Pai de quatro crianças, o médico Hazam Abu Moloh, 49 anos, teme quando o sol de põe na Faixa de Gaza. “Eu tenho medo por minhas crianças. Os sons dos aviões e dos mísseis são aterrorizantes. À noite, dormimos todos em um mesmo quarto. Se morrermos, estaremos juntos”, desabafou ao Correio. A 4km da fronteira com a Faixa de Gaza, o carioca Alon Rembischevski, 28, e moradores do kibutz Zikim receberam ordens para ficarem dentro dos mamad, como são chamados os aposentos antibombas.
“Hoje, escutei um barulho como se fosse algo caindo dentro da minha casa. Do lado de fora, deparei-me com uma parte do míssil”, relatou. Cidadãos da Faixa de Gaza e do sul de Israel anseiam por um cessar-fogo, depois que Joe Biden elevou o tom em relação ao aliado. No quarto telefonema ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o presidente dos EUA disse esperar uma “desescalada significativa” do conflito ainda ontem.
Segundo Biden, a medida visa encaminhar um cessar-fogo. A reação inicial do premiê foi ignorar os apelos da Casa Branca. “Agradeço especialmente o apoio do presidente dos EUA, nosso amigo Joe Biden, pelo direito de legítima defesa do Estado de Israel. Estou determinado a continuar esta operação até que o seu objetivo seja alcançado: restaurar a paz e a segurança para vocês, cidadãos de Israel”, afirmou Netanyahu.
Depois de visitar um esquadrão de operações das Forças de Defesa de Israel (IDF), o chefe de governo disse que o exército tem prejudicado “as capacidades das organizações terroristas” e destruído esconderijos de armamentos do grupo fundamentalista islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza. Netanyahu não descartou impor uma derrota definitiva à facção.
Mediação
Apesar das declarações de Netanyahu, o jornal israelense Haaretz informou que Israel se prepara para uma significativa redução das operações militares na Faixa de Gaza. No mesmo sentido, o vice-líder político do Hamas, Mousa Mohammed Abu Marzook disse esperar que o cessar-fogo possa ser acordado entre hoje e amanhã. “Acho que uma mediação de cessar-fogo funcionará. A equação é clara — se eles escalarem (a violência), nós escalaremos. Se eles pararem de disparar contra Gaza, pararemos de disparar contra Tel-Aviv”, disse, de acordo com a imprensa de Israel.
Até o fechamento desta edição, os bombardeios israelenses tinham matado 227 palestinos, incluindo 64 crianças e 38 mulheres. Do lado israelense, 12 pessoas morreram nos ataques com foguetes do Hamas.
Segundo Odad Knaan, adido de Defesa da Embaixada de Israel em Brasília, o Hamas lançou mais de 3,5 mil foguetes em direção ao território israelense. “Nosso objetivo é eliminar essa ameaça contra os nossos cidadãos. Começamos essa campanha defensiva com três objetivos: manter a segurança dos cidadãos e restaurar a paz na região; enfraquecer o Hamas e as organizações terroristas na Faixa de Gaza, e criar uma dissuasão contra o grupo; e manter a estabilidade no Oriente Médio nos próximos anos”, explicou.
Knaan acusou o Hamas de crimes de guerra, por “lançar foguetes a partir de centros populacionais, sabendo da retaliação”. O adido assegura que as Forças de Defesa de Israel buscam mitigar danos à população civil na Faixa de Gaza. “Isso é feito por meio da inteligência precisa, ao atacarmos somente alvos terroristas, como centros de armamentos do Hamas. Também avisamos com antecedência onde atacaremos, por meio de ligação telefônica.”
Sem resistência
Professor de relações internacionais da Univeridade de Nova York e especialista em Oriente Médio, o iraquiano Alon Ben-Meir duvida que Netanyahu conseguirá resistir por muito tempo aos apelos de Biden pelo cessar-fogo. “O governo Biden bloqueou resoluções da ONU que teriam condenado os ataques a Gaza. Ainda que Netanyahu queira mostrar à opinião pública que ele é o único capaz de confrontar os inimigos de Israel, incluindo o Hamas, e porque deseja manter o cargo em um novo governo de coalizão, creio que em 48 horas ou mais ele sucumbirá à exigência de Biden e anunciará a trégua”, declarou ao Correio.
“Netanyahu quer enviar uma mensagem aos países árabes e a outros inimigos de Israel, especialmente o Irã e a milícia xiita libanesa Hezbollah, que pode enfrentá-los e vencê-los militarmente. Em última análise, Israel ficará ansioso para encerrar a campanha em Gaza, pois também está sob intensa pressão pública para fazer isso.”
Ben-Meir adverte que nenhum líder israelense detém a capacidade de destruir o Hamas. “Israel poderia, até certo ponto, decapitar muitas das lideranças da facção, mas o Hamas sobreviveria a qualquer ofensiva israelense e ganharia um comando ainda mais extremista nos próximos anos”, explicou.
Ele considera uma ilusão presumir que o Hamas possa ser derrotado e acredita que somente uma negociação pacífica colocará fim às hostilidades. “Nós esperamos que o governo americano pressione Israel a cessar-fogo. Temos escutado que um acordo será anunciado nas próximas horas. Então, começamos a nos sentir esperançosos”, desabafou Hazam Abu Moloh.
» Vozes de Gaza
Nisreen Alkhatib, 27 anos, jornalista, moradora da Cidade de Gaza
“Cada coisa aqui é considerada alvo. As casas de civis, os centros médicos, as mesquitas, as instituições de governo, os prédios, as fábricas, os jardins, os cemitérios. É impossível protegermos a nós mesmos. Eles querem nos ver deprimidos e derrotados, mas o povo palestino tem alma de guerreiro
pela liberdade.”
Hazem Abu Moloh, 49 anos, médico, morador da Cidade de Gaza
“Nós, médicos, estamos surpresos com a gravidade das lesões nos feridos pelos bombardeios. Estamos tentando duramente salvar vidas, mas poucos conseguem sobreviver. Os bombardeios prosseguem durante o dia e durante a noite, sem interrupção.”
» Vozes de Israel
Beverley Jamil, 58 anos, agente de turismo britânica, moradora de Ashkelon (sul)
“Hoje (ontem), a sirenes antiaéreas soaram cinco vezes. Existe um tenso diálogo sobre o cessar-fogo, mas ninguém ainda sabe o que vai ocorrer. Estou amedrontada. Quero retomar a nossa vida normal sem termos que correr para um abrigo antibombas. Como mãe e esposa israelense, eu quero a paz.”
Alon Rembischevski, 28 anos, carioca, morador do kibutz Zikim (a 4km de Gaza)
“Quando um cessar-fogo se aproxima, o Hamas utiliza o que lhe resta, pois nada tem a perder, já que não se preocupa com a população. Nessas ocasiões, o Exército israelense aproveita o enfraquecimento do grupo terrorista para atacar pontos estratégicos. Mas, a população de Gaza sofre bastante com isso.”
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