Oriente Médio

Investida pelos dois Estados

Responsável pela diplomacia dos EUA chega à região "nos próximos dias" para aprofundar o diálogo pela criação da Palestina. França alerta que, se medida não for alcançada, pode haver "um apartheid" nas coabitações entre judeus e árabes em Israel

Correio Braziliense
postado em 23/05/2021 22:46
 (crédito: Emmanuel Dunand/AFP)
(crédito: Emmanuel Dunand/AFP)

Os Estados Unidos aumentarão a investida a favor da ideia de que a solução dos conflitos em Gaza precisa ser baseada na existência de dois Estados. Antony Blinken, secretário de Estado americano,confirmou que, “nos próximos dias”, irá ao Oriente Médio para trabalhar em prol da ideia de que “israelenses e palestinos convivam pacificamente” e pelo respeito ao cessar-fogo. A trégua entre Israel e Hamas começou na última sexta-feira, 11 dias depois de intensos combates. Também ontem, a Organização das Nações Unidas (ONU) reforçou a necessidade de uma reconstrução duradoura da Faixa de Gaza para solucionar as “causas profundas” do conflito e evitar novas destruições.

Na sexta, o presidente americano, Joe Biden, defendeu uma solução para o conflito no Oriente Médio baseada em dois Estados (Israel e Palestina). Em entrevista à rede de televisão ABC News, Blinken reconheceu que a meta “não é necessariamente alcançável hoje” e ressaltou a importância dela. “Se não houver uma mudança positiva e, especialmente, se não encontrarmos uma maneira de ajudar os palestinos a viverem com mais dignidade e mais esperança, esse ciclo provavelmente se repetirá. E é isso o que não queremos”, afirmou.

A França adota discurso semelhante. O ministro das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, alertou para o risco de “um apartheid” em Israel caso a solução de dois Estados não seja alcançada. “Nas cidades israelenses, as comunidades entraram em confronto durante a onda de violência. É a primeira vez que isso acontece, e nos mostra que, se houver uma solução diferente da de dois Estados, apareceriam os ingredientes para o apartheid, que duraria muito tempo”, alertou. A coabitação entre judeus e árabes se deteriorou em várias cidades israelenses mistas, como em Lod, enquanto Israel enfrentava o movimento islâmico Hamas no enclave palestino de Gaza.

Ao menos 250 pessoas morreram durante os 11 dias de forte hostilidade. Para o secretário de Estado americano, a trégua é positiva, mas ele lembrou que, agora, começará uma etapa ainda mais difícil: a busca por uma resolução para a grave situação humanitária em Gaza, com a reconstrução do que foi perdido e a adoção de medidas para melhorar a vida dos moradores. “É de vital importância que os palestinos sintam esperança e tenham oportunidades. Que possam viver em segurança, assim como é para os israelenses. Devem haver medidas iguais para isso”, completou.

A defesa por “medidas iguais” difere da política adotada pelo ex-presidente Donald Trump, que cortou a ajuda humanitária para a Autoridade Palestina e lançou um plano de paz com forte apoio de Israel, mas nenhum dos muçulmanos. O secretário de Estado americano elogiou a “diplomacia implacável, determinada, mas silenciosa” de Joe Biden ao intermediar o cessar-fogo. Porém, não quis comentar ao ser perguntado sobre os apelos por parte do Partido Democrata para restringir as vendas de armas a Israel. “Vou deixar a política para os outros”, justificou.

Suporte amplo
Para as Nações Unidas, além de ações imediatas, a reconstrução de Gaza “deve ser acompanhada de um processo político real”, nas palavras de Philippe Lazzarini, chefe da agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA). Ele lembra que o suporte à região não pode ser apenas material. “Devemos ter um enfoque mais amplo, centrado no desenvolvimento humano”, declarou à Agência France-Presse (AFP) de notícias.

Lazzarini teme que surja, em Gaza, uma “normalidade artificial”, em que 2 milhões de pessoas dependeriam de ajuda externa, sem futuro, até o próximo episódio de violência. Ele defendeu a abordagem das “causas profundas” do conflito palestino-israelense, o que significaria, por exemplo, o levantamento do bloqueio imposto desde 2007 por Israel a esse território palestino para dar um “sentido ao futuro”.

Coordenadora da ajuda humanitária para os Territórios Palestinos da ONU, Lynn Hastings estima que cerca de mil casas e lojas foram “completamente destruídas” com os bombardeios. Mas os prejuízos foram ainda maiores. “Uma coisa que eu ouvi é que as pessoas de Gaza estão mais traumatizadas do que nunca (…). Muita gente sem esperança, e isso realmente deve ser levado em consideração”, acrescentou.

Esforço diplomático
A curto prazo, o desafio da reconstrução é humanitário, mas também diplomático. Durante uma coletiva de imprensa em Amã, os chanceleres palestino, Riyad al Maliki, e jordaniano, Ayman Safadi, pediram à comunidade internacional que impeça Israel de expulsar famílias palestinas de Sheij Jarrah, em Jerusalém Oriental, um assunto que deu origem aos recentes embates. Há ainda a acusação de que o Hamas desvia a ajuda internacional para uso em atividades militares.

O presidente americano Joe Biden já declarou a intenção de fornecer uma ajuda financeira “significativa” para a reconstrução de Gaza, mas sem dar ao Hamas, que considera terrorista, “a oportunidade de reconstruir seu sistema de armamento”. A UNRWA, à qual o governo de Donald Trump suspendeu as contribuições, elogiou o retorno da ajuda dos Estados Unidos e pediu doação emergencial de US$ 38 milhões.

A trégua entre Israel e o movimento islamita palestino Hamas entrou em vigor graças a uma mediação do Egito, mas não houve o estabelecimento de condições para a suspensão dos combates ou um plano para a reconstrução. Uma delegação egípcia se encontra na Faixa de Gaza para manter negociações com o Hamas, que governa o enclave.

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