Dezenas de organizações da sociedade civil e famílias de vítimas da violência policial nos Estados Unidos pediram nesta segunda-feira (10) à Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que crie uma comissão independente para investigar supostos abusos cometidos por homens uniformizados contra afro-americanos.
Instituições como Human Rights Watch, Anistia Internacional, American Civil Liberties Union (ACLU), entre 270 ONGs de todo o mundo, além de 171 familiares, fizeram a solicitação por escrito a Bachelet, que deve apresentar em junho um relatório sobre "racismo estrutural" e violência policial.
Os signatários da carta solicitaram que este relatório, que não diz respeito explicitamente aos Estados Unidos, inclua "recomendações específicas" para a instalação de uma comissão internacional de investigação sobre o uso da força pela polícia americana, principalmente contra a comunidade negra.
Este tipo de comissão é uma estrutura de alto nível geralmente reservada para grandes crises, como o conflito na Síria.
"Acreditamos que um forte mecanismo de responsabilização internacional fortaleceria e complementaria, e não prejudicaria, os esforços" do governo americano de Joe Biden para "enfrentar as desigualdades raciais", ressaltaram os signatários.
De acordo com a carta, "a polícia dos Estados Unidos mata quase 1.000 pessoas por ano" e tem como alvo "direto e desproporcionalmente pessoas de cor".
Também pediram a ex-presidente chilena que recomendasse aos Estados membros a adoção de planos nacionais de combate ao racismo e que sejam estabelecidos mecanismos de reparação para os descendentes de escravos.
O Conselho de Direitos Humanos, órgão da ONU com sede em Genebra, reuniu-se com urgência após a morte, em 25 de maio de 2020, do afro-americano George Floyd durante sua prisão por policiais brancos, fato que ocasionou protestos em massa contra o racismo em todo o mundo.
Os estados africanos apresentaram então uma resolução solicitando o estabelecimento de uma comissão internacional de investigação para elucidar questões sobre o "racismo estrutural" existente nos Estados Unidos.
Mas, diante de "enorme pressão diplomática" do governo americano de Donald Trump e seus aliados, o texto se diluiu e acabou pedindo-se a Bachelet um relatório sem ter os Estados Unidos como ponto específico, lembram os signatários da carta.
"Acreditamos que o papel do Conselho nesse assunto não deve terminar com a apresentação deste relatório final", ressaltaram as organizações, que também escreveram aos países membros africanos pedindo-lhes para "continuar apoiando" as suas reivindicações.
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