Um adolescente de 19 anos foi preso, ontem, após invadir uma escola de Kazan, cidade na região central da Rússia, e efetuar inúmeros disparos, matando pelo menos nove pessoas, entre elas sete alunos. Foram cenas de terror. Imagens divulgadas por testemunhas nas redes sociais mostram crianças e jovens pulando pelas janelas do edifício de três andares para escapar. Dezoito crianças e dois adultos ficaram feridos e foram hospitalizados.
A imprensa russa identificou o atirador como Ilnaz Galiaviev. Ele estaria portando um fuzil. Um vídeo exibido em canais de televisão mostra o suposto atirador, um jovem sem camisa e ensanguentado deitado em uma cela, alegando ter premeditado seu ato porque “odeia todos” e dizendo que era Deus. Em uma foto, ele aparece com roupas paramilitares, com uma corrente no pescoço com a palavra Deus em russo em letras vermelhas.
O presidente russo, Vladimir Putin, expressou pêsames às famílias das vítimas e ordenou uma revisão das regras de porte de armas no país, de acordo com o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. Segundo Rustam Minnikhanov, presidente do Tatarstan, a república muçulmana russa que tem Kazan como capital, Galiaviev obteve autorização para carregar armas no fim do mês passado.
O Grande Mufti da Rússia, Ravil Gaïnoutdine, “condenou com ira as ações” de um criminoso. Intérprete da Xaria, a lei islâmica, ele denunciou “o pior pecado aos olhos do Todo-Poderoso: o assassinato de inocentes”.
Por meio de um comunicado, o Comitê de Investigação da Rússia destacou que o atirador mora em Kazan, cidade de mais de 1,2 milhão de habitantes, localizada 700Km ao leste de Moscou. A nota ressaltou ainda que as autoridades descartam, inicialmente, uma motivação de natureza “terrorista”.
Expulsão
O ataque à escola N° 175, que tem 1.049 alunos e 57 funcionários, começou às 9h30 locais (3h30 de Brasília). Galiaviev estudava em outra escola, o instituto TISBI. Lá, ele era considerado “calmo e não agressivo”, mas foi expulso por não comparecer às provas. Segundo a imprensa, o atirador portava um fuzil de fabricação turca Hatsan, o mesmo utilizado no massacre em uma escola da Crimeia, em 2018.
Logo após o ataque, vídeos começaram a circular na internet. Em alguns, é possível ver pessoas ensanguentadas deitadas na grama, recebendo primeiros socorros. De acordo com a agência de notícias local Tatar-inform, as vítimas hospitalizadas têm entre 7 e 62 anos. Das 18 crianças, seis estão na UTI, o que poderá aumentar o número de mortos.
Vizinho da escola, Andrei Stepanov disse à agência de notícias France-Presse (AFP) que escutou “uma explosão muito alta” e que, inicialmente, acreditou que fosse um vazamento de gás. “Então, eu ouvi os tiros”, relatou ele. “Estamos chocados”, desabafou Maria Mashkova, 33 anos, cujo filho estuda no local, mas, por sorte, estava fora da classe no momento do ataque.
Grupos de pessoas colocaram flores, brinquedos e velas em frente à escola, num memorial às vítimas. O governo russo determinou um minuto de silêncio ontem em todo o país, que se repetirá nas partidas da Copa de futebol programadas para domingo.
O tiroteio de ontem é o mais grave em uma escola da Rússia desde o ocorrido em 2018. Esse tipo de episódio é considerado relativamente raro no país, onde o controle de armas é estrito. Os incidentes violentos com estudantes, no entanto, aumentaram nos últimos anos — autoridades também afirmam ter frustrado dezenas de planos para atacar escolas, casos que geralmente envolvem adolescentes.
A conexão entre o ataque em Kazan com a tragédia na em Kerch — cidade da outrora península ucraniana da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014 — foi imediata. Em outubro de 2018, um estudante do Ensino Médio matou 19 pessoas antes de cometer suicídio. Na época, Putin atribuiu o massacre à “globalização”, salientando que o fenômeno dos tiroteios em escolas tem origem nos Estados Unidos.
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