Ativista pró-democracia

Dissidente Joshua Wong é condenado a mais 10 meses de prisão em Hong Kong

Joshua Wong já cumpre pena de 13 meses por ter participado de atos pela independência de Hong Kong

Correio Braziliense
postado em 06/05/2021 08:00
 (crédito: ANTHONY WALLACE/AFP)
(crédito: ANTHONY WALLACE/AFP)

Hong Kong, China - O dissidente de Hong Kong Joshua Wong, uma das figuras mais conhecidas do movimento pró-democracia, foi condenado nesta quinta-feira a mais 10 meses de prisão por ter participado em 2020 em uma vigília "ilegal" de recordação da repressão na Praça Tiananmen (Paz Celestial).

Durante décadas, a ex-colônia britânica foi o único lugar na China que recordava a violenta intervenção do exército chinês contra o movimento social e estudantil de 1989 em Pequim. Mas pela primeira vez em 30 anos, o governo não autorizou a vigília em 4 de junho de 2020, apresentado como pretexto a luta contra a pandemia, mas coincidindo com a maior intervenção do governo central chinês no território semiautônomo.

Dezenas de milhares de pessoas, no entanto, desafiaram a proibição para recordar pacificamente o 31º aniversário da repressão no Parque Victoria, no centro de Hong Kong. Após a manifestação, as autoridades iniciaram um processo contra 24 personalidades do movimento pró-democracia.

Nesta quinta-feira, quatro deles - Joshua Wong, Lester Shum, Tiffany Yuen e Janelle Leung -, que se declararam culpados de participar em uma concentração ilegal, foram condenados. Wong, um dos nomes dos protestos em Hong Kong mais conhecidos no exterior, foi condenado a 10 meses de prisão. Atualmente ele cumpre uma pena de 13 meses e meio de prisão por ter participado em outra manifestação durante o movimento de protesto em 2019. "Esta pena deve dissuadir as pessoas de cometer crimes e reincidir", declarou o juiz Stanley Chan.

Shum foi condenado a seis meses de prisão. Yuen e Leung a quatro meses. Joshua Wong, Lester Shum e Tiffany Yuen também são processados por outro caso, baseado na lei de Segurança Nacional que Pequim impôs a Hong Kong no ano passado e que é o principal instrumento da repressão chinesa na ex-colônia britânica. Os outros acusados, que incluem mais líderes do movimento pró-democracia, alguns deles já detidos, serão julgados nos próximos meses.

Assunto tabu na China

A violenta intervenção do exército chinês na Praça da Paz Celestial, na madrugada de 3 para 4 de junho de 1989, acabou com sete semanas de protestos de estudantes e trabalhadores contra a corrupção e a favor da democracia na China. A repressão, que deixou quase mil mortos, é um tema tabu na China.

Durante décadas, a vigília em Hong Kong atraiu multidões e era um símbolo das liberdades únicas que existiram por muito tempo no território, ainda teoricamente semiautônomo, que voltou ao controle chinês em 1997. Em 2019, a vigília do 30º aniversário aconteceu em um contexto político tenso.

Uma semana depois teve início o maior movimento de protesto contra o poder chinês em Hong Kong, com manifestações quase diárias, às vezes violentas, que prosseguiram até dezembro de 2019. Atualmente, nada indica que o aniversário da repressão de Tiananmen voltará a ser recordado algum dia em Hong Kong.

A China aproveitou a pandemia de covid-19 e as restrições impostas para combater e restringir drasticamente as liberdades em Hong Kong, além de obstruir e deter os dissidentes. Além da lei de Segurança Nacional, uma nova campanha para fazer com que "Hong Kong seja governado pelos patriotas" permitirá julgar com antecedência a "lealdade" de qualquer candidato a um cargo.

As autoridades já indicaram que a recordação do massacre da Praça Celestial não será permitida no próximo mês. Mas a advogada Chow Hang-tung, que integra a coalizão que organiza a vigília, prometeu que a data não será esquecida. "Encontraremos uma maneira de nos reunirmos e será em público", disse.

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