ESTADOS UNIDOS

Drama afeta brasileiros

Carioca aguarda notícias do filho de cinco anos e do marido, desaparecidos após o desabamento de prédio de 12 andares em Surfside, na Flórida. Outra família procedente do Brasil fugiu do local por meio da varanda. Socorristas buscam 159 moradores

Correio Braziliense
postado em 25/06/2021 22:41
 (crédito: Chandan Khanna/AFP)
(crédito: Chandan Khanna/AFP)

A brasileira Raquel Oliveira, 41 anos, tenta controlar as emoções enquanto aguarda notícias do filho, Lorenzo, 5 anos, e do marido, Afredo Leone. O menino brasileiro e o pai italiano moravam no apartamento 512 do condomínio Champlain Towers, um prédio de 12 andares que desabou na madrugada de quinta-feira, em Surfside (Flórida). “A tragédia que aconteceu em Miami foi em meu prédio, e Lorenzo e Alfredo Leone dormiam no momento do colapso. Ainda não tenho notícias dos dois. (…) Nesse momento realmente não preciso de nada, só saber deles. Toda a minha vida estava naquele apartamento”, escreveu Raquel em sua página no Facebook, às 23h do mesmo dia, enquanto visitava a família no Colorado.
Por volta das 6h45 de ontem (hora de Brasília), Raquel tornou a publicar mais informações sobre o colapso. “Eu estou bem, estou calma. Mas estou evitando muito ficar pensando nos dois (…) e me focando mais em fazer o que precisa ser feito. Não posso ficar emotiva agora, senão eu vou desabar, e eu preciso estar atenta, alerta e rápida”, afirmou. A carioca contou que cedeu amostras de DNA para que as autoridades comparem com as de crianças não identificadas, à medida que forem encontradas. “Os pais do Alfredo vão enviar os deles da Espanha para ficar no arquivo. (…) Eu tenho muita sorte de estar viva e de ter vocês.”
O número de desaparecidos após o desmoronamento parcial, ocorrido à 1h30 de quinta-feira (hora local), subiu ontem de 99 para 159. Até o fechamento desta edição, quatro corpos tinham sido retirados dos escombros. Quase 55 apartamentos do edifício, em frente ao mar, ao norte de Miami Beach, foram afetados pelo colapso, segundo o vice-comandante do corpo de bombeiros de Miami-Dade, Ray Jadallah. Construído em 1981, o Champlain Towers tinha 130 apartamentos.
Outros brasileiros enfrentaram momentos de tensão e escaparam por pouco da morte. Segundo o jornal Miami Herald, Bruno Treptow, 62 anos, dormia no oitavo andar e imaginou que um raio tivesse atingido a estrutura do prédio. “Pensei comigo que o telhado estava desabando. Virei-me para a minha esposa, que acordou assustada. Disse que não podia ser. Eu a abracei e disse-lhe: ‘Escute, é isso. Vamos morrer’”, relatou.
Ainda de acordo com o Miami Herald, Bruno tentou espiar pela porta de seu apartamento. Tudo o que viu foi uma espessa névoa que cobria tudo. Ele, a mulher e um casal de vizinhos ficaram presos em um dos cantos do condomínio, à espera de socorro. O carioca e a esposa foram resgatados com a ajuda de uma escada dos bombeiros.
Outra família de brasileiros que morava quinto andar do Champlain Towers conseguiu fugir atravessando um apartamento do segundo andar e pulando da varanda que dava para a sacada, contou à Globonews Célia Rocha, mãe de uma das moradoras, que vive a três quarteirões do prédio. “A minha família conseguiu sair a tempo e se salvar, ilesa. Chegaram aqui cheios de pó, poeira e arranhões. Mas nada quebrado e nenhuma ferida, graças a Deus”, disse. Segundo ela, a filha está bem, mas chora muito.
Vítimas

“Estamos sem notícias de 159 pessoas. Além disso, confirmamos que o balanço de mortes subiu para quatro (...) tomei conhecimento ao acordar que retiraram três corpos dos escombros”, afirmou Daniella Levine Cava, prefeita do condado de Miami-Dade. “Sabemos o paradeiro de 120 pessoas, o que é uma notícia muito boa. (…) Continuaremos as operações de busca e resgate, porque ainda temos a esperança de encontrar pessoas com vida”, acrescentou.
Bombeiros e policiais, com a ajuda de drones e cães farejadores, trabalharam durante a madrugada, apegados às reduzidas probabilidades de encontrarem mais sobreviventes. Enquanto os socorristas trabalhavam com dificuldade sob luzes artificiais, os corpos recuperados foram cobertos por sacos amarelos e removidos do local, e detetives trabalhavam na identificação das vítimas. O presidente Joe Biden declarou emergência e ordenou o envio de ajuda federal para os trabalhos de busca.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Mais de 22 anos de prisão para Chauvin

Dois meses depois de ser declarado culpado pela morte do afro-americano George Floyd, o ex-policial Derek Chauvin foi sentenciado a 22 anos e meio de prisão pelo crime, que motivou uma onda histórica de protestos por justiça racial nos Estados Unidos. “A sentença não se baseia na emoção ou na simpatia”, disse o juiz Peter Cahill, assinalando que também não resultava da pressão da opinião pública, mas estava fundamentada na lei e nos fatos. A acusação havia pedido 30 anos de reclusão.
O desfecho do processo foi bem recebido pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. “Não conheço todas as circunstâncias consideradas, mas acho, segundo as normas, que parece ser apropriado”, disse o chefe da Casa Branca. Chauvin foi condenado em três acusações de homicídio.
Advogado da família de George Floyd, morto por asfixia, Ben Crump comemorou o que chamou de um passo “histórico” para a reconciliação racial no país, “ao permitir virar a página e designar os responsáveis”.
A minutos de ouvir a pena, em um tribunal de Mineápolis, Chauvin ofereceu seus pêsames aos familiares da vítima, morto em maio de 2020. “Nesse momento, devido a alguns assuntos legais adicionais, não posso dar uma declaração formal completa. Brevemente, no entanto, quero dar minhas condolências à família Floyd”, disse.
Durante a audiência, o ex-policial recebeu o apoio de sua mãe, Carolyn Pawlenty. “Sempre acreditei na sua inocência e nunca vou duvidar disso”, afirmou, acrescentando: “Não importa aonde vá, onde esteja. Sempre estarei lá para te visitar.”
Há exatos 13 meses, Chauvin e três colegas prenderam Floyd, 46 anos, sob a suspeita de que teria usado uma nota falsa de US$ 20 em uma loja. Ele foi algemado e imobilizado contra o chão no meio da rua. Depois, o ex-policial se ajoelhou sobre o pescoço de Floyd durante nove minutos, ignorando as súplicas da vítima e das pessoas que passavam por ali angustiadas.
A cena, filmada com um celular e publicada nas redes sociais por uma jovem, rapidamente viralizou e desencadeou manifestações em diferentes partes do mundo. Os ex-colegas de Chauvin serão julgados em março de 2022 por acusações de cumplicidade no homicídio.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação