ALIANÇA MILITAR

Otan aponta Rússia e China como desafios

Em encontro que marcou a reaproximação com os Estados Unidos, líderes da organização assinalam que Pequim é uma preocupação sistêmica e pedem a Moscou respeito às normas internacionais

Correio Braziliense
postado em 14/06/2021 21:19
 (crédito: Brendan Smialowski/AFP)
(crédito: Brendan Smialowski/AFP)

Durante uma cúpula presencial, que marcou a reaproximação com os Estados Unidos, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) fez um alerta, ontem, sobre os “desafios sistêmicos” apresentados pela China. Ao fim do encontro, numa extensa declaração, a aliança militar pediu também à Rússia que respeite as normas internacionais. Foi a estreia do presidente americano, Joe Biden, no encontro, após anos de tensão entre seu antecessor, Donald Trump, e a organização.
No documento, os líderes reafirmaram sua “unidade, solidariedade e coesão” para abrir “um novo capítulo nas relações transatlânticas”, enquanto definiram a Otan como a base da defesa coletiva. “Pedimos à China que respeite seus compromissos internacionais e que atue com responsabilidade no sistema internacional, incluindo os domínios espacial, cibernético e marítimo”, expressaram.
Embora fontes diplomáticas tenham afirmado que a declaração se referiria a Pequim sem uma linguagem “incendiária”, o manifesto apontou categoricamente que “as ambições da China” e seu comportamento representam “desafios sistêmicos para a ordem internacional baseada em regras”.
“(A) crescente influência da China (...) pode representar desafios que precisamos enfrentar juntos, como uma aliança. Nós enfrentamos cada vez mais ameaças cibernéticas, híbridas e assimétricas”, assinalaram os líderes.
Ao chegar à sede da Aliança Atlântica para a cúpula, o secretário-geral Jens Stoltenberg disse que “não haverá uma nova guerra fria”, mas que devem “enfrentar os desafios impostos pela China à segurança”.

Provocações

Quanto à Rússia, os aliados expressaram que o reforço de sua capacidade militar e de atividades provocadoras nas fronteiras da aliança militar “ameaçam cada vez mais a segurança da área euro-atlântica”. “Até que a Rússia demonstre respeito pela lei internacional e suas obrigações e compromissos internacionais, não poderá haver um retorno à normalidade”, ressaltaram.
Em suas declarações, Joe Biden condenou as “ações agressivas” da Rússia, que anexou a península da Crimeia ao seu território em 2014 (ler matéria ao lado). “Não busco conflito com a Rússia, mas responderemos se continuar com suas atividades nocivas”, observou o americano.
Os aliados também abordaram a retirada de suas tropas do Afeganistão, depois de duas décadas, assinalando que isso “não significa o fim” das relações com esse país da Ásia Central. A saída integral das forças está prevista para este ano, porém a intenção é a de manter um escritório de Representação Civil em Cabul. Os líderes também apontaram que fornecerão “fundos de transição para garantir o funcionamento do aeroporto internacional Hamid Karzai”, na capital afegã.

Contraste

Para marcar um novo momento das relações, Joe Biden buscou destacar o apoio de Washington à aliança militar várias vezes, depois das tensões durante a gestão de Trump. “Quero ser muito claro: a Otan é de suma importância para os nossos interesses e em si mesma”, expressou o democrata, voltando a se referir a uma “obrigação sagrada” de seu país com a organização.
Stoltenberg destacou que nas reuniões a portas fechadas, o chefe da Casa Branca garantiu aos demais líderes o compromisso de seu governo com a aliança militar, em um contraste notório com a difícil relação que o bloco teve com Donald Trump.
No segmento das relações da Otan com atores fora do bloco, o documento enfatizou que a aliança “intensifica a interação com a Colômbia, um aliado na América Latina, em questões de governança, treinamento militar, desminagem e segurança marítima”.
Outro tema de grande tensão é o papel da Turquia, um aliado difícil que, no entanto, poderia desempenhar um papel central no futuro imediato do Afeganistão depois da retirada das tropas.
À margem da cúpula da Otan, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, teve uma reunião bilateral, classificada por ele como “produtiva e sincera”, com Joe Biden. “Acredito que não haja problema que não possa ser resolvido nas relações entre a Turquia e os Estados Unidos”, disse, após o primeiro encontro com o presidente americano.
A relação entre a Turquia e os Estados Unidos sofreu um forte golpe após a decisão do governo turco de adquirir o sistema de mísseis russo S-400. Além disso, o governo de Erdogan possui diferenças nítidas em relação ao resto da Otan ante a Síria e a Líbia, assim como no conflito em Nagorno Karabakh. No entanto, além da questão afegã, Ancara desempenha um papel crucial na política de migração europeia.
Erdogan também teve um encontro com o presidente da França, Emmanuel Macron, um dos que defendem uma posição mais rígida da aliança militar em relação à Turquia. Sobre esse encontro, o líder turco disse apenas que eles concordaram em “continuar as negociações” e que encontraram “pontos de convergência” no que diz respeito à necessidade de preservar o cessar-fogo na Líbia.

» Pontos centrais
Os cinco destaques da declaração divulgada no encerramento da cúpula


Reforço militar da Rússia
“O crescente reforço militar da Rússia, sua postura mais firme, as novas capacidades militares e as atividades provocativas, inclusive perto das fronteiras da Otan (...), ameaçam cada vez
mais a segurança da região euroatlântica e contribuem para a instabilidade ao longo das fronteiras da Otan e além”, assinalaram os líderes.

Ambições chinesas
Os países da Otan registraram preocupação com as “ambições declaradas e o comportamento assertivo da China”, uma vez que causam “desafios sistêmicos à ordem internacional com base em regras e nas áreas de segurança” da aliança. “A China expande rapidamente seu arsenal nuclear, com mais bombas e vetores mais sofisticados”, destacou o documento.

Novas ameaças
“O terrorismo, em todas as suas formas e manifestações, continua sendo uma ameaça persistente para todos nós”, apontou a declaração, que incluiu questão climática como desafio de segurança global. “Enfrentamos cada vez mais ameaças cibernéticas, híbridas e assimétricas de outro tipo, incluindo campanhas de desinformação e o uso malicioso de tecnologias emergentes e disruptivas sofisticadas.”

Defesa europeia
“O desenvolvimento de capacidades de defesa coerentes, complementares e interoperáveis, evitando duplicações desnecessárias, é fundamental para os nossos esforços conjuntos para tornar a zona euroatlântica mais segura”, afirmaram os líderes.

Papel no Afeganistão
“A retirada das tropas da Otan não significa o fim das nossas relações com o Afeganistão”, ressaltou a declaração. Os líderes da aliança afirmaram que a aliança continuará fornecendo “capacitação e apoio financeiro às forças de segurança e defesa nacional afegãs” e que manterão um escritório de representação em Cabul para continuar o compromisso diplomático e “fortalecer nossa associação.

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Alerta a Putin

A dois dias do encontro com Vladimir Putin, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou, ontem, em Bruxelas, que não deseja “conflito” com Moscou. Mas antecipou que fará um alerta ao presidente da Rússia na conversa que terão, amanhã, em Genebra, na Suíça. O chefe da Casa Branca pretende expressar ao colega quais são as “linhas vermelhas” que ele não deve ultrapassar.
“É nosso interesse comum e do interesse do mundo que cooperemos. E veremos se podemos fazê-lo. E nas áreas em que não estivermos de acordo, deixar claro para ele quais são as linhas vermelhas”, disse Biden, durante entrevista coletiva.
O líder americano prometeu, na sede da Otan, que defenderá a “integridade territorial” da Ucrânia, em relações tensas com Moscou desde 2014 quando os russos tomaram a Crimeia. No mês passado, o clima de apreensão se agravou com uma repentina concentração militar russa nas proximidades da fronteira com o país vizinho.
“Não busco um conflito com a Rússia, mas responderemos se a Rússia continuar com suas atividades nocivas”, disse o presidente americano, que também reafirmou seu “apoio continuado à soberania” ucraniana. “Faremos o possível para que a Ucrânia consiga resistir à agressão.”
Biden, no entanto, afastou a pretensão do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, de obter seu apoio para uma incorporação rápida da Ucrânia à Otan, assinalando que esse passo não depende dos Estados Unidos, e sim dos 30 membros da organização.
Mais cedo, Zelensky, lamentou que Biden não tenha se encontrado com ele antes da cúpula com Putin. Ele disse não esperar que a cúpula leve a uma solução para a guerra entre Kiev e os separatistas pró-russos no leste do país.
Na entrevista concedida em Bruxelas, o presidente dos EUA também falou sobre o ativista russo Alexei Navalny. Biden enfatizou que Putin é um homem “inteligente” e “duro”, assinalando que ele deveria entender que caso o seu principal opositor morra na prisão será “uma tragédia”.

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