A acadêmica e militante mapuche Elisa Loncón vai presidir a Convenção Constitucional chilena. Ela foi eleita, ontem, em segunda votação, após obter 96 dos 155 votos dos constituintes, na instalação dos trabalhos. “Essa Convenção vai transformar o Chile”, disse Loncón.
No discurso, a ativista indígena enfatizou que a confecção da nova Carta representará a pluralidade do país. Assinalou, ainda, que vai trabalhar para estabelecer os direitos sociais e para cuidar da Mãe Terra, incluindo o direito à água. A futura Constituição, que deverá ficar pronta em até um ano, substituirá a herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
“É um sonho de nossos antepassados, e esse sonho se realiza; é possível, irmãos e irmãs, colegas, refundar este Chile, estabelecer uma relação entre o povo Mapuche, as nações originárias e todas as nações que compõem este país”, destacou.
Elisa Loncón ocupa uma das 17 cadeiras reservadas aos povos originários na Convenção, instalada ontem. Ela subiu ao palco vestida com o traje típico e carregando uma bandeira mapuche, após iniciar sua saudação falando em mapudungún, a língua de seu povo.
A composição da Convenção é bastante heterogênea. Dos 155 integrantes (78 homens e 77 mulheres), muitos são independentes com afinidades de esquerda, sem experiência em cargos públicos e sem nenhuma lista que detenha maioria de um terço que outorga poder de veto, o que obrigará a realização de acordos.
“O país inteiro está representado e eles vão sentar para conversar, falar sobre o país que queremos. Pela primeira vez, vejo que há uma instância em que os poderes de fato não estão por trás”, disse o padre jesuíta Felipe Berríos, uma das vozes mais influentes do Chile, à agência de notícias France-Presse.
Ainda no início dos trabalhos, protestos causaram fortes tensões e provocaram um atraso de aproximadamente três horas na instalação da Convenção. Alguns constituintes criticaram a forma com que a polícia conteve os manifestantes. “Sem mais repressão!”, gritaram.
Houve confrontos entre as forças especiais da polícia e um grupo que tentou atravessar o cordão de segurança em torno dos jardins da antiga sede do Congresso em Santiago, local onde a cerimônia foi realizada.
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