PANDEMIA

Covid-19: EUA devem anunciar nova doação de vacinas ao Brasil

Depois de vacinar com ao menos uma dose quase 70% de sua população, os Estados Unidos têm se movido rapidamente para fazer frente à China na chamada "diplomacia de vacinas"

BBC
Mariana Sanches - @mariana_sanches - Da BBC News Brasil em Washington
postado em 07/07/2021 14:33 / atualizado em 07/07/2021 14:34
Pessoa recebe uma dose de vacina contra a covid-19
EPA

Nos próximos 15 dias, os Estados Unidos deverão fazer uma nova doação direta de vacinas contra a covid-19 ao Brasil. Pessoas envolvidas na negociação afirmaram à BBC News Brasil que o fabricante e a quantidade das doses cedidas dessa vez ainda não estão definidos pelas autoridades americanas, que tampouco anunciaram formalmente a doação.

Mas já se sabe que o imunizante deve ser da Pfizer ou da Janssen, duas das vacinas das quais os americanos dispõem e que já foram liberadas para aplicação na população tanto pela agência de vigilância sanitária brasileira, a Anvisa, quanto pela americana, a FDA.

Os americanos detêm ainda um estoque de cerca de 60 milhões de doses da AstraZeneca-Oxford, que aguarda autorização da FDA para ser remetida ao exterior pela Casa Branca.

Se concretizada, a nova remessa será a segunda grande doação direta de vacinas dos americanos ao Brasil. A primeira, de 3 milhões de doses da Janssen, vacina de dose única da Johnson & Johnson, foi anunciada no fim de junho e é, até o momento, a maior doação feita pelos Estados Unidos a um único país.

Mulher prepara dose de vacina da Janssen
EPA
Novos imunizantes doados pelos EUA ao Brasil serão da Janssen ou da Pfizer

Depois de vacinar com ao menos uma dose quase 70% de sua população, os Estados Unidos têm se movido rapidamente para fazer frente à China na chamada "diplomacia de vacinas".

Há duas semanas, o jornal O Globo publicou documentos do Itamaraty nos quais os diplomatas brasileiros relatavam sugestão de executivos da empresa chinesa Sinovac, desenvolvedora da Coronavac, para que integrantes do governo Bolsonaro moderassem o tom nas críticas à China para não complicar o envio de vacinas e insumos ao Brasil — mais da metade dos imunizantes aplicados no país até agora têm origem chinesa.

Diante da notícia, o assessor da Casa Branca para América Latina, Juan González, ironizou: "Cumpriremos (as doações) sem condições". As negociações pelas doses envolvem os gabinetes presidenciais dos dois países, além dos órgãos nacionais de saúde e a diplomacia de parte a parte.

Bolsonaro agradece em carta

Em 4 de julho, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido) enviou carta ao presidente americano, o democrata Joe Biden, por ocasião do dia da independência americana, em que parabenizava o país pela data e agradecia o envio de doses ao Brasil.

Os dois mandatários ainda não se falaram pelo telefone, mas essa é a quarta carta que Bolsonaro destina a Biden, depois de ser um dos últimos chefes de países do mundo a reconhecer a vitória eleitoral do democrata sobre o republicano Donald Trump, seu aliado.

Nessa semana, outros países da América do Sul, como Bolívia e Paraguai receberão 1 milhão de doses de imunizantes americanos. Colômbia e Equador também já foram contemplados.

No caso do Brasil, além da importância política do país na região, pesou na decisão de uma segunda doação a gravidade da condição sanitária brasileira, que já ultrapassou a marca de 520 mil mortes por covid-19, o segundo maior número absoluto de mortes no mundo.

O país sofre com a falta de imunizantes — apenas 37% da população recebeu ao menos uma dose. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado investiga a responsabilidade do governo federal na escassez de vacinas.

Desde fevereiro, o Itamaraty pedia por doses aos EUA. Inicialmente, o Brasil tentou negociar a compra do excedente de imunizantes americano, o que não se mostrou viável.

A doação via Covax Facility, consórcio global de vacinas da Organização Mundial da Saúde, chegou a ser aventada, e parte de um lote de 25 milhões de doses americanas deve ser alocada pelo Covax, mas a solução demonstrou ter problemas para uma distribuição rápida do material entre diferentes países. Por isso, os americanos têm optado por doação bilateral.

A nova doação deve ser retirada pelo Brasil em território americano. A empresa aérea Azul Linhas Aéreas ou a Força Aérea do Brasil ficarão responsáveis pelo transporte.

Os americanos também já sinalizaram que poderão rever o destino de um lote de 20 milhões de doses, com vencimento previsto para setembro, originalmente encaminhado para o Covax Facility.

As dificuldades de distribuição do consórcio podem levar à perda do prazo de validade dos imunizantes e o Brasil já se apresentou como candidato para ficar com ao menos parte das doses próximas do prazo de vencimento.


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