Keiko na ofensiva

Partido da filha de Alberto Fujimori busca anular "grande quantidade de votos" e evitar derrota para Pedro Castillo. Candidato esquerdista admite vitória e promete respeitar a democracia. Forças Armadas se negam a intervir nas eleições, após denúncias de fraude

Correio Braziliense
postado em 09/06/2021 21:01 / atualizado em 10/06/2021 01:38
 (crédito: Ernesto Benavides/AFP)
(crédito: Ernesto Benavides/AFP)


À medida em que uma das eleições mais acirradas da história peruana se aproximava do fim, o partido de direita Fuerza Popular, da ex-deputada Keiko Fujimori, anunciou que apresentará, “nas próximas horas”, uma “grande quantidade” de pedidos de anulação de votos. Por sua vez, o candidato de esquerda Pedro Castillo Terrones declarou-se presidente eleito do Peru, recebeu os cumprimentos do ex-líder boliviano Evo Morales, recomendou aos seguidores que não caiam em provocações e agradeceu às personalidades de “diversos países” da América Latina por felicitações por sua “vitória”. Em meio às denúncias de fraude, os júris eleitorais do Peru começaram a revisar os votos contestados, um procedimento que pode durar 10 dias e tem ocorrido com frequência em todas as eleições do país.
“Seremos um governo respeitoso da democracia, da atual Constituição e faremos um governo com estabilidade financeira e econômica”, prometeu Castillo, em discurso para apoiadores, na noite de terça-feira. Em Anápolis, o presidente Jair Bolsonaro também admitiu a vitória do esquerdista. O jornal peruano El Comercio divulgou que a intenção do Fuerza Popular é deixar sem efeito os votos de “algumas seções eleitorais”, na esperança de reverter o resultado das urnas.
Filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), Keiko poderá enfrentar o banco dos réus, caso saia derrotada nas eleições. O nome dela está vinculado ao escândalo de corrupção da empreiteira brasileira Odebrecht, o que pode lhe custar até 30 anos e 10 meses de prisão. O julgamento também incluiria o marido de Keiko, o norte-americano Mark Vito Villanella, que pode ser setenciado a até 22 anos e 8 meses de cadeia. Uma vitória no pleito significaria o adiamento do julgamento por cinco anos. “Há muito em jogo se ela perder, pois terá que avaliar se se aposenta e o julgamento virá. Temo que o fujimorismo vá se desmembrar”, afirmou à agência France-Presse o analista político Augusto Álvarez, colunista do jornal peruano La República.
O fujimorismo, segundo o El Comercio, estaria coordenando as ações com um grupo de advogados da corrente política, além de especialistas “democráticos ou independentes”. Vencedor do Nobel de Literatura em 2010, o escritor Mario Vargas Llosa somou-se ao coro dos insatisfeitos com o resultado eleitoral. Ele considerou ser “indispensável” que autoridades revisem as atas impugnadas no segundo turno e que elas, sem interferência política, devem determinar o resultado das eleições, “cujo resultado ainda é incerto”. Nas redes sociais, aliados e eleitores de Keiko pediram uma intervenção das Forças Armadas ante uma suposta fraude eleitoral.


Rechaço

Em nota, o Ministério da Defesa rechaçou os apelos e fez um chamado à unidade nacional e ao respeito pelo voto popular. “A Constituição estabelece que a finalidade primordial das Forças Armadas é garantir a independência, a soberania e a integridade territorial da República. Não são deliberantes nem estão subordinadas ao Poder Constitucional. Qualquer chamado a descumprir com este encargo é impróprio de uma democracia”, afirma o comunicado. Ainda segundo a nota, a função dos militares é assegurar o livre exercício do direito de sufrágio, proteger os funcionários eleitorais e custodiar o material eleitoral.
Simpatizantes de Castillo celebravam a provável vitória nas ruas do centro de Lima, enquanto os eleitores de Keiko se mobilizavam para um protesto na mesma região. De acordo com o La República, os casos de fraude apresentados na noite de segunda-feira por Keiko “não se sustentam”. Ontem, Evo Morales parabenizou Castillo, que, caso eleito, formará um eixo bolivariano com os presidentes Nicolás Maduro (Venezuela) e Luis Arce Catacora (Bolívia). “Muitas felicidades por essa vitória, que é a vitória do povo peruano, mas também do povo latino-americano que deseja viver com justiça social!”, tuitou o ex-líder esquerdista indígena (2006-2019).
Até o fechamento desta edição, com 99,868% das urnas processadas e 98,644% apuradas, Castillo mantinha a liderança, com 50,194% dos votos válidos (8.754.816) contra 49,806% para Keiko (8.687.257) — uma diferença de 67.559 votos (ou 0,388%). Com 100% dos votos do exterior contabilizados, Keiko obteve 66,4% dos votos contra 33,5% para Castillo.

“Perdemos agora o Peru”, diz Bolsonaro
Durante culto evangélico em Anápolis (GO), o presidente Jair Bolsonaro deu como finalizadas as eleições peruanas. “Perdemos agora o Peru. Voltou, ao que tudo indica, falta 1% de apuração lá, só um milagre para reverter. Vai reassumir com cara do Foro de São Paulo”, afirmou, em referência à organização que congrega partidos de esquerda da América Latina. Bolsonaro também criticou a eleição da Assembleia Constituinte do Chile, ao citar o país como nação que começa a inclinar-se para a esquerda.

“Seremos um governo respeitoso da democracia, da atual Constituição e faremos um governo com estabilidade financeira e econômica”

Pedro Castillo, candidato do partido de esquerda Perú Libre

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