O cardeal alemão Reinhard Marx, atualmente arcebispo de Munique, não será liberado de suas funções, mesmo depois de reconhecer o “fracasso” da Igeja Católica na “catástrofe dos abusos sexuais” na Alemanha. O papa Francisco não aceitou a renúncia de Reinhard. Em carta enviada ao cardeal, o pontífice agradeceu a “coragem” do religioso, concordou com ele em sua visão da gestão dos abusos sexuais, mas pediu que ele “continue” como arcebispo de Munique. “(...) Obrigado por sua coragem. É uma coragem cristã que não teme a cruz, não teme ser dominado pela tremenda realidade do pecado”, escreveu Francisco ao cardeal.
Na quarta-feira, Reinhard respondeu ao papa aceitando o “grande desafio”. “Isso significa muito para mim e para nosso trabalho na Arquidiocese de Munique e Freising. Teremos que considerar quais novos caminhos podemos seguir, também tendo em vista a história de múltiplos fracassos”, disse.
Na carta em que pedia a sua liberação, Reinhard, também ex-presidente da Conferência Episcopal da Alemanha, reconheceu ser “importante compartilhar a responsabilidade pela catástrofe dos abusos sexuais cometidos por membros da Igreja nas últimas décadas”. Classificado como um liberal dentro da instituição, o religioso, de 67 anos, considera que a Igreja Católica está em “ponto morto”.
Em sua resposta, Francisco admite que “toda a Igreja está em crise por causa do tema dos abusos; além disso, a Igreja hoje não pode dar um passo adiante sem assumir esta crise”. O pontífice argentino concorda com o cardeal “em classificar de catástrofe a triste história dos abusos sexuais”. “O ponto de partida é a confissão humilde: nos equivocamos, pecamos”, afirma o papa. No fim do texto, Francisco responde ao pedido de demissão: “Continue (...) como arcebispo de Munique e Freising”.
Reforma
Vítima de um padre pedófilo em Boston, quando tinha 12 anos, o norte-americano Phil Saviano, 68, disse não ver controvérsia na decisão do papa de manter o cardeal. “Reinhard não foi implicado em nenhuma das investigações sobre pedofilia. Supostamente, Francisco tem um plano para reformar a Igreja, e, provavelmente, Reinhard não concorda com as mudanças. Eu não culpo o papa por insistir na permanência dele”, disse ao Correio o homem cuja história serviu de inspiração para o filme Spotlight: segredos revelados.
Para Saviano, a menos que os termos do Caminho Sinodal — conferências da Igreja Católica na Alemanha para discutir questões teológicas, organizacionais e reações ao escândalo da pedofilia — sejam controversos, a postura de Francisco seria considerada polêmica em rejeitar a renúncia. “Ao supor que o Caminho Sinodal seja uma boa reforma (e não sei é ou não), apoio a recusa do papa em aceitar a demissão.”
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