Taiwan, origem da covid-19 e direitos humanos. Os temas foram motivos de pressão dos Estados Unidos sobre a China, durante a cúpula do G7 — grupo dos países mais industrializados do mundo, formado por Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido e pela União Europeia —, realizada em Carbis Bay (Cornualha), no sudoeste da Inglaterra. Presente no encontro, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, telefonou para o ministro das Relações Exteriores chinês, Yang Jiechi, e destacou a importância da cooperação e transparência em relação à origem do vírus.
O chefe da diplomacia de Washington cobrou a autorização para que especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) retornem à cidade de Wuhan, na região central da China. Foi a primeira conversa desde um acalorado encontro no Alasca, em março.
Estreante da cúpula, o presidente dos EUA, Joe Biden, determinou aos serviços de inteligência dos Estados Unidos que apresentem um relatório, no fim de agosto, para estabelecer se a covid-19 surgiu de uma fonte animal ou de um vazamento de laboratório. A doença foi detectada, pela primeira vez, no fim de 2019, em Wuhan. A tese de que o Sars-CoV-2 surgiu do Laboratório de Virologia de Wuhan era defendida pelo ex-presidente Donald Trump, mas acabou amplamente refutada. A crença geral era de que o então líder republicano montou uma “cortina de fumaça”, a fim de desviar as críticas de sua própria gestão da pandemia.
A teoria do laboratório voltou a ganhar força nas últimas semanas, e Biden admitiu a necessidade de um estudo mais aprofundado, depois de criticar Pequim por dificultar a investigação por parte da OMS. Enquanto o líder norte-americano se reunir com os homólogos de outros países do G7, Yang Jiechi — um importante membro do Politburo (o Comitê Central do Partido Comunista) e gestor das relações de Pequim com os Estados Unidos — partiu para a ofensiva contra Washington. “O multilateralismo genuíno não é pseudomultilateralismo baseado nos interesses de pequenos círculos”, afirmou Yang a Blinken, de acordo com a TV estatal. “O único multilateralismo genuíno é aquele que se baseia nos princípios da Carta das Nações Unidas e do direito internacional”, acrescentou.
Violações
O chanceler chinês também reforçou as acusações de hipocrisia contra os Estados Unidos. Foi uma resposta ao lobby de Blinken contra o que o norte-americano considerou ser o genocídio de uigures e de outras etnias, principalmente muçulmanos, os quais encontram-se detidos em campos de trabalho forçado, na província de Xinjiang (noroeste da China). “Os Estados Unidos devem resolver graves violações de direitos humanos em seu próprio território, e não usar as chamadas questões de direitos humanos como desculpa para interferir arbitrariamente nos assuntos internos de outros países”, disse Yang.
No telefonema ao homólogo chinês, Blinken manifestou preocupação com o aumento da pressão da China sobre Taiwan, incluindo voos militares ao longo de sua costa. O secretário de Estado exortou Pequim a encerrar a campanha de assédio contra a ilha e a resolver “‘pacificamente” as questões relacionadas a Taiwan.
A Casa Branca não esconde o temor ante a possibilidade de a China utiliza força militar em Taiwan — uma democracia autônoma que considera parte de seu território —, após suas extensas restrições às liberdades em Hong Kong. Nos últimos dias, os Estados Unidos concordaram em reabrir as negociações comerciais com Taiwan e autorizaram um avião militar a transportar uma delegação de senadores com vacinas anticovid. O governo Biden descreve a China como um desafio internacional preeminente e prometeu combatê-lo fortalecendo alianças.
Convidada de honra
Os líderes do G7 veem a cúpula como uma “enorme oportunidade” para colocar em prática a recuperação mundial após a pandemia, começando pela distribuição de um bilhão de doses de vacinas contra a covid-19. Em meio ao clima de otimismo e à cordialidade entre os chefes de Estado e de governo de Alemanha (Angela Merkel), Canadá (Justin Trudeau), Estados Unidos (Joe Biden), França (Emmanuel Macron), Itália (Mario Draghi), Japão (Yoshihide Suga) e Reino Unido (Boris Johson), a rainh Elizabeth II uniu-se aos líderes, no fim da tarde de ontem, para um jantar próximo ao resort de Carbis Bay. Segundo a emissora britânica BBC, os mandatários posaram para uma fotografia ao lado da monarca. “Vocês deveriam estar olhando como se estivessem se divertindo?”, brincou Elizabeth II. Todos riram, e o também anfitrião Johnson respondeu: “Sim, temos nos divertido, apesar das aparências”. Foi a primeira vez que a rainha conversou com Joe Biden (foto) desde que ele assumiu a Presidência dos Estados Unidos, em janeiro.
A despedida de Merkel
Além do estreante Joe Biden, a cúpula do G7 tem a chancelar alemã, Angela Merkel, como uma das principais protagonistas. O encontro marca a despedida de “Multi” (forma familiar do alemão para “mamãe”), como Merkel é chamada em seu país. A poucos meses de deixar o poder, depois de 16 anos, a chefe de governo participa de sua última cúpula. Ontem, a porta-voz de Biden anunciou que receberá a chanceler, na Casa Branca, em 15 de julho. “O presidente Biden espera receber a chanceler alemã Angela Merkel na Casa Branca em 15 de julho”, afirmou a secretária de imprensa, Jen Psaki. Biden e Merkel “conversarão sobre seu compromisso de cooperar estreitamente em uma série de desafios comuns, como acabar com a pandemia de covid-19, enfrentar a ameaça da mudança climática e promover a prosperidade econômica e a segurança internacional”, acrescentou Psaki. Ontem, Merkel (E) foi fotografada cumprimentando, com o cotovelo, o premiê britânico, Boris Johnson, e a mulher dele, Carrie Johnson (D).
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