Após ser empossado como o 47º presidente do Equador, o banqueiro Guillermo Lasso Mendoza, 65 anos, anunciou: “Terminou a era dos caudilhos”. Foi um recado aos simpatizantes do economista de esquerda Rafael Correa, que governou o país de 2007 a 2017. “Necessitamos do melhor desde governo, da cidadania e de cada partido democrático também, especialmente os que aqui estão reunidos. Aqui, (…) faço um chamado à unidade”, declarou. Ao anunciar o fim da perseguição política no Equador, ele sinalizou, uma vez mais, o apelo à reconciliação. “Eu não vim para saciar o ódio de poucos, mas, sim, a fome de muitos.” No entanto, o maior e mais urgente desafio será o combate à pandemia da covid-19. Lasso prometeu vacinar 9 milhões de equatorianos em 100 dias — o equivalente a 53% da população. O país contabiliza 419 mil casos da doença e 20.193 mortes.
Em outro momento do discurso de posse, Lasso tornou a provocar Correa. “Depois de mais de uma década de autoritarismo, de agressões, de tentativas de instaurar um regime perpétuo, os equatorianos assimilaram a maior lição democrática: que não existe democracia sem participação”, disse. Segundo o jornal El Universo, o presidente empossado anunciou que abrirá as portas ao comércio internacional e a tratados de livre comércio.
Professor de ciência política da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), em Quito, Simón Pachano destacou dois pontos do discurso de Lasso: a instalação de um espaço político e o apelo à reconciliação nacional. “Em relação ao primeiro ponto, durante a campanha do segundo turno, ele havia sinalizado essa intenção. Além de mantê-la, usou o pronunciamento de posse para expressá-la com várias linhas de política que lhe permitem uma abertura rumo ao centro, como a preocupação com questões sociais, a redistribuição de renda, a igualdade e os direitos da mulher”, declarou.
Antagonismo
“Ao conclamar o Equador à unidade nacional, Lasso posicionou-se com um discurso radicalmente contrário ao do ex-presidente Rafael Correa, que sempre dividiu o país”, acrescentou Pachano. O estudioso vê a retórica do novo chefe de Estado como um sinal forte ou importante rumo à reconciliação nacional, ao compará-la com o discurso antagônico de Correa. Pachano não se surpreendeu com o anúncio da concessão de rodovias, refinarias e de uma empresa telefônica por parte de Lasso. “Ele tinha antecipado essas medidas, mas será necessário ver se isso não causa problemas, como bloqueios políticos e protestos sociais.”
Questionado sobre a relação bilateral com o Brasil durante a gestão Lasso, Pachano aposta que o Equador manterá uma política externa pragmática. “É provável que haja uma aproximação com os governos de direita, inclusive do Brasil, mas creio que esta não será a linha predominante. Ele dará mais importância aos Estados Unidos e à Europa, enquanto sócios comerciais, e buscará entrar na Aliança do Pacífico — bloco comercial formado por Chile, Colômbia, México, Peru e Costa Rica. (RC)
Aqui, sem máscara. Lá...
Ao contrário da véspera, quando participou de um passeio de moto no Rio de Janeiro, o presidente Jair Bolsonaro utilizou máscara
durante a posse de Guillermo Lasso. Em um dos raros momentos, depois da cerimônia de investidura do colega conservador, Bolsonaro retirou o acessório e acenou para os presentes da sacada do Palácio Carondelet, em Quito. Ao lado do rei Felipe VI (E), da Espanha,
Bolsonaro foi flagrado erguendo o braço direito de Lasso, que ostentava a faixa presidencial.
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