Joe Biden reconheceu como genocídio o extermínio armênio pelo Império Otomano a partir de 1915. É a primeira vez que um presidente dos Estados Unidos qualifica dessa forma a morte de 1,5 milhão de armênios durante a Primeira Guerra Mundial. O anúncio feito ontem, no 106° aniversário do início do massacre, gerou uma resposta quase imediata do governo turco, que nega o genocídio. Mais de 20 países e muitos historiadores, porém, se referem ao episódio como um assassinato em massa.
“Os americanos honram todos os armênios que morreram no genocídio que começou há 106 anos”, escreveu Joe Biden em um comunicado. “Estamos afirmando a história. Não estamos fazendo isso para atacar ninguém, mas para garantir que o que aconteceu nunca se repita”, acrescentou o presidente democrata, que havia prometido se posicionar quanto a essa questão durante a campanha eleitoral.
O Ministério das Relações Exteriores da Turquia, em um comunicado, alertou que Biden “distorceu” fatos históricos e “abriu uma ferida profunda que mina a confiança mútua e a amizade”. Pelo Twitter, o ministro da pasta, Meglutol Cavusoglu, manifestou sua insatisfação. “Não temos nada a aprender com ninguém em nosso passado. O oportunismo político é a maior traição à paz e à justiça. Rejeitamos inteiramente essa declaração com base apenas no populismo”, escreveu.
Por sua vez, o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, considerou que o reconhecimento representa um “grande passo” no 106º aniversário do massacre. Em uma mensagem em sua conta no Facebook, Pashinyan agradeceu Biden “pelo grande passo em direção à justiça e o apoio inestimável aos descendentes das vítimas do genocídio armênio”. Os dois líderes concordaram em se reunir em junho, durante a cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que será realizada em Bruxelas.
Peso simbólico
O Congresso americano reconheceu o genocídio armênio em dezembro de 2019, em uma votação simbólica, mas o presidente Donald Trump, que tinha um relacionamento próximo com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, se recusou a usar a palavra. Limitou-se a dizer que as mortes eram “uma das piores atrocidades em massa” do século 20. O anúncio de Biden não tem significado jurídico, mas pode piorar as tensões com a Turquia, que, na avaliação do secretário de Estado americano, Antony Blinken, é “um suposto parceiro estratégico” que, “em muitos aspectos, não se comporta como um aliado”.
Na quinta-feira, durante um encontro com conselheiros, sem citar os EUA, Erdogan enviou uma advertência velada a Washington alertando que continuará a “defender a verdade contra aqueles que apoiam a mentira do chamado ‘genocídio armênio’ (...) para fins políticos”. No dia seguinte, em uma conversa por telefone, Biden informou o colega turco sobre sua decisão e manifestou o desejo de estabelecer uma “relação bilateral construtiva”.
Segundo uma autoridade americana que pediu anonimato, o reconhecimento do genocídio é uma forma de “honrar as vítimas, não atacar ninguém”. “Continuamos a considerar a Turquia como um aliado crucial dentro da Otan”, acrescentou em entrevista à agência France-Presse de notícias (AFP). Ancara é um importante aliado político e um dos principais parceiros dos EUA dentro da Otan.
Homenagens
Em paralelo ao debate dos líderes políticos, milhares de pessoas saíram em passeata em Yerevan, capital da Armênia, para recordar o 106º aniversário de um dos períodos mais sombrios da história. Com velas e flores, a multidão marchou do centro da capital até o memorial dedicado às vítimas, uma tradição na Armênia todo dia 24 de abril.
Os armênios estimam que 1,5 milhão de pessoas foram mortas durante a Primeira Guerra Mundial por tropas do Império Otomano, então aliado da Alemanha e da Áustria-Hungria. A Turquia, resultante do desmantelamento do Império Otomano em 1920, rejeita o termo genocídio, evocando uma guerra civil na Anatolia, associada à fome, que teria provocado a morte de cerca de 300 mil armênios.
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