CHINA

China celebra os 100 anos do Partido Comunista

Partido Comunista Chinês (PCC) completa 100 anos de existência, e presidente Xi Jinping pede que 1,4 bilhão de cidadãos façam esforço obstinado pelos ideais compilados por Mao Tsé-tung. Desafio é garantir o controle do poder e preservar marxismo

Rodrigo Craveiro
postado em 30/06/2021 06:00
Dançarinas fazem coreografia ao redor da bandeira da China, durante comemorações dos 100 anos  do PCC, no Estádio Ninho do Pássaro, em Pequim -  (crédito: Noel Celis/AFP)
Dançarinas fazem coreografia ao redor da bandeira da China, durante comemorações dos 100 anos do PCC, no Estádio Ninho do Pássaro, em Pequim - (crédito: Noel Celis/AFP)

Mao Tsé-tung (1893-1976), fundador da República Popular da China e apelidado de “O Grande Timoneiro”, tinha uma visão pragmática e pouco romântica do sistema econômico que ajudara a implantar. “O comunismo não é amor. O comunismo é um martelo que usamos para esmagar o inimigo”, afirmou. O objeto estampa a bandeira da China e o emblema do Partido Comunista Chinês (PCC), uma superentidade política que reúne 92 milhões de membros e comanda o destino de 1,4 bilhão de cidadãos. Na véspera de completar um século de existência, o PCC busca se moldar aos desafios dos tempos modernos, como o avanço do capitalismo e a disputa por espaços na geopolítica. O partido foi fundado clandestinamente na antiga concessão francesa de Xangai, em julho de 1921. Mao decidiu que o aniversário seria comemorado sempre em 1º de julho.

Para celebrar a data, o presidente da China e secretário-geral do PCC, Xi Jinping, entregou uma medalha de honra a 29 integrantes do partido e fez um apelo aos chineses. “Dediquem tudo, até mesmo sua preciosa vida à causa do partido e do povo. Esforcem-se, de modo obstinado e incessante, pelos ideais e crenças do partido. Todos os camaradas do PCC devem considerar a crença no marxismo e no socialismo com características chinesas como seus objetivos de vida. Sempre acreditar no partido e amá-lo”, declarou Xi, cujo pensamento foi alinhado ao de Mao durante o 19º Congresso Nacional do Partido Comunista da China, em 2017. O presidente chinês busca “corrigir” a visão corrente sobre a história do PCC.

Segundo a agência de notícias estatal chinesa Xinhua, as celebrações pelos 100 anos do PCC ocorrerão, às 8h de amanhã (21h de hoje em Brasília), na Praça da Paz Celestial (Tiananmen) — no local, em 4 de junho de 1989, tanques e tropas reprimiram um protesto pró-democracia, deixando centenas de mortos. O ponto alto das comemorações do aniversário será um novo discurso de Xi. A ascensão do PCC custou muitas vidas inocentes. A maioria dos estudiosos em história chinesa estima entre 40 milhões e 70 milhões o total de mortos em decorrência da política do partido desde a chegada ao poder, em 1949. Foram vítimas dos expurgos, da “Grande Fome” (1958-1962) causada pelo “Grande Salto para a Frente” (campanha de desenvolvimento econômico a marcha forçada), da repressão no Tibete, da Revolução Cultural e do massacre da Praça da Paz Celestial.

Com a economia em franca expansão e após quatro décadas de crescimento, a China começou a se abrir ao capitalismo, em um modelo que ficou conhecido como “socialismo com características chinesas”. Hoje, a China é a segunda maior potência econômica do planeta, com um Produto Interno Bruto (PIB) estimado em US$ 25,36 trilhões (cerca de R$ 125,7 trilhões) e tem mais bilionários do que os Estados Unidos.

Sobrevivência

Sob condição de anonimato, um sobrevivente da matança em Tiananmen afirmou ao Correio que o PCC é “ágil o bastante para abandonar quaisquer limitações dogmáticas autoimpostas em princípios econômicos que fracassaram na antiga União Soviética”. “O partido é capaz de sobreviver e de se desenvolver, implantando-se nas cadeias de suprimentos e bens e capitais, e prosperando-se na ganância de companhias ocidentais e na ingenuidade de governos. Tanto que a China tornou-se a segunda maior economia inseparável do planeta”, comentou. Segundo ele, o PCC não apenas está vivo, como permanece forte no sentido militar e financeiro.

Ainda de acordo com o sobrevivente, Xi preserva a essência de Mao Tsé-tung, no que diz respeito aos princípios e à filosofia de um Estado leninista absoluto. “A vitalidade do partido não se deve a Xi, mas à estratégia de adaptação que citei há pouco. O PCC jamais resiste ao avanço do capitalismo, mas o abraça. Só que trata-se de um capitalismo sem democracia”, avalia. Ele assegura que, nos últimos anos, os fundos americanos que investem na China do PCC realmente “aumentaram” em algumas centenas de trilhões de dólares. 

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Fundação
A história oficial dá conta de que o PCC não foi fundado em 1º de julho de 1921, mas em 23 de julho. Treze participantes se reuniram, secretamente, na antiga concessão francesa de Xangai. Uma certeza: Mao Tsé-tung (foto), futuro fundador da República Popular da China, arbitrariamente definiu 1º de julho como a data do aniversário do partido, duas décadas depois.

Composição
O PCC garante ter 92 milhões de integrantes. É a segunda maior legenda do mundo: perde apenas para o Partido do Povo Indiano, do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.

Financiamento
O orçamento do PCC não é público. O partido tem recursos próprios, como as taxas de seus associados que contribuem com 0,5% a 2% de sua receita. Em 2016, um diário oficial citou a cifra de 7,08 bilhões de iuanes (US$ 1,104 bilhão pelo câmbio atual) como a receita total das cotas do ano anterior. Dividido pelo número de afiliados, significa uma contribuição anual de 80 iuanes (R$ 58) por pessoa.

Reuniões a portas fechadas
As grandes reuniões públicas do partido, como o Congresso quinquenal, são sistematicamente encerradas com a adoção de decisões quase unânimes. Mas, nas altas esferas, as reuniões do Comitê Central,
de 200 membros, e do Bureau Político, de 25 membros, são realizadas a portas fechadas. A televisão pública se limita a transmitir os monólogos do secretário-geral, Xi Jinping.

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