Desde 9 de abril, a jornalista da Ciber Cuba Notícias — publicação independente — e ativista política Iliana Hernández, 46 anos, é mantida sob vigilância extrema por parte das autoridades da ilha. “Uma semana depois começaram a vigiar minha família. Eles cortaram o nosso acesso a dados móveis pelos celulares”, contou ao Correio. “O regime começou a me perseguir em 2013, por conta do meu ativismo. Tenho dupla cidadania cubana e espanhola, e, nos últimos três anos, estou impedida de deixar Cuba. O meu nome se encontra na lista dos ‘regulados’, ao lado de 240 ativistas e jornalistas. Em 8 de janeiro de 2020, invadiram minha casa e acusaram-me de receptação”, acrescentou. Iliana é citada em informe da Human Rights Watch (HRW) sobre a repressão a artistas e jornalistas cubanos.
Em um relatório divulgado ontem, a organização não governamental acusa o regime cubano de cometer “abusos sistemáticos aos direitos humanos” contra jornalistas e artistas independentes. “A repressão contra essa camada da população tem aumentado nos últimos meses. Está claro que o regime sente-se muito irritado ante um gupo de artistas audaciosos e inteligentes, que conseguiram desnudar a hipocrisis de um governo que, em nome de sua revolução, impôs um sistema draconiano de repressão”, explicou ao Correio o argentino Juan Pappier, investigador sênior da HRW e autor do relatório.
Segundo Pappier, durante décadas, o governo cubano tem apresentado os opositores como golpistas ou mercenários que trabalham para o “império” — alusão aos Estados Unidos. “Com os artistas e jornalistas, o regime tenta o mesmo truque. No entanto, isso não funciona, pois estamos frente a artistas que realizam protestos totalmente pacíficos e que clamam por mais liberdade de expressão. Creio que, ante o grupo de artistas e jornalistas, o regime ficou sem um manual e mostrou-se incapaz de nada mais do que reprimir, reprimir e repimir”, afirmou.
Illiana admite que a repressão aos intelectuais e aos artistas de Cuba não é uma novidade. “Dessa vez, à raiz do aquartelamento de vários ativistas na sede do Movimento San Isidro (coalizão de cantores, pintores e outros artistas), criou-se um ambiente nacional e internacional de despertar nos cubanos em prol da luta pela liberdade em Cuba. Por temer um estalido social, o regime deteve alguns jovens para que servissem de exemplo”, comentou. A jornalista alerta que a juventude cubana não crê mais em ideologia nem em “conto de sereias”. “Os jovens desejam mudanças e mostram isso. A cada dia perdem o medo, e a ditadura sente isso.” (RC)
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“O nosso relatório é resultado de um acompanhamento constante, desde novembro do ano passado, sobre os abusos que o regime cubano tem cometido contra artistas
e jornalistas independentes. Temos documentado que muitos deles sofreram graves violações dos direitos humanos, incluindo rotineiras detenções arbitrárias, prisões domiciliares e restrições seletivas de acesso à internet e de dados móveis do celular. Os padrões nesses casos nos permitem concluir que não se trata de incidentes isolados, mas de abusos sistemáticos que parecem
formar parte de um plano para reprimir, de forma seletiva,
a crítica em Cuba.”
Juan Pappier, investigador sênior da Human Righs Watch (HRW)
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