Pelo 29º ano consecutivo, 184 países votaram a favor de uma resolução para exigir o fim do bloqueio econômico imposto a Cuba pelos Estados Unidos desde 19 de outubro de 1960, durante o governo de Dwight D. Eisenhower — no ano seguinte, Washington rompeu relações diplomáticas com Havana. Ontem, o Brasil mudou de posição e se absteve na votação. Apenas Israel e EUA se opuseram ao texto.
Foram 184 fotos a favor, dois contra e quatro abstenções: Brasil, Ucrânia, Emirados Árabes Unidos e Colômbia. Em 2019, quando o Itamaraty era comandado por Ernesto Araújo, o Brasil votou contra a condenação ao bloqueio, posição destoante desde o início da apreciação da resolução, em 1992. O Correio entrou em contato com o Ministério das Relações Exteriores para consulta sobre o que motivou a mudança de posição, mas, até o fechamento desta edição, não houve resposta.
O embaixador Rolando Gómez González, encarregado de negócios de Cuba no Brasil, admitiu ao Correio que houve duas mudanças de postura do governo brasileiro em relação à ilha. Ele cita que, em novembro de 2019, o Brasil votou a favor do bloqueio econômico, alinhado a Israel e aos EUA, depois de 28 anos de votações consecutivas contra “essa política genocida e violadora da Carta das Nações Unidas, do direito internacional e das normas que regem o comércio internacional”. “Agora, durante o debate de um projeto apresentado por Cuba contra o bloqueio, o Brasil se absteve. Uma abstenção sempre se resulta menos ofensiva e extrema do que uma postura em favor de uma projeção que condena e rechaça a humanidade quase que de modo unânime, por sua natureza política, abusiva e criminosa”, comentou.
De acordo com o diplomata, a abstenção não satisfaz o povo cubano. “Não estar a favor nem contra uma política tão desumana e cruel, por diferenças ideológicas entre os governos, obviamente não se trata de uma postura compreendida e é vista com desagrado pela imensa maioria dos cubanos”, explicou González. O embaixador apontou transformações importantes na política brasileira em relação a Cuba. Ele cita, por exemplo, a rejeição aos termos acordados sobre a participação cubana no Programa Mais Médicos, apesar de 60 milhões de brasileiros terem sido beneficiados. “Apesar disso, as relações entre nossos povos seguem fortes e afetuosas, baseadas na história, na cultura, nas origentes e em idiossincrasias comuns”, sublinhou.
González disse que o bloqueio econômico a Cuba, por parte dos Estados Unidos, surtiu impactos “enormes e desastrosos”. “O dano humano é incalculável, e a vida de nenhuma família cubana escapa aos efeitos desta política genocida. Os EUA recrudesceram sua guerra não convencional contra a Revolução Cubana. Seu componente econômico, financeiro e comercial com o bloqueio pretende asfixiar nossa econômica nas condições super adversas da pandemia da covid-19”, comentou o embaixador, ao revelar prejuízos de US$ 5 bilhões em um ano. “Cuba apenas exige que nos deixem viver em paz, sem bloqueio e sem perseguições às nossas relações econômicas.” (RC)
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“O bloqueio econômico imposto a Cuba é uma violação massiva, flagrante e sistemática dos direitos humanos da população. Também constitui ato de genocídio, de querer render e submeter um povo por meio da fome e das doenças. Uma guerra econômica de alcance extraterritorial contra um pequeno país, privado de rendas indispensáveis. Essa política de uma potência militar e econômica de tentar subjugar uma pequena nação e de querer impor um governo desenhado por eles (EUA) não é algo legal ou ético. É inaceitável.”
Embaixador Rolando Gómez González, encarregado de negócios de Cuba no Brasil
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