VATICANO

Papa brinca sobre o Brasil: "Vocês não têm salvação"

"Foi uma espontaneidade [...], um momento extrovertido e, ao mesmo tempo, natural. Foi bem especial", admitiu o padre João Paulo, que pediu ao Papa para que rezasse pelos brasileiros

Rodrigo Craveiro
postado em 27/05/2021 06:00
 (crédito: Padre João Paulo Souto Victor/Divulgação)
(crédito: Padre João Paulo Souto Victor/Divulgação)

Era a última oportunidade para o padre paraibano João Paulo Souto Victor, 37 anos, assistir à tradicional audiência geral do papa Francisco antes do retorno a Campina Grande (PB), na próxima semana. Para coroar o fim de 1 ano e 8 meses de mestrado em teologia moral no Colégio Pio Brasileiro, em Roma, o padre Carlos Henrique Alves de Resende, 40, da diocese de Divinópolis (MG), sugeriu ao colega de curso e amigo que faria o papel de cameraman. “O desejo era registrar esse momento para que ele pudesse voltar ao Brasil com essa lembrança”, contou ao Correio, por telefone, de Roma.

Assim que Francisco se aproximou, o padre João Paulo teve uma ideia. “Depois da catequese, como de costume, ele saúda os presentes. Pedi uma bênção para os brasileiros por causa do momento em que estamos. Antes da bênção, de forma muito afetuosa, carinhosa e extrovertida, como sempre, ele brincou conosco. Foi espontâneo. Não esperava receber a bênção papal, muito menos essa repercussão”, disse o paraibano.

Com a câmera na mão, o padre Carlos flagrou o pedido do amigo. “Santo Padre, reze pelos brasileiros...”, clamou João Paulo, em italiano. A resposta do papa deixou o paraibano sem reação. “Vocês não têm salvação”, brincou Francisco, usando o mesmo idioma e balançando a cabeça, negativamente. “É muita cachaça e pouca oração”, continuou o pontífice, entre gargalhadas. Francisco colocou a mão sobre a fronte de João Paulo e completou: “Rezo sempre pelo Brasil”.

“Não foi nada marcado. Foi uma espontaneidade, ao fim da catequese. Ao meu pedido de bênção, ele brincou e, depois, abençoou minha testa com o sinal da cruz. Foi um momento extrovertido e, ao mesmo tempo, natural. Foi bem especial”, admitiu o padre João Paulo. Ele classificou como “inexplicável” a reação do pontífice. “Eu não esperava essa brincadeira, né? Quando a gente pede a bênção, sempre acha que vem a questão da formalidade. Mas, quando nós, brasileiros, falamos com o papa Francisco, ele sempre brinca conosco, sempre afetuoso.”

Ao ser questionado sobre o que mais lhe marcou naquele momento, flagrado em vídeo que rapidamente viralizou, o sacerdote paraibano admitiu a surpresa. “Eu, praticamente, fiquei assim... Pra ser sincero, não tive como reagir. Não esperava esse momento... Demorou um pouquinho, mas foi muito eterno. Fiquei emocionado. Nós sorrimos, apesar de a máscara não permitir ver isso no vídeo. Guardo, em minha lembrança, o brilho do olhar e o sorriso expressivo, natural, profundo, mas envolvente. É como vejo a marca de Francisco nesses oito anos de pontificado”, disse o padre João Paulo. 

 

 

Segundo o padre Carlos Henrique, o desejo e a esperança da dupla eram apenas de se aproximarem de Francisco. “Tivemos esse privilégio, hoje. O Santo Padre, em um sorriso e em um ambiente de muita liberdade, proximidade e muito carinho, disse, então, que nós não tínhamos salvação, porque no Brasil é muita cachaça e pouca oração”, relatou, aos risos. “Logo depois, ele concluiu dizendo que reza sempre pelo Brasil e que tem um carinho grande pelos brasileiros. Foi um momento muito especial, mas não imaginávamos que teria essa repercussão. Nós tínhamos reservado aquele momento como uma comédia, uma piada. De repente, isso viralizou para todo o Brasil.” 

O “cinegrafista” contou que o pontífice sempre tem uma postura de “acolhimento, carinho e cuidado”. “Nós nos sentimos extremamente acolhidos e valorizados pelo Santo Padre com essa brincadeira que ele fez com a gente, e, depois, com a expressão de amor e de carinho dele pelo Brasil e pelos brasileiro”, concluiu o padre Carlos Henrique.

Até o fechamento desta edição, a hashtag #papa tinha sido citada no Twitter 176 mil vezes. Ainda que a maioria dos internautas tenha reagido com o mesmo humor de Francisco, alguns brasileiros sentiram-se ofendidos. “Pô, não é justo com o papa Francisco pegar um trechinho dele zoando um lugar que, na verdade, ele ama e fazer viralizar”, brincou o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. “Até o papa desistiu da gente”, ironizou uma internauta. 

 

Um beijo sobre o símbolo do horror nazista 

Em outro momento da audiência geral, no Vaticano, o papa Francisco demonstrou, mais uma vez, espontaneidade. Em um gesto solene, que simbolizou solidariedade, o pontífice beijou o número de detenção tatuado no braço de uma sobrevivente do Holocausto. Lidia Maksymowicz, 81 anos, polonesa de origem bielorrussa, deportada em 1943 para o campo de Auschwitz Birkenau quando tinha menos de três anos de idade, também foi vítima das experiências do criminoso de guerra Josef Mengele. Entre os presentes na audiência realizada ao ar livre, a idosa aproveitou para cumprimentar o pontífice no final do encontro.

Depois de trocarem algumas palavras, ela puxou a manga para mostrar ao sumo pontífice a tatuagem com o número 70072, marcada pelos nazistas quando ela entrou no campo de concentração. O papa argentino se inclinou para beijá-la, e a sobrevivente, comovida, abraçou-o, também de forma espontânea. “Com o Santo Padre nos entendemos com um olhar, nenhuma palavra foi necessária”, confidenciou a senhora depois de seu encontro com o papa, segundo o portal de notícias do Vaticano.

 

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