
O democrata Joe Biden deve se tornar o primeiro presidente dos Estados Unidos a chamar explicitamente de genocídio o massacre de 1,5 milhão de armênios pelo Império Otomano. A expectativa é a de que isso ocorra em um anúncio formal, amanhã, data do 106º aniversário do início das mortes. O gesto, se confirmado, pode deteriorar ainda mais as tensas relações dos EUA com a Turquia.
Aliado da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o governo turco refuta com veemência essa designação, que já foi reconhecida por cerca de 30 países, incluindo França e Rússia. Antecipando-se à possível manifestação de Biden, o presidente Recep Tayyip Erdogan fez um alerta aos que propagam essa versão. O líder turco declarou que continuará a “defender a verdade contra aqueles que apoiam a mentira do chamado ‘genocídio armênio’ para fins políticos”.
Os planos de Biden, revelados pelos jornais americanos The New York Times e The Wall Street Journal, não foram contestados pela Casa Branca. “Há muito interesse nesse assunto, mas não vou falar antes do presidente e não tenho mais nada a contribuir”, desconversou Jen Psaki, porta-voz do presidente americano.
“Soube que o presidente Biden pretende que os Estados Unidos reconheçam o genocídio armênio”, confirmou, por sua vez, o líder da maioria democrata no Senado, Chuck Schumer. O Congresso americano reconheceu formalmente os massacres como genocídio em dezembro de 2019 em uma votação simbólica.
As informações da imprensa aparecem depois que cem congressistas pediram a Biden, em uma carta, que cumpra com a promessa eleitoral de reconhecer o genocídio armênio. “O vergonhoso silêncio do governo dos Estados Unidos com relação ao fato histórico do genocídio armênio tem sido mantido por tempo demais e deve acabar”, diz um trecho do documento.
Segundo as estimativas, entre 1,2 e 1,5 milhão de armênios foram mortos durante a Primeira Guerra Mundial por tropas do Império Otomano, então aliado da Alemanha e da Áustria-Hungria. O massacre começou em 24 de abril, quando as forças otomanas combatiam a Rússia czarista na região onde hoje fica a Armênia.
Ancara evoca massacres recíprocos com um fundo de guerra civil e fome que deixou centenas de milhares de mortos dos dois lados. Depois que o Parlamento holandês aprovou uma moção, em fevereiro, instando o governo a reconhecer o genocídio, o governo de Erdogan disse que a medida “buscava reescrever a história com base em motivações políticas”.
Recentemente, o ministro turco das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, disse, em entrevista, que “declarações que não são legalmente vinculantes não trarão benefícios, mas prejudicarão os laços”. E advertiu: “Se os Estados Unidos quiserem piorar os laços, a decisão é sua”.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.