Um cessar-fogo entre Israel e o grupo extremista palestino Hamas na Faixa de Gaza entrou em vigor, com os dois lados - e seus aliados - reivindicando vitória.
O cessar-fogo, mediado pelo Egito, começou na manhã desta sexta-feira (21/5 - noite de quinta-feira, 20/5, no Brasil), encerrando 11 dias de combates nos quais mais de 250 pessoas foram mortas, a maioria delas em Gaza.
Apesar disso, manifestantes palestinos e a polícia israelense entraram em confronto novamente no complexo da mesquita de al-Aqsa, na Cidade Velha de Jerusalém.
Enfrentamentos no local, um dos mais sagrados para os muçulmanos, foram o estopim para a nova escalada de violência entre israelenses e o Hamas.
Um comunicado da força policial de Israel diz que "estourou um motim" assim que as orações de sexta-feira terminaram, com centenas de jovens jogando pedras e coquetéis molotov em policiais.
Em resposta, o comandante da polícia de Jerusalém ordenou que os policiais entrassem no local e "lidassem com os desordeiros", acrescenta a nota.
Testemunhas dizem que os policiais dispararam granadas de choque e gás lacrimogêneo.
O que dizem os palestinos
Palestinos tomaram as ruas de Gaza logo após o início da trégua. Em Gaza, motoristas fizeram buzinaço, enquanto os alto-falantes das mesquitas falavam sobre "a vitória da resistência".
Um porta-voz do Hamas disse, no entanto, que o grupo não baixou a guarda e considerou o cessar-fogo tanto uma vitória para o povo palestino quanto uma derrota para o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Nesta sexta-feira (21/5), o grupo xiita libanês Hezbollah, inimigo de Israel, elogiou os palestinos por uma "rodada heróica de confronto".
"A resistência palestina ... estabeleceu novas regras que abrirão o caminho para a grande vitória que se aproxima", informou o Hezbollah.
O grupo acrescentou que a sua "vitória ... terá repercussões estratégicas, políticas e culturais de extrema importância no futuro do conflito na região".
O Hezbollah, fortemente armado e financiado pelo Irã, é a força armada mais poderosa do Líbano ao lado do exército libanês e - junto com seus aliados políticos - é uma força influente no governo.
O que diz Israel
Em pronunciamento nesta sexta-feira (21/5), Netanyahu disse que a operação contra o território palestino teve como objetivo "desferir um golpe severo contra as organizações terroristas e restaurar a calma".
"Nem tudo é conhecido do público ainda, nem do Hamas, mas toda a gama de conquistas será revelada com o tempo", diz ele, citado pelo jornal israelense Jerusalem Post.
"Posso dizer que fizemos coisas novas e ousadas - se fosse necessário fazer uma invasão terrestre, teríamos feito, mas pensei que poderíamos alcançar o objetivo de maneiras mais seguras."
Segundo Netanyahu, a operação em Gaza "mudou a equação" com o Hamas e fará com que o grupo militante seja mais cuidadoso no futuro com qualquer ataque a Israel.
Ele descreveu a campanha aérea como um "sucesso excepcional", de acordo com o jornal israelense Times of Israel.
Segundo Netanyahu, a ofensiva destruiu a rede de túneis subterrâneos do Hamas, além de atingir a capacidade do grupo militante de lançar foguetes contra cidades israelenses.
O premiê afirmou também que mais de 200 militantes, incluindo 25 altos funcionários, foram mortos em ataques israelenses, acrescentando: "E aqueles que não morreram sabem que podemos alcançá-los - acima ou abaixo do solo".
Netanyahu também insiste que os militares israelenses fizeram todo o possível para evitar baixas civis, tomando medidas que nenhum outro país do mundo faria.
Mas o Ministério da Saúde palestino em Gaza diz que 66 crianças e 39 mulheres estavam entre as 243 pessoas mortas em ataques israelenses.
Em Israel, 12 pessoas, incluindo duas crianças, foram mortas em ataques de foguetes palestinos, segundo autoridades.
Horas antes, o ministro da Defesa israelense, Benny Gantz, disse que a ofensiva em Gaza rendeu "ganhos militares sem precedentes".
Mas os prefeitos de Sderot e Ashkelon - duas das cidades israelenses mais atingidas pelos foguetes de Gaza - criticaram o cessar-fogo, dizendo que o Hamas deveria ter sido eliminado.
Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, aliado histórico de Israel, disse que a trégua trouxe uma "oportunidade genuína" para o progresso.
Em Israel, o exército suspendeu quase todas as restrições de emergência ao movimento e várias companhias aéreas disseram que retomarão os voos para Tel Aviv no domingo.
O papa Francisco elogiou a trégua entre Israel e o Hamas e exortou os católicos a orar pela paz no Oriente Médio.
"Agradeço a Deus pela decisão de deter os conflitos armados e os atos de violência e rezo pela busca de caminhos de diálogo e paz", disse ele no Vaticano nesta sexta-feira.
"Que todas as comunidades rezem ao Espírito Santo para que israelenses e palestinos encontrem o caminho do diálogo e do perdão, sejam pacientes construtores de paz e justiça e estejam abertos, passo a passo, a uma esperança comum, à convivência entre irmãos e irmãs", acrescentou.
Escalada de violência
Os confrontos começaram em 10 de maio, após semanas de tensão crescente entre israelenses e palestinos em Jerusalém Oriental, ocupada por Israel.
O Hamas começou a disparar foguetes após alertar Israel para se retirar do local, desencadeando ataques aéreos de retaliação.
Pelo menos 243 pessoas, incluindo mais de 100 mulheres e crianças, foram mortas em Gaza, de acordo com seu ministério da saúde. Israel disse que matou pelo menos 225 militantes durante o conflito. O Hamas não informou os números de baixas entre os seus combatentes.
Em Israel, 12 pessoas, incluindo duas crianças, foram mortas, segundo seu serviço médico.
Os militares israelenses dizem que mais de 4,3 mil foguetes foram disparados contra seu território por militantes e que atingiu mais de mil alvos militantes em Gaza.
Como os dois lados anunciaram a trégua?
O Gabinete de Segurança Política de Israel disse na noite de quinta-feira que "aceitou unanimemente a recomendação" de um cessar-fogo.
"Os líderes políticos enfatizaram que a realidade local determinará o futuro da campanha", disse o órgão, por meio de um comunicado.
Um morador de Tel Aviv afirmou à agência de notícias Reuters: "É bom que o conflito termine, mas infelizmente não acho que temos muito tempo antes da próxima escalada."
Já em Gaza, um palestino disse: "Este é o dia da vitória, o dia da liberdade, e é o dia mais lindo que já vivemos".
Mas Basem Naim, do Conselho de Relações Internacionais do Hamas, disse à BBC estar cético sobre se a trégua duraria "sem justiça para os palestinos, sem parar a agressão israelense e as atrocidades israelenses".
Um membro do gabinete político do Hamas, Izzat al-Reshiq, fez um alerta a Israel.
"É verdade que a batalha termina hoje, mas [o primeiro-ministro de Israel, Benjamin] Netanyahu e o mundo inteiro devem saber que nosso dedo está no gatilho e continuaremos a aumentar as capacidades dessa resistência", disse ele à Reuters.
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