Resistência à francesa

Emmanuel Macron, presidente da França, critica plano de Joe Biden de suspender direitos de propriedade intelectual de vacinas contra a covid-19 e questiona veto a exportações de imunizantes. Brasil simpatiza com a medida, mas pretende impulsionar uma "terceira via"

Correio Braziliense
postado em 08/05/2021 00:32
 (crédito: CHRISTOPHE ARCHAMBAULT)
(crédito: CHRISTOPHE ARCHAMBAULT)


Os planos norte-americanos de suspender os direitos de propriedade intelectual das vacinas contra a covid-19 sofreram um golpe, com as críticas do presidente francês, Emmanuel Macron. Um dia depois de Paris avalizar as negociações sobre o tema, no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), Macron expressou reservas à proposta da Índia e da África do Sul, abraçada por Joe Biden. O líder da França criticou Washington por impedir a exportação de imunizantes. A União Europeia demonstrou cautela e enalteceu seu papel como bloco exportador de doses. Por sua vez, o Brasil demonstrou simpatia pelos planos da Casa Branca, mas defendeu uma “terceira via”, em alusão à diversificação e ampliação da cadeia produtiva de vacinas.

“Qual é o problema atual.? Não se trata realmente de propriedade intelectual. Você pode dar propriedade intelectual a laboratórios sobre os quais não sabe como produzem e se produzirão amanhã?”, questionou Macron, no âmbito de uma cúpula da União Europeia (UE), em Porto (Portugal). O debate, segundo ele, “não deve ser sobre a propriedade intelectual, mas sobre transferência de tecnologia e mobilização das capacidades produtivas”.

“A principal questão da solidariedade é a distribuição das doses (das vacinas). Hoje, os anglo-saxões bloqueiam muitos desses ingredientes e dessas vacinas. Hoje, 100% das vacinas fabricadas nos EUA são voltadas para o mercado norte-americano”, lamentou Macron. O francês também disse, ontem, que é preciso considerar toda a complexa cadeia produtiva de vacinas contra a covid-19. A oposição da França se soma à resistência da Alemanha, que, na véspera, salientou que “a propriedade intectual é fonte de inovação e assim deve permanecer”.

Na última quinta-feira, Ursula von der Leyen — chefe da Comissão Europeia (órgão executivo da UE) — admitiu que o bloco está “pronto para debater” o levantamento das patentes, a fim de determinar se seria uma “solução eficaz e pragmática”.

Brasil

Em nota conjunta dos ministérios das Relações Exteriores; da Economia; da Saúde; e da Ciência, Tecnologia e Inovações, o governo brasileiro afirma que recebeu “com satisfação” a disposição dos EUA para negociar uma solução multilateral que contribua para o combate à covid-19, “bem como para intensificar seus esforços (…) para aumentar a produção e distribuição de insumos e vacinas em âmbito global. “O Brasil compartilha o objetivo expresso pela Representante Comercial do governo dos EUA, embaixadora Katherine Tai, de prover vacinas seguras e eficientes ao maior número de pessoas possível no menor intervalo de tempo possível”, afirma o comunicado.

“A flexibilização de posições dos EUA e de demais parceiros na OMC poderá contribuir para os esforços internacionais de resposta à covid. (…) Poderá, em particular, facilitar a implementação das propostas da ‘terceira via’, que visam aumentar e diversificar a produção e disseminação de vacinas, principalmente em países em desenvolvimento, com melhor utilização de capacidade ociosa”, acrescenta. O governo brasileiro sustenta que serão fundamentais o engajamento, a cooperação e a parceria dos detentores de tecnologia para a produção de imunizantes, de modo a viabilizar a fabricação no Brasil.

"Você pode dar propriedade intelectual a laboratórios sobre os quais não sabe como produzem e se produzirão amanhã?”
Emmanuel Macron, presidente da França

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Nova York planeja dose a turistas

 (crédito: Kena Betancur/AFP)
crédito: Kena Betancur/AFP

Como forma de impulsionar a visita à cidade, Nova York pretende oferecer a turistas uma dose gratuita da vacina da Johnson & Johnson. “Esta é uma mensagem positiva para os turistas. Venham para cá, é seguro, é um grande lugar para estar, e nós tomaremos conta de você”, declarou o prefeito, Bill de Blasio. “Nós nos certificaremos de que você será vacinado enquanto estiver conosco.”
Os pontos de imunização serão montados em vans estacionadas no Central Park, diante do Empire State Building, no Parque da Ponte do Brooklyen e em outros locais bastante frequentados por estrangeiros. Cinco bairros serão contemplados pela medida. A “campanha” de vacinação deve começar ainda hoje. Basta o sinal verde do estado de Nova York.
A pandemia da covid-19 causou forte impacto no setor turístico — em 2019, a Big Apple recebeu um número recorde de 66,6 milhões de turistas. A previsão para este ano, segundo a NYC & Company (principal organização de marketing da metrópole), é de apenas 36,4 milhões de visitantes.
De acordo com outro plano anunciado pelas autoridades, turistas e nova-iorquinos poderão apreciar trabalhos artísticos e performances em espaços públicos. A prefeitura desembolsará US$ 25 milhões para contratar mais de 1.500 artistas.
A emissora NBC divulgou que o esforço para imunizar os turistas ocorre no momento em que Nova York busca recuperar cerca de US$ 60 bilhões em contribuições econômicas do setor do turismo, além de retomar 90 mil postos de trabalho perdidos.

Miami

Entre segunda-feira e sexta-feira, o Aeroporto Internacional de Miami oferecerá a primeira dose da vacina da Pfizer a passageiros e funcionários que morarem ou trabalharem na Flórida. O benefício se estenderá aos familiares dos empregados.

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