ORIENTE MÉDIO

Adiada decisão sobre despejo de palestinos de hoje para o mês que vem

Em meio a violentos confrontos, Suprema Corte de Israel transfere de hoje para o mês que vem a audiência sobre a retirada de três famílias de Jerusalém Oriental. Com isso, governo de Benjamin Netanyahu, que repudia pressões contra a construção na cidade sagrada, tenta ganhar tempo

Correio Braziliense
postado em 10/05/2021 06:00
 (crédito: Mahmud Hams/AFP)
(crédito: Mahmud Hams/AFP)

No terceiro dia dos violentos protestos em Jerusalém, deflagrados pela ameaça de expulsão de três famílias palestinas do bairro de Sheikh Jarrah, na parte oriental, o Supremo Tribunal de Justiça de Israel resolveu adiar em 30 dias a audiência sobre o despejo, que estava marcada para hoje, a pedido do procurador-geral, Avichai Mendelblit. Desde sexta-feira, a chamada Cidade Santa vive dias de confronto entre manifestantes e as forças de segurança israelenses, com centenas de feridos, incluindo uma criança de 1 ano. Dezessete policiais também foram atingidos.

O papa Francisco pediu, na manhã de ontem, o fim dos ataques em Jerusalém. “A violência só alimenta violência. Paremos com esses confrontos”, disse em sua mensagem dominical, acrescentando que acompanha “com particular preocupação os acontecimentos”. O pontífice também pediu que a “identidade multirreligiosa e multicultural seja garantida e que a fraternidade prevaleça”.

No sábado, integrantes do Quarteto do Oriente Médio (ONU, União Europeia, Estados Unidos e Rússia) expressaram “profunda preocupação com os confrontos diários”, em um comunicado. Os EUA apelaram às “autoridades israelenses e palestinas a agirem para acabar com a violência”. No Golfo, a Arábia Saudita denunciou as possíveis expulsões, enquanto Irã, Tunísia, Paquistão, Turquia, Jordânia e até Egito condenaram as ações de Israel. A Tunísia também convocou uma sessão do Conselho de Segurança da ONU para hoje.

No início do ano, um tribunal israelense decidiu a favor dos colonos judeus que buscam expulsar os palestinos de suas casas em Sheikh Jarrah. As famílias judias comprovaram uma reivindicação de décadas sobre a terra, o que irritou os palestinos e gerou meses de protestos, que aumentaram nas últimas noites. Outros incidentes ajudaram a escalonar a tensão: em abril, a polícia fechou a praça em frente ao Portão de Damasco em Jerusalém Oriental, ponto de encontro após as orações noturnas do Ramadã. A ação gerou confrontos violentos com a polícia, que levantou as barricadas após várias noites de tumultos.

Na sexta-feira, depois das orações do mês santo dos palestinos, começaram os confrontos na Praça Al-Aqsa , que deixaram mais de 200 feridos. A polícia disse que agiu em resposta a projéteis lançados por “milhares” de manifestantes. Os confrontos do sábado terminaram com um saldo de 120 feridos. Ontem, a tensão ainda era elevada em Jerusalém Oriental.

Críticas internacionais
Israel tem enfrentado crescentes críticas internacionais por sua forte resposta policial e pelos despejos planejados. Na semana passada, um órgão de direitos da ONU descreveu a expulsão de árabes de suas casas como um possível crime de guerra. Ontem, a Jordânia, que tem a custódia de locais muçulmanos e cristãos em Jerusalém, chamou de “bárbaras” as ações de Israel contra os adoradores em al-Aqsa.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, foi desafiador, dizendo que seu país continuaria a construir na cidade — uma referência aos assentamentos judeus internacionalmente condenados em áreas de maioria palestina ocupadas por israelenses. “Rejeitamos firmemente a pressão para não construir em Jerusalém”, disse, em um discurso na televisão. O político advertiu que “reagirá com força” ante os tumultos.

Os confrontos na Esplanada das Mesquitas dos últimos dias são os mais violentos desde 2017, quando Israel decidiu colocar detectores de metal na entrada do local, antes de voltar atrás. O Hamas, movimento islâmico palestino que controla a Faixa de Gaza, pediu aos palestinos que permaneçam no local dos protestos até quinta-feira — dia que marca o fim do Ramadã — e ameaçou o governo israelense com ataques, caso a Suprema Corte aprove as expulsões de Sheikh Jarrah.

A tensão também é grande na Faixa de Gaza, com soldados israelenses disparando gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes palestinos reunidos perto da barreira de separação. Balões incendiários foram vistos na noite de sábado, em direção ao sul de Israel, mas sem causar danos. Ontem, segundo o Exército, um foguete foi lançado, seguido de retaliação, onde um posto militar do Hamas teria sido atingido.

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