Êxodo

Milhares de pessoas abandonam cidade no Congo por vulcão em erupção

Com pressa, irritação e no meio da poeira, carros, caminhões e ônibus sobrecarregados tentavam avançar pela estrada que une Goma com a localidade de Sake, na região montanhosa de Masisi

Agência France-Presse
postado em 27/05/2021 12:15
 (crédito: Guerchom NDEBO / AFP)
(crédito: Guerchom NDEBO / AFP)

Goma, RD Congo — Dezenas de milhares de pessoas abandonavam nesta quinta-feira (27) a cidade de Goma, na região leste da República Democrática do Congo (RDC), depois que as autoridades ordenaram a evacuação da localidade ante o risco de uma nova erupção do vulcão Nyiragongo.

Os engarrafamentos bloquearam a rodovia da zona oeste de Goma, principal ponto de saída da cidade.

Com pressa, irritação e no meio da poeira, carros, caminhões e ônibus sobrecarregados tentavam avançar pela estrada que une Goma com a localidade de Sake, na região montanhosa de Masisi.

O engarrafamento alcançou 20 quilômetros. Milhares de pessoas, incluindo crianças e idosos, com malas e pacotes, caminhavam ao longo do acostamento, enquanto alguns soldados e policiais tentavam facilitar o fluxo ininterrupto.

"Melhor ir embora"

"Vou para Sake a pé. Estou fugindo do vulcão. Tenho cinco filhos. Estou sofrendo, não sei o que vamos comer. Não consigo encontrar meu marido desde a última erupção", disse Madeleine, que caminhava ao lado dos filhos.

"É uma pena que as autoridades não tenham apresentado nenhum veículo", disse Rachel Mapendo, uma avó que caminhava com o neto pelo acostamento.

"Os dados atuais de sismicidade e de deformação do solo indicam a presença de magma sob a área urbana de Goma, com uma extensão sob o lago Kivu", declarou o governador militar da província de Kivu Norte, o general Constant Ndima.

"Atualmente, não podemos descartar a erupção em terra ou sob o lago, que poderia acontecer com pouco ou nenhum sinal de alerta", explicou, antes de citar os nomes de 10 bairros da cidade que devem ser abandonados "obrigatoriamente".

Um grupo de cientistas seguiu para o topo do vulcão para avaliar os riscos de uma nova erupção e "observar e extrair dados, que permitirão ao governo tomar decisões futuras", declarou o porta-voz do Executivo, Patrick Muyaya.

As pessoas fugiram para Sake e para a fronteira com Ruanda.

"Temos medo, a qualquer momento o vulcão pode entrar em erupção, em qualquer lugar. É melhor ir embora", declarou Alliance Kimony, morador de Goma.

A hipótese mais catastrófica, segundo os cientistas, seria a "erupção límnica, também conhecida como fenômeno do lago explosivo, na qual "os gases dissolvidos nas águas profundas do lago se elevam, especialmente o CO2, e asfixiam todos os seres vivos ao redor do lago Kivu", informou uma nota recente do Observatório de Vulcanologia de Goma (OVG).

Preços disparam

Em um comunicado divulgado em Kinshasa, o ministério da Comunicação afirma que "a ameaça persistente de erupção e os repetidos tremores obrigam o governo a ativar como medida preventiva um plano de retirada progressiva dos habitantes o mais rápido possível".

Com um apelo por calma, as autoridades afirmam que proporcionaram transporte e mobilizaram patrulhas "para assegurar a segurança dos bens e das pessoas".

"Estamos espantados. Não vemos os meios para sair de Goma, há muitos engarrafamentos, os preços dos mototáxis dispararam", afirmou Agnes Kahindo na estrada de Sake. Em poucas horas, o preço do litro do combustível triplicou e superou 5.000 FC (3 dólares).

No porto de Goma, uma multidão aguardava para embarcar nos navios com destino a Bukavu, sul de Kivu, antes que as autoridades proíbam a navegação.

As pessoas também fugiam para o norte de Goma por Rutshuru.

As saídas para Ruanda eram mais tranquilas, à medida que as horas passaram e as pessoas abandonaram a cidade: o pânico deu lugar a uma estranha calma em Goma, parcialmente vazia.

A cidade tem mais de 600.000 habitantes e a aglomeração urbana alcança dois milhões, segundo o governo.

Trinta e duas pessoas morreram desde a erupção de sábado.

O vulcão Nyiragongo entrou em erupção repentinamente no sábado, provocando um primeiro êxodo de residentes.

A grande erupção anterior do Nyiragongo, em 17 de janeiro de 2002, matou pelo menos 100 pessoas.

 

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