alguns bairros. Horas depois os veículos foram retirados.
Recentemente promovido a marechal, Déby concentrou a campanha eleitoral na “paz e segurança” no país, alegando que seu governo melhorou a situação. O Chade integra uma região conturbada. Entre a Líbia, Sudão e República Centro-Africana, entre outros, é um ator de peso na guerra contra os extremistas do Sahel, para a qual contribui com tropas e armamento.
Em fevereiro de 2019, rebeldes chadianos, que entraram no país a partir da Líbia com a intenção de derrubar Déby, foram contidos por tropas francesas. Em fevereiro de 2008, um ataque rebelde chegou às portas do palácio presidencial, mas foi impedido na última hora.
O funeral de Déby Itno está marcado para sexta-feira. O corpo do chefe de Estado, que quase sempre contou como apoio internacional, será sepultado em sua região natal no Extremo Oriente.
A França, ex-potência colonial, destacou a importância de uma “transição pacífica” no país. O governo de Emmanuel Macron destacou “a importância de que a transição aconteça em condições pacíficas, em um espírito de diálogo”.
Os insurgentes, porém, não pretendem dar trégua. “Rejeitamos categoricamente a transição (...) e continuaremos a ofensiva”, afirmou Kingabé Oguzeimi de Tapol, porta-voz do grupo rebelde Frente pela Alternância e a Concórdia no Chade (FACT).

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