A pressão da comunidade internacional sobre o ditador da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, se intensificou, ontem, em retaliação ao desvio de um avião comercial da companhia Ryanair para deter um dissidente a bordo. Segundo a agência France-Presse, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, anunciou um novo pacote de sanções contra o governo de Minsk e advertiu que Lukashenko pagará “um preço alto” pelo “horrível” desvio da aeronave para prender o jornalista e blogueiro Roman Protasevich, 26 anos, um dos símbolos de oposição ao regime bielorrusso. “Qualquer ditador que joga com essas ideias deve entender que pagará um preço alto”, afirmou Maas, em Berlim.
Svetlana Tikhanovskaya, líder da oposição bielorrússia, conversou por telefone com o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, e pediu a Washington para que isole o regime e o pressione com sanções. Na segunda-feira, a União Europeia havia anunciado a decisão de proibir o espaço aéreo do bloco a aviões procedentes da Bielorrússia e instou as companhias aéreas do continente a evitarem sobrevoos no país. O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) se reunirá informalmente, hoje, a portas fechadas, para debater o tema.
Crescem os temores de que Protasevich estaria sofrendo torturas na prisão. O pai do jornalista, Dmitri Protasevich, que mora na Polônia, disse à agência France-Presse que o filho foi vítima de agressão e parecia tenso em um vídeo divulgado na segunda-feira pelas autoridades. Em lágrimas, Natalia Protasevich, mãe do dissidente, desabafou: “Eu imploro, peço a toda comunidade internacional que o salve”.
Para o advogado e ex-preso político bielorrusso Andrej Vitushka, o incidente envolvendo o desvio do voo da Ryanair e a prisão de Protasevich não suscitaram um aumento da repressão no país, como avaliam alguns membros da oposição. “Não houve nenhum agravamento em particular. As audiências nos tribunais prosseguem e envolvem pessoas detidas previamente”, admitiu. Ao mesmo tempo, ele classifica o escândalo como “muito ruim” para a imagem de Lukashenko. “Em primeiro lugar, por causa da pressão sobre Putin por parte da Europa e Joe Biden. Putin é a única fonte de financiamento para Lukashenko. Por isso, a pressão exercida pela comunidade internacional sobre o Kremlin é tão sensível para Lukashenko”, comentou.
Morador de Minsk, Valery Kalinovsky — jornalista da rádio Free Europe — acredita que o ditador bielorrusso busca a vingança contra todos aqueles que saíram às ruas, depois de se sentir acuado e amedrontado pelos protestos do ano passado. “Muitas figuras da oposição e jornalistas estão nas prisões. Outros decidirem abandonar o país”, relatou.
Segundo Kalinovsky, a tática de Lukashenko de “sequestrar” um avião foi contraproducente. “Ele imaginava que a reação do Ocidente seria fraca, como de costume. Mas, agora, as nações ocidentais respondem de forma contundente. A Rússia é o principal parceiro da Bielorrússia. Suponho que Putin queira manipular Lukashenko para que fique no poder por mais tempo, porém, isolado do mundo, à exceção da Rússia”, acrescentou. O jornalista aposta que o fim da era Lukashenko se aproxima. “Mas, Putin é ainda pior enquanto governante, e muito perigoso para seu próprio país, para os bielorrussos e para o mundo.” (RC)
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